Pages

terça-feira, 8 de março de 2011

A LITERATURA PLOC


O barulho de ploc! De bola de chiclete estourando. De vazio. A sacada não é minha, mas do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, que, nas páginas do Jornal do Brasil, se apropriou dessa interjeição como melhor forma para definir a ausência de vida inteligente na televisão brasileira atual.
Pois a interjeição ploc pode perfeitamente ser empregada ao que acontece em parte do mercado editorial tupiniquim nos últimos tempos. Enxurradas de livros pseudo-esotéricos e de auto-ajuda continuam a inundar as prateleiras. Estes, somados a inconsistentes lançamentos na área de ficção e não-ficção, os quais nos são vendidos como verdadeiras obras-primas, formam uma imensa bola de chiclete que, na primeira alfinetada, produzirá um ruidoso ploc.
O temor de que o ploc se transforme em megaploc surge agora com a entrada maciça de enormes editoras estrangeiras encampando editoras nacionais. A pretexto de promoverem um saneamento nas finanças das empresas que incorporam, elas fazem na verdade um radical enxugamento dos catálogos, além de promover uma orientação que visa apenas as leis e oscilações do mercado. Sobretudo o mercado de modismos. A nova ordem é tirar de catálogo o que não dê lucro, empreender uma agressiva estratégia de divulgação e marketing que transforme cada vez mais o livro em mero objeto disposto em uma prateleira como um pote de requeijão. Este comportamento acentuado pelos editores internacionais dá a falsa impressão de que as enormes feiras de livros espalhadas pelo Brasil afora são um enorme sucesso.
A literatura e a indústria editorial ploc não têm formado novos leitores. Contribuem, quando muito,  para colocar entre as prateleiras novos consumidores ávidos por saber os altos e baixos da vida de Sílvio santos ou as dicas de Silvia Poppovic sobre sabe-se lá o quê. Se isso é o que vende, então que seja despojado aos borbotões.
Ninguém aqui espera que, do dia para a noite, Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro ou Ariano Suassuna passem a vender que nem sanduíche de lingüiça em porta de estádio. Ninguém imagina que leitores se estapearão na porta das livrarias em busca de exemplares de Joseph Conrad, Henry James, Albert Camus ou Marcel Proust. Mas, se não ficarmos atentos, a literatura ploc, promovida pelas novas corporações que tomam conta do mercado editorial brasileiro, fará com que os autores acima citados sejam cada vez menos conhecidos.
Se crime, Rap, sangue, gravidez na adolescência, discussão sobre drogas e fofocas envolvendo famosos dão dinheiro, dá-lhe ploc. Se narrativas lineares, desprovidas de qualquer charme ou humanismo, estão pela ordem do dia, dá-lhe ploc. Se poesia não vende, esqueça. Se o must é ser cool, dá-lhe qualquer jovem autor francês ou inglês. De preferência aqueles que curtam música tecno e tenham um olhar indiferente sobre o mundo. Com tanto bum!, provocado pelas bombas da intolerância mundo afora, o mercado editorial brasileiro – mais globalizado do que nunca – já tem uma resposta: ploc, ploc e ploc.

Ricardo Soares

Ricardo Soares é jornalista, escritor e diretor do programa
Caminhos e Parcerias da TV Cultura de São Paulo.
 Dirige e apresenta o programa
Literatura na Rede Sesc/Senae de TV.

Nenhum comentário:

Postar um comentário