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domingo, 19 de agosto de 2012

A FARSA DE INÊS PEREIRA - GIL VICENTE


Gil Vicente foi acusado de plagiar obras do teatro espanhol de Juan del Encina. Em vista disso, pediu para que aqueles que o acusavam dessem um tema para que ele pudesse, sobre ele, escrever uma peça. Deram-lhe o seguinte ditado popular como tema: “Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube”.
No auge de sua carreira dramática, sobre este tema, Gil Vicente criou A Farsa de Inês Pereira, respondendo assim àqueles que o acusavam de plágio. A peça foi apresentada pela primeira vez para o rei D. João III, em 1523.
A Farsa de Inês Pereira é considerada a peça mais divertida, complexa e humanista de Gil Vicente. O aspecto humanístico da obra vê-se pelo fato de que a protagonista trai o marido e não recebe por isso nenhuma punição ou censura, diferentemente de personagens de O Auto da Barca do Inferno e O Velho da Horta, que são castigadas por fatos moralmente parecidos. A Farsa de Inês Pereira é composta de três partes:
            
1. Inês fantasiosa
2. mal-maridada
3. Inês quite e desforrada

Personagens:
Inês Pereira: jovem esperta que se aborrece com o trabalho doméstico. Deseja ter liberdade e se divertir. Sonha casar-se com um marido que queira também aproveitar a vida.
Mãe de Inês: mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com um homem de posses.
Leonor Vaz: fofoqueira, encarregava-se normalmente em arranjar casamentos e encontros amorosos.
Pero Marques: primeiro pretendente de Inês rejeitado por ser grosseiro e simplório, apesar da boa condição financeira. Foi seu segundo marido.
Latão e Vidal: judeus casamenteiros, assim como Leonor.
Brás da Mata: escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês.
Moço: criado de Brás.
Ermitão: antigo pretendente de Inês e amante depois de seu casamento com Pero.
Fernando e Luzia: amigos e vizinhos da mãe de Inês.
           
Resumo:           
            Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.
            O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que satisfazia a idéia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela moça.
            Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe.
            Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta.
            Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde.
            Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante. 
            Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube".



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