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sexta-feira, 8 de junho de 2012

DIALOGISMO - a partir de várias visões


1.   Dialogismo
1. arte de dialogar
2. género de diálogo
3. figura de estilo que consiste em apresentar as ideias das personagens em forma de diálogo
4. FILOSOFIA método socrático de estudo, por meio de diálogos
5. interação de diversos discursos ou textos na produção e na receção de um texto
Ato de dialogar
dialogicidade entre educando e educador

*O texto que segue não é parte da obra organizada por
BETH  BRAIT.


Apenas para ilustrar o texto
                       VISÃO I    

     DO DIALOGISMO PENSADO POR BAKHTIN

A língua é um elemento de comunicação e interação e em seu uso real, tem a propriedade de ser dialógica.
Todos os enunciados no processo de comunicação, independentemente de sua dimensão, são dialógicos. Neles, existe uma dialogização interna da palavra, que é perpassada sempre pela palavra do outro, é sempre e inevitavelmente também a palavra do outro. O enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, que está presente no seu. Todo discurso é atravessado, pelo discurso alheio. Nenhum discurso é só meu sempre tem a voz do outro. Portanto, o dialogismo é as relações de sentido que se estabelecem entre dois enunciados.
A realidade apresenta-se para nós sempre semioticamente, ou seja, lingüisticamente.
Não há nenhum objeto que não apareça cercado, envolto, embebido em discursos. Todo discurso que fale de qualquer objeto não está voltado para a realidade em si, mas para os discursos que a circundam. Toda palavra dialoga com outras palavras, constitui-se a partir de outras palavras, está rodeada de outras palavras, um discurso constitui-se a partir do outro.
 Para Bakthin, não são as unidades da língua que são dialógicas, mas os enunciados. Os enunciados são unidades reais de comunicação. Os enunciados são irrepetíveis, uma vez que é acontecimentos únicos, cada vez tendo um acento, uma apreciação, uma entonação própria.
O autor mostra que a fonologia, a morfologia ou a sintaxe não explicam o funcionamento real da linguagem. Cria então, a translingüística, que teria como objeto o estudo dos enunciados, o que significa dizer o exame das relações dialógicas entre eles, dado que são necessariamente dialógicos. Bakhtin tinha em mente construir uma ciência que fosse além da lingüística, examinando o funcionamento real da linguagem em sua unicidade e não somente o sistema virtual que permite este funcionamento. O objeto da translinguística são os aspectos e a forma das relações dialógicas entre os enunciados e suas formas tipológicas.
O enunciado é a réplica do de um diálogo, pois cada vez que se produz um enunciado o que se está fazendo é participar de um diálogo com outros discursos.
O que é constitutivo do enunciado é que ele não existe fora das relações dialógicas. Nele estão sempre presentes ecos e lembranças de outros enunciados, com que ele conta, que ele refuta, confirma completa, pressupõe e assim por diante.
Os enunciados têm autor. Por isso, revelam uma posição. Ao ganhar um autor, torna-se um enunciado e significa que a pessoa que o pronunciou está rendendo-se. O Enunciado, entretanto, sendo uma réplica, tem um acabamento específico que permite uma resposta.
As unidades da língua não são dirigidas a ninguém, ao passo que os enunciados têm um destinatário. Quando a palavra é assumida por alguém e ganha um acabamento específico ela se converte em enunciado e, portanto, passa a ser dirigida a alguém. As unidades da língua são neutras, enquanto os enunciados carregam emoções, juízos de valor, paixões. Elas sendo entidades potenciais, têm significação, que é depreendida da relação com outras unidades da mesma língua ou de outros idiomas. Os enunciados tem sentido, que é sempre de ordem dialógica.
Todo enunciado é dialógico. Portanto, o dialogismo é o modo de funcionamento real da linguagem, é o princípio constitutivo do enunciado. Todo enunciado constitui-se a partir de outro enunciado, é uma réplica a outro enunciado. Portanto, nele ouvem-se sempre, ao menos, duas vozes. Mesmo que elas não se manifestem no fio do discurso, estão ali presentes.
Um enunciado é sempre heterogêneo, pois ele revela duas posições, a sua e aquela em oposição à qual ele se constrói. Ele exibe seu direito e seu avesso.
Os enunciados são sempre o espaço de luta entre vozes sociais, o que significa que é inevitavelmente o lugar da contradição. O que é constitutivo das diferentes posições sociais que circulam numa dada formação social é a contradição.
Todos os fenômenos presentes na comunicação real podem ser analisados à luz das relações dialógicas que os constituem.
Todo enunciado se dirige não somente a um destinatário imediato, cuja presença é percebida mais ou menos conscientemente, mas também a um superdestinatário, cuja compreensão responsiva, vista sempre como correta, é determinante da produção discursiva. A identidade deste superdestinatário varia dentro das instituições que se fala sobre isso, portanto os enunciados são sociais.
O sujeito bakhtiniano não está completamente dominado aos discursos sociais, ele é único e tem um espaço para a individualidade.
Então o primeiro conceito de dialogismo diz respeito ao modo de funcionamento real da linguagem: todos os enunciados constituiem-se a partir de outros. Neles, atuam forças centrípetas e centrífugas em busca de centralizar o enunciado do plurilinguismo da realidade; estas buscam erodir, principalmente se contrapõe com o riso, essa tendência centralizadora.
Com os conceitos de forças centrípetas e forças centrífugas, Bakhtin desvela o fato de que a pluralidade de vozes está submetida ao jogo de poder. Elas têm uma dimensão política, uma vez que as vozes não circulam fora do exercício do poder: não se diz o que se quer, quando se quer, como se quer.
Falar em dialogismo constitutivo pensa-se em relações com enunciados já constituídos e, portanto, anteriores e passados. No entanto, um enunciado se constitui em relação aos enunciados que o precedem e que o sucedem na cadeia de comunicação. Um enunciado solicita uma resposta, uma resposta que ainda não existe, seja ela uma concordância ou uma refutação.
O Interlocutor é sempre uma resposta, um enunciado e por isso, todo dialogismo são relações entre enunciados.
O segundo conceito de dialogismo trata-se da incorporação pelo enunciador da voz ou das vozes de outro (s) no enunciado. Nesse caso, o dialogismo é uma forma composicional. São maneiras externas e visíveis de mostrar outras vozes no discurso (é marcado no texto, tem intertextualidade).
O dialogismo vai além dessas formas composicionais, ele é o modo de funcionamento real da linguagem, é o próprio modo de constituição do enunciado.
Há duas maneiras de inserir o discurso do outro no enunciado:
a)      O discurso alheio é abertamente citado e nitidamente separado do discurso citante, é o que Bakhtin chama discurso objetivado;
b)      É bi vocal, internamente dialogizado, em que não há separação muito nítida do enunciado citante e do citado.
No primeiro caso, existem: discurso direto (aspas, travessões, verbos introdutores), discurso indireto (verbos introdutórios, conjugações integrantes), aspas, negação. O segundo pode ser exemplificado pela paródia, pela estilização (afirmam a mesma coisa), pela polêmica clara ou velada, pelo discurso indireto livre.
No discurso alheio demarcado, há vozes nitidamente demarcadas no discurso, pelo discurso direto e discurso indireto. Pelas aspas que servem para demarcar o discurso do outro. Pela negação, onde duas vozes se confrontam. O discurso do outro é demarcado por contornos exteriores bem nítidos.
Em todos estes casos, há uma demarcação clara das vozes, por meio de fronteiras lingüísticas claras.                         
No discurso alheio não demarcado não temos demarcações nítidas entre as vozes. Elas misturam-se, mas, apesar disso, são claramente percebidas. Através do discurso indireto livre, onde há duas vozes no texto: A técnica usada pelo narrador para mostrar o que a personagem
estava pensando. Nessa forma de citação do discurso alheio, misturam-se duas vozes. Não há indicadores – como os dois pontos e o travessão do discurso direto ou a conjunção integrante do discurso indireto – para demarcar nitidamente onde começa a fala do narrador e onde inicia a da personagem.
Também pela polêmica clara que é o afrontamento de duas vozes que polemizam abertamente entre si, cada uma delas defendendo uma idéia contrária à da outra, pela polêmica velada onde se percebe na construção discursiva que há duas vozes em oposição, pela paródia que é uma imitação de um texto ou de um estilo que procura desqualificar o que está sendo imitado, ridicularizá-lo, negá-lo. O Sentido do poema parodiante é contrário ao do parodiado, pela estilização que é a imitação de um texto ou estilo, sem a intenção de negar o que está sendo imitado, de ridicularizá-lo, de desqualificá-lo. Na estilização as vozes são convergentes na direção do sentido, as duas apresentam a mesma posição significante e pelo estilo que é o conjunto de procedimentos de acabamento de um enunciado. Portanto, são os recursos empregados para elaborá-lo, que resultam de uma seleção dos recursos lingüísticos à disposição do enunciador. Isso significa que o estilo é o conjunto de traços fônicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, lexicais, enunciativos, discursivos, etc., que definem a especificidade de um enunciado e, por isso, criam um efeito de sentido de individualidade. O Estilo é o conjunto de particularidades discursivas e textuais que cria uma imagem do autor, que é o que denominamos efeito de individualidade. Os imitadores, os que parodiam os falsificadores em pintura, os covers, etc. "copiam" exatamente esse conjunto de traços, o estilo daquele que é imitado, falsificado, etc. "O estilo é o próprio homem". O estilo é resultante de uma visão de mundo. Assim como a cosmo visão estrutura e unifica o horizonte do ser humano, o estilo estrutura e unifica os enunciados produzidos pelo anunciador.
Para Bakhtin, o estilo define-se dialogicamente, o que quer dizer que ele depende dos parceiros da comunicação verbal, dos discursos do outro. O estilo constitui-se em oposição a outros estilos.
Se o estilo é constitutivamente dialógico, ele não é o homem, são dois homens, se cria pelas relações dialógicas. Como qualquer enunciado, ele revela o direito e o avesso. O estilo é um dos componentes do gênero. Há, assim, um estilo do gênero e, dentro do gênero, podem aparecer os estilos que criam os efeitos de sentido de individualidade.
Ainda temos a intertextualidade introduzida no universo bakhtiniano por Júlia Kristeva, na revista Critique em 1967, este conceito está dentro do dialogismo marcado onde a semiótica diz que o discurso literário não é um ponto, um sentido fixo, mas um cruzamento de superfícies textuais, um diálogo de várias escrituras, um cruzamento de citações.
Ela vai chamar de "texto" o que Bakhtin denomina "enunciado", ela acaba por designar por intertextualidade a noção de dialogismo. O termo "intertextualidade" passa a substituir a palavra dialogismo. Qualquer relação dialógica é denominada intertextualidade.
Esse uso é equivocado porque há, em Bakhtin, uma distinção entre texto e enunciado. Este é um todo de sentido, marcado pelo acabamento, dado pela possibilidade de admitir uma réplica. Ele tem uma natureza dialógica. O enunciado é uma posição assumida por um enunciador, é um sentido. O texto é a manifestação do enunciado, é uma realidade imediata, dotada da materialidade, que advém do fato de ser um conjunto de signos. O enunciado é da ordem do sentido; o texto, do domínio da manifestação. Para o autor russo, o texto não é exclusivamente verbal, pois é qualquer conjunto coerente de signos, seja qual for sua forma de expressão (pictórica, gestual, etc.).
Se há relações dialógicas entre enunciados e entre textos. Devem-se chamar intertextualidade apenas as relações dialógicas materializadas em textos. Toda intertextualidade implica a existência de uma interdiscursividade (relações entre enunciados), mas nem toda interdiscursividade implica uma intertextualidade. Quando um texto não mostra, no seu fio, o discurso do outro, não há intertextualidade, mas há interdiscursividade.
Por outro lado, Bakhtin diz que há relações entre textos e dentro dos textos. Isso significa que se deve diferençar a intertextualidade da intratextualidade. Assim, quando duas vozes são mostradas no interior do texto, como no discurso direto, no indireto ou no indireto livre, não se deve falar em intertextualidade.
Intertextualidade deveria ser a denominação de um tipo composicional de dialogismo: aquele em que há no interior do texto o encontro de duas materialidades lingüísticas, de dois textos. Para que isso ocorra, é preciso que um texto tenha existência independente do texto que com ele dialoga.
O Texto "Ouvir estrelas" de Bastos Tigre é uma paródia do texto "Ouvir estrelas" de Bilac, pois inverte completamente o sentido do texto bilaquiano. Trata-se da intertextualidade porque, no segundo texto, encontram-se duas materialidades lingüísticas, o texto de Bilac e o de Bastos Tigre.
No terceiro conceito de dialogismo a subjetividade é constituída pelo conjunto de relações sociais de que participa o sujeito. Para Bakhtin o sujeito não é totalmente autônomo e individualizado. Ele constitui-se em relação ao outro. Isto significa que o dialogismo é o princípio de constituição do indivíduo e o seu princípio de ação.
A consciência constrói-se na comunicação social, ou seja, na sociedade, na História. Por isso, os conteúdos são sempre uma visão da realidade. A apreensão do mundo é sempre situada historicamente, porque o sujeito está sempre em relação com outro (s). O sujeito vai construindo-se discursivamente, aprendendo as vozes sociais que constituem a realidade em que está imerso.
O sujeito não absorve apenas uma voz social, mas várias, que estão em relações diversas entre si. Portanto, o sujeito é constitutivamente dialógico. Seu mundo interior é constituído de diferentes vozes em relações de concordância ou discordância. O mundo exterior não está nunca acabado, fechado, mas em constante vir a ser. Algumas vozes de autoridade são assimiladas sem saber o porquê, sem pensar, e outras são vistas como persuasivas como liberdades de escolha.
Sendo consciência sociossemiótica, ou seja, formada de discursos sociais, o que significa que seu conteúdo é sígnico, cada indivíduo tem uma história particular de constituição de seu mundo interior, pois ele é resultante do embate e das inter- relações desses dois tipos de vozes. Quanto mais a consciência for formada de vozes de autoridade, mais ela será mono lógica, ptolomaica. Quanto mais for constituída de vozes internamente persuasivas, mais será dialógica, galileana.
O sujeito não é completamente assujeitado, pois ele participa do diálogo de vozes de uma forma particular, porque a história da constituição de sua consciência é singular.
A realidade é centrífuga, o que significa que ela permite a constituição de sujeitos distintos, porque não organizados em torno de um centro único. Cada sujeito é único e singular.
A História não é exterior ao sentido, mas é interior a ele, pois ele é histórico, já que se constitui fundamentalmente no confronto, na contradição, na oposição das vozes que se entrechocam na arena da realidade.
Analisando o capítulo estudado da obra de Bakhtin percebo que suas idéias são atuais, que a linguagem é um fator determinante para a formação do pensamento, e que o autor não se interessa pelo sistema de normas da língua, mas sim, pela conexão que a linguagem faz com as atividades humanas, seu processo de produção no uso. E ela é concebida como o somatório da interação entre no mínimo duas vozes (eu e o outro), e que toda a compreensão de um texto implica em uma responsabilidade, e, por conseqüência, um juízo de valor, uma visão do mundo individualizada. O leitor concorda ou discorda, total ou parcialmente, etc. Todo o discurso é uma resposta a outro discurso, portanto um entrecruzamento de pensamentos.     Quando se compreende um texto, tem-se o diálogo com o texto, com o escritor e com outros textos similares já lidos pelo leitor. Com isso, dizemos que a leitura de uma obra é sócio-cultural.
Os gêneros textuais estabelecem uma conexão da linguagem com a vida em sociedade. A linguagem permite várias estratégias que fazem o homem exprimir-se sem limites de compreensão.
O dialogismo é o fenômeno que ocorre em todo e qualquer discurso, um discurso se encontra com o discurso de outra pessoa, focalizando as interações das vozes com o contexto em que estão inseridas, incorporando todos os gêneros, mesclando alternando estilos, entrelaçando-os, sem se prender a imposições limitantes.
Todos os processos de comunicação independentemente de sua dimensão, são dialógicos.   Um enunciado não existe fora do dialogismo. No enunciado estão presentes ecos e lembranças de outros enunciados. As unidades da língua, não têm autoria, uma vez que qualquer um pode falar uma palavra. Já um enunciado tem um autor: "Fulano disse que…"
Para Bakhtin, a maioria das opiniões dos indivíduos é social, porém o diálogo não é totalmente sujeito aos discursos sociais, ou não haveria liberdade. Para Bakhtin, cada ser humano é social e individual.
O discurso literário não é um ponto, um sentido fixo, mas um cruzamento de superfícies textuais, um dialogo de vários escritos, um cruzamento de citações. Intertextualidade foi designada por Júlia Kristeva, em 1967, e, em suma, é a mesma coisa que dialogismo, porém com um nome diferente.
Diante disto, entendo que a sala de aula é um lugar de encontro de diferentes vozes, as quais mantêm relações de controle, negociação, compreensão, concordância, discordância, discussão. Neste espaço, a aprendizagem é uma atividade social de construção em conjunto, resultante das trocas dialógicas, uma vez que, na perspectiva bakhtiniana, o significado não é inerente à linguagem, mas elaborado socialmente.
No que tange ao ensino de língua materna, Bakhtin fala que ela não é aprendida por meio de dicionários e gramáticas; ela é adquirida durante nossas interações verbais, por meio de enunciados.
FIORIN, José Luiz. O dialogismo. In: Introdução ao Pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006. P.18 -59.


VISÃO II



O conceito de dialogismo foi elaborado pelo linguista russo Mikhail Bakhtin, que o explica como o mecanismo de interação textual muito comum na polifonia, processo no qual um texto revela a existência de outras obras em seu interior, as quais lhe causam inspiração ou algum influxo.
O dialogismo está presente tanto nas obras impressas como na própria leitura, esferas nas quais o discursonão é observado em um contexto de incomunicabilidade, mas sim em constante ação recíproca com textos semelhantes e/ou imediatos. Este elemento aparece quando se instaura um processo de recepção e percepção de um enunciado, que preenche um espaço pertencente igualmente ao locutor e ao locutário.Assim, os participantes de uma conversação elaboram um fluxo dialógico ao posicionarem o ato da linguagem em uma interação frente a frente. Bakhtin acredita que o diálogo engloba qualquer transmissão oral, de toda espécie. Este conceito é praticamente a alma de sua teoria linguística.
Para o estudioso russo, todos os personagens que circulam no âmbito da linguagem constituem elementos sociais e históricos que têm o poder de conferir significados reais e se estruturam regularmente na obra ficcional, expressando seus pontos de vista sobre a realidade concreta.
Bakhtin identifica no romance os diálogos puros, além da inter-relação dialogizada e da hibridização, que pode ser definida como uma miscelânea de duas linguagens, sendo considerada uma das vertentes mais importantes do mecanismo de modificação dos meios de expressão do pensamento.
A hibridização dos diálogos prepondera na análise da obra; ela é compreendida como um processo de aliança que procura elucidar uma linguagem com o auxílio de outra e, assim, estrutura a representação natural e vivaz desta outra forma de expressão. É fundamental que se utilize, neste procedimento, o uso de diversas linguagens, para esclarecer ainda mais o texto original.
O linguista russo salienta também a importância da estilização, um recurso dialógico interior que produz um estilo renovado, com significância e destaque nascentes. Esta linguagem surge com ecos peculiares, pois enquanto alguns de seus aspectos são iluminados, outros são preservados imersos em névoas.
A paródia é outro recurso específico, no qual o dialogismo por ela simbolizado desvela o texto que está sendo figurado. As mais variadas linguagens regidas pelas inter-relações, aspirações orais e racionais que residem nos enunciados estão situadas no espectro que se desenrola entre a estilização e a paródia.
O dialogismo não se desenvolve apenas socialmente, mas igualmente na esfera temporal, na dinâmica da vida e da morte. A convivência entre as pessoas e a progressão no tempo se aliam na unicidade consistente de uma multiplicidade paradoxal, a qual se manifesta por meio de variadas linguagens.

Fonte: http://www.infoescola.com/linguistica/dialogismo





VISÃO III

AS IDEIAS LINGUÍSTICAS DO CÍRCULO DE BAKHTIN

APENAS PARA ILUSTRAÇÃO

A proposta hoje é sintetizar as principais ideias e conceitos do Círculo de Bakhtin, apontados por Carlos Alberto Faraco no segundo capítulo da obra “Linguagem & Diálogo: As ideias do Círculo de Bakhtin”, denominado “Criação Ideológica e Dialogismo”. O chamado Círculo de Bakhtin trata-se, explica o autor, de um grupo multidisciplinar de intelectuais russos que se reuniam regularmente entre 1919 e 1929. Para Faraco, porém, três desses intelectuais merecem atenção – Bakhtin, Voloshinov e Medvedev –, não só devido à confusão de autoria dos textos, mas também pela representatividade desses a cerca do pensamento do Círculo.
Primeiramente, Faraco acredita necessário esclarecer o sentido do emprego do termo ideologia nos textos do Círculo. Visto que os estudos do grupo se voltam para o universo da criação ideológica, costumeiros mal-entendidos acarretam interpretações errôneas, de sentido restrito e até negativo das ideias cruciais desses estudiosos. Assim, Faraco firma que ideologia é o nome que o Círculo costuma dar, então, para o universo que engloba a arte, a ciência, a filosofia, o direito, a religião, a ética, a política, ou seja, todas as manifestações superestruturais (p.46).
Visto o sentido da palavra “maldita”, Faraco ocupa-se em explanar que para o Círculo todo e qualquer enunciado se dá na esfera de uma das ideologias, ou seja, no interior de uma das atividades humanas. Sendo o sujeito um ser social, imerso em uma determinada cultura, logo todo enunciado expressa consigo o posicionamento do sujeito, com o que, para o Círculo não há enunciado neutro. Tudo que é ideológico possui um significado e é, portanto, um signo, conclusão que se reflete na afirmativa de Bakhtin que diz que sem signo não existe ideologia, firmando com isso que o universo da criação ideológica é de natureza semiótica.
Os signos, para o Círculo de Bakhtin, realizam duas operações simultâneas: refletem e refratam o mundo, sendo a refração uma condição necessária do signo: não é possível significar sem refratar. Faraco explicita que isso se dá porque as significações não estão no signo em si, mas são construídas na dinâmica da história e estão marcadas pelas diversificadas experiências dos sujeitos, com seus valores, contradições e interesses sociais (p.51). Com a dinâmica da história, cada grupo em cada época recobre o mundo com múltiplas significações e diferentes vozes sociais que participam dos processos de significações, daí resultando as inúmeras semânticas, as várias verdades, os vários pontos de vista e posições com que atribuímos sentido ao mundo (p.52). Esses novos aspectos, segundo aponta Faraco, dão significado ao que Bakhtin chama de línguas sociais – complexos semióticos axiológicos com os quais determinado grupo humano diz o mundo (p.56).
Elemento também forte do pensamento do Círculo é a dialogização das vozes sociais que é, em poucas palavras, a dinâmica, a relação dialógica estabelecida no encontro sociocultural dessas vozes que se dão em uma intrincada cadeia responsiva – os enunciados, ao mesmo tempo que respondem ao já dito (não há uma palavra que seja a primeira ou a última), provocam continuamente as mais diversas respostas (p.58). Para caracterizar essa dinâmica inerente à criação ideológica, o Círculo de Bakhtin adota, então, a metáfora do diálogo que, conforme Faraco, dará um arremate às reflexões do Círculo sobre a linguagem e sobre a criação ideológica em sua totalidade [...] (p.73). Para Bakhtin a vida humana é dialógica e ser significa se comunicar, o que resulta no que Faraco chama de utopia bakhtiniana de um mundo polifônico. O termo polifônico a que se refere Bakhtin vai além do conceito da multiplicidade de línguas sociais, pois se trata de um mundo de vozes plenivalentes em relações dialógicas infindas (p.79).
Exposto que ser é se comunicar, Faraco parte para a noção de lógica do sujeito ideológico. O sujeito, mergulhado nessas múltiplas interações socioideológicas vai se constituindo discursivamente, assimilando e internalizando vozes sociais múltiplas. Com isso afirma o Círculo que nossos enunciados emergem da multidão das vozes interiorizadas, mas, esclarece Faraco recusando o determinismo absoluto e afirmando a singularidade, afirma o Círculo também que cada ser humano ocupa um lugar único e insubstituível, na medida em que cada um responde às suas condições objetivas de modo diferente de qualquer outro (p.86). O sujeito tem, desse modo, a possibilidade de singularizar-se, de assumir a posição autoral. O autor criador para o Círculo é entendido como uma posição estético-formal cuja característica básica está em materilaizar certa relação axiológica com o herói e seu mundo (p.89). O autor criador, segundo o Círculo, não é passivo, não se presta ao papel especular de mero registro da vida. Ele os recorta e os reorganiza esteticamente a partir de sua posição axiológica, refratando e refletindo a realidade.
Bakhtin foi, portanto muito além da filosofia das relações ideológicas criada por ele e por seu círculo e se pôs a sonhar com a possibilidade de um mundo radicalmente democrático, pluralista, de vozes eqüipolentes, em que, dizendo de modo simples, nenhum ser humano é reificado; nenhuma consciência é convertida em objeto de outra; nenhuma voz social se impõe como a última e definitiva palavra. (p.79).
Encerrando o capítulo, Faraco aponta que o todo estético condensa uma complexa rede de relações axiológicas envolvendo três grandes constituintes imanentes: o autor, o receptor e o herói (p.97). Com isso fica claro que a ideia central do Círculo é a função social do sujeito, ou a sua condição e constituição social inegável,  pois,  como afirmado em Marxismo e a Filosofia da Linguagem, na constituição do sujeito o signo ideológico parte do exterior para o interior, ou seja, do social para o individual, e a palavra nada mais é do que produto de interação viva das forças sociais.


Fonte:
http://culturadetravesseiro.blogspot.com.br/2011/04/linguagemedialogoideiasdebakhtinfaraco.html




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