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domingo, 20 de novembro de 2011

HOMOSSEXUALIDADE RETRARADA EM O CORTIÇO

Márcia Jovelina de Jesus

RESUMO

Este artigo versa sobre o homoerotismo feminino retratado no universo naturalista em O Cortiço de Aluísio de Azevedo, a saber: Pombinha e Léonie, visando identificar acerca das condições da mulher lésbica no naturalismo da obra supracitada.

PALAVRAS – CHAVE: Homoerotismo; naturalismo; sedução.

Arrancou-lhe até a última vestimenta e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empogar-lhe os lábios, o róseo do peito (...), deixando ver preciosidades de nudez fresca e virginal (...). (ALUISIO AZEVEDO, O Cortiço, cap. XI, p.136).
Espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao passo que a outra, por doida de luxuria, irracional, feroz, reluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando. E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas e esmagavava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros (...) devorou-a num abraço (...) ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos. (Idem, ibidem cap. XI, pág.137).

INTRODUÇÃO

A relação homoérotica nos estudos literários do naturalismo é visto como desvio, anormal, patológico. A necessidade de estudar como o naturalismo mostrava a questão da homossexualidade.
Artigo apresentado ao professor Drº Vitor Hugo Fernandes Martins, do ComponenteCurricular Estudo da Produção Literária no Brasil, do Curso de Letras Vernáculas, da Universidade do Estado da Bahia, Campus XXI, como requisito para complementação de nota.
Neste artigo propõe análise acerca das personagens: Pombinha e Léonie, reflexão sobre essa predileção sobre o negativo da vida (perversão, desvio, patológico no romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo).
ALUÌSIO Tancredo Gonçalves de AZEVEDO (1857-1913), nascido em São Luís capital do Maranhão. Caricaturista, contista, cronista, escritor, jornalista, romancista, teatrólogo. "Principal figura bem sucedido do romance naturalista brasileiro", desta forma é classificado pelos críticos, O Cortiço, faz com que o autor chegue ao ápice.
O romance descreve as chagas e mazelas da sociedade. Não pretendemos esgotar todas as possibilidades de análise da obra. Porém almejamos analisar o homoérotismo nas personagens Pombinha e Léonie.
Para fazer esse estudo recorremos a quatro teóricos, a saber: Afrânio Coutinho, (2004); Nelson Sodré, (2002); Alfredo Bosi, (2003); Domicio Proença filho, (2004). Autores que contribuíram para o nosso estudo. A edição por nós utilizada para o nosso artigo foi Azevedo, Aluísio. O Cortiço, 10ª edição. Editora Avenida, Jaraguá do Sul – SC, 2009. Coleção Grandes Obras da Língua Portuguesa.
No que se refere às partes do artigo é importante ressaltar que o nosso artigo será composto de uma seção dividida em três subseções. Em l-Intitulada A REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA (FICCIONAL) NO HOMOSSEXUALISMO, analisará de que forma o homossexualismo é representado no naturalismo brasileiro; na subseção l. 1 HOMOSSEXUALIDADE RETRATADA EM O CORTIÇO, faremos estudo do comportamento acerca das personagens; na l.2 LÉONIE, trataremos e analisaremos a personagem citada. L.3 POMBINHA, estudaremos a tradição e ruptura provocada pelo comportamento da personagem.

l. A REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA (FICCIONAL) NO HOMOSSEXUALISMO

No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade e tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados. A exclusão do homossexual é bastante antiga, entretanto o naturalismo acrescenta elementos que mostram essa predileção em retratar mazelas e chagas da sociedade.

Enquanto o Romantismo se volta para o passado ou o futuro (idealizados), o Realismo denuncia as desigualdades sociais de sua época.

l. 1.  HOMOSSEXUALIDAE RETRATADA EM O CORTIÇO

As vertentes naturalistas com o cientificismo/ evolucionismo destacam as idéias de Hipólito Taine, que estabelecia concepção determinada por três forças: a "raça" fundamento biológico; o "meio", aspectos físicos e sociais; e o "momento", resultado de sucessões históricas. Há uma sondagem genética que causam exclusão, descriminação daqueles que seriam as "problemáticas" ou defeituosas".
Na verdade, o descretivismo e o determinismo aparecem na obra assim, como no naturalismo. Ocorre o zoomorfismo,os quais os personagens são caracterizados sob forma animal. Os naturalistas acreditavam ser, o individuo responsável pela sua condição social, étnica, histórica, política, econômica e que o ambiente determinaria sua personalidade. Aluísio Azevedo seguia as idéias de Hipólito Taine e Émile Zola.
O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.
Romance publicado em 1890, causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual.
Abordaremos a homossexualidade de Léonie e Pombinha, cabe-nos uma breve discussão, Léonie si configura como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais.
O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estrupos, homicídios ocorrem sem justificativa.

l. 2 LÉONIE

Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais por si tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela.

A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos.
O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se.
(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro (AZEVEDO, 2009, p.105).
Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente:
O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108)
Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109)
(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139)
Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.
-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por ti!(p.135)
E, num relance, desfez para o lado, examine, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado. (p.136-137)
No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga ás vontades da afilhada utilizando discurso sedutor: Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).

l. 3 POMBINHA

Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereotipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.
A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dão em conseqüência de um estupro.]Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual,desumana.
A moral crstã do naturalismo aniquila com os padrões quaiquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem.

A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os estudiosos para a formação da personalidade De Pombinha.
Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.
Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica.
"A folha era a flor do cortiço (...)".(p.37)
" As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade".(p.38). Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando mênstruo, todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e pássaro pudesse finalmente voar.
"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor(...)" (p.135)
A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistavatodos os homens.
Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie. "Acadeia continuava e continuaria interminavelmente;o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobremenina desamparada, que se fazia mulher"(p.236)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do exposto acima, percebemos a grande contribuição para a literatura brasileira, da obra o cortiço, de Aluisio Azevedo. Que ousadamente retrata estudos acerca do homossexualismo, a vida em sociedade no cortiço. Temas que permanecia na obscuridade. O livro o Cortiço nos impulsiona a adentrarmos nestes temas tão interessantes e de grande valia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. 15 edição, SÃO PAULO, Ática, 2004.Pag.240 a 259.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 41ª edição, SÃO PAULO:Cultrix, 2003. Pág.187 a 195.

COUTINHO, Afrânio. Aluisio Azevedo. Era literatura realista, Era de transição. In: A literatura no Brasil. 7ª edição, RIO DE JANEIRO: Global, 2004.

SODRÉ, Nelson Werneck. O Episódio naturalista. In: História da literatura brasileira. RIO DE JANEIRO Graphia, 2002. Pág.425 a 447

AZEVEDO, Aluisio. O Cortiço 10ª edição. Jaraguá do Sul: Avenida 2009. COLEÇÃO GRANDES OBRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA.

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