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terça-feira, 8 de março de 2011

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR - OSWALD DE ANDRADE

ANÁLISE

João Miramar passou a infância em São Paulo. Órfão de pai foi criado sob a influência da mãe, religiosa e austera, à qual ajudava uma “preta pequenina (...) de cabelos brancos”, de nome Maria da Glória. Iniciou seus estudos em uma escola mista, mas logo em seguida foi transferido para um colégio de rapazes, onde iria conhecer alguns personagens que lhe acompanhariam ao longo da vida: José Chelinini e Gustavo Dalbert. Dalbert partiu para a Europa, e pouco tempo depois o próprio Miramar a ele se juntaria em Paris. Na viagem, apressada pela mãe por conta de uma doença que lhe abatera à senhora, Miramar conhecer a Europa, peregrinando por diversas cidades e retendo-se com mais vagar em Paris e Londres. Sua viagem é abreviada por um telegrama pedindo que ele retornasse ao Brasil.
Ao chegar a São Paulo, sua mãe havia falecido. Por ocasião do funeral, Miramar reencontra a prima Célia e apaixona-se. Ele volta à fazenda Lombardia, de propriedade da família, e lá começa a namorar Célia. Casam-se e vão à lua-de-mel para a Europa. No regresso ao Brasil, estabelecem-se em São Paulo, mas a presença incômoda da família faz com que eles se mudem para o Rio. Célia, que é de família abastada, incomoda-se com o fato de Miramar não ter uma “vocação nobilitante”.  Acercam-se de pessoas de destaque no meio cultural paulistano e o casal conhece os personagens Fíleas, um poeta, Dr. Pilatos, Machado Penumbra e o médico Dr. Pepe Esborracha. A tia de Miramar, Gabriela, conhece na Europa José Chelinini, ex-colega de Miramar do colégio secundário, e depois vem a se casar com ele, que agora ostenta um título de conde.
Miramar dedica-se a acompanhar a cotação do café, produto das fazendas da família da esposa, e a divertir-se na noite paulistana. Compram um automóvel, sinal de riqueza naqueles tempos. Célia engravida e dá à luz Celiazinha, sua filha com Miramar; decidem passar uns tempos na fazenda. Corre a Primeira Guerra Mundial. Mlle. Rollah, uma mulher que Miramar havia conhecido em sua viagem para a Europa, foge da guerra rumo ao Brasil. Miramar torna-se seu amante e aluga para ela uma casa, na qual a atriz passa a residir com sua mãe. Por conta da assinatura de Mlle. Rollah com a produtora de cinema da qual Miramar torna-se sócio, juntamente com o amigo Britinho, ele transfere a atriz e sua mãe para santos. Miramar tem esperanças de enriquecer e, assim, suplantar a situação de ser mais pobre que a esposa. A produtora, contudo, sofre com o desentendimento de dois dos sócios estrangeiros e Miramar sofre, na dissolução da sociedade, perdas financeiras volumosas.
Célia descobre o ‘affair’ de Miramar e Mlle. Rollah. Uma estranha proximidade entre o Dr. Pepe esborracha e Célia é notada por Miramar. O romance com Mlle. Rollah permanece e faz com que Miramar abandone seus afazeres no controle das finanças da família, que passam a ser dilapidadas por Chelinini. Célia e Miramar divorciam-se a pedido da esposa; no processo de  divórcio, Chelinini depõe contra Miramar, acusando-o de embolsar o dinheiro da empresa. Falido, Miramar é abandonado por Mlle. Rollah. Britinho é assassinado em uma emboscada. Morre Célia, Miramar com a ajudo do cunhado Pantico, passa a viver com a filha celinha, agora milionária, em um confortável apartamento no Largo do Arouche. Miramar interrompe abruptamente suas memórias, segundo ele em respeito à falecida esposa. – já que agora é um viúvo e “precisa ser circunspecto”.
ANÁLISE DA ESTRUTURA DA OBRA
O livro é composto por 163 fragmentos, os quais são escritos em diversos estilos: missivas, poemas, citações, diálogos, fórmulas-padrão (convites, anúncios, etc.), impressões, relatos de viagem, cartões-postais, etc. a seqüência dos fatos não é direta, como na  prosa tradicional à qual se contrapõe o livro, mas subliminar, que trespassa os diversos fragmentos, mesmo os que não se referem diretamente à história pessoal do protagonista. Assim, com essa estrutura segue a obra inteira. A história se passa nas primeiras décadas do século XX. Os capítulos ocorrem em ordem cronológica, mas com simultaneidade, ou seja, há vários fragmentos ocorrendo ao mesmo tempo e alguns, sem ligação entre eles.
Não é possível saber quando começa ou quando termina a história, uma vez que a divisão das partes não é em capítulos, mas em episódios-fragmentos, ou seja, fatos não interligados na seqüência em que foram redigidos. O enredo tradicional não existe, pois a sucessão dos fragmentos se faz como se fosse uma prosa cinematográfica, isto é, cênica (as cenas não se sucedem na ordem cronológica, mas, sim, numa ordem de simultaneidade; elas são apresentadas ao mesmo tempo, embora possam ligar-se a fatos anteriores e posteriores como se fossem do mesmo momento). É uma espécie de “romance espacial”. Planos diferentes, ou seja, assuntos de diversas naturezas ou épocas variadas se interpenetram sem seqüência linear.
A história acontece em São Paulo, Nova Lombardia, Rio de Janeiro e em várias cidades de vários países da Europa. O personagem descreve o cenário com tantos detalhes que muitas vezes os objetos formam uma espécie de quadro de pintor moderno.
Pode-se dizer que o lugar é importante para o desenrolar da história, pois só há desenvolvimento de fatos quando há um ambiente para que estes se desenvolvam, nada acontece no nada.
Os protagonistas são João Miramar, Célia (esposa dele) e Mile Rolah (a amante). O livro não relata características físicas dos personagens e sim psicológicas.
Não existe onisciência na narrativa, pois o texto é narrado em primeira pessoa. O próprio narrador é quem relata fatos de sua vida.
Não existe diálogo com o leitor, a narração é subjetiva, pois o narrador participa dos acontecimentos como personagem o discurso predominante é o indireto, a narração é feita de forma rápida.
A obra mostra que o dinheiro faz as pessoas agirem de maneiras diferentes e alternativas para conseguirem-no, como João Miramar que fazia de tudo para mostrar que era importante na sociedade burguesa. Mostra ainda que naquela época os casamentos existiam mais por causa dos interesses financeiros do que por amor e/ou afetividade. Graças às novas concepções, modernistas, essa postura fora mudada, apesar de ainda, na sociedade atual se ter pessoas que ainda agem segundos interesses.
Oswald de Andrade traça uma espécie de caricatura do homem paulistano das classes mais abastadas e, por meio de sua personagem, João Miramar critica o apreço das pessoas por coisas e idéias estrangeiras, sobretudo européias e a aversão às coisas brasileiras.
 A família, o casamento, o comportamento burguês, a traição conjugal, são os temas presentes no relato.

Aldemir Francelino

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