O futurismo é a concretização desta pesquisa no espaço bidimensional. Procura-se neste estilo expressar o movimento real, registrando a velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço. O artista futurista não está interessado em pintar um automóvel, mas captar a forma plástica a velocidade descrita por ele no espaço.
Principais artistas:
GIACOMO BALLA,
em sua obra o pintor italiano tentou endeusar os novos avanços científicos e
técnicos por meio de representações totalmente desnaturalizadas, embora sem
chegar a uma total abstração. Mesmo assim, mostrou grande preocupação com o
dinamismo das formas, com a situação da luz e a integração do espectro
cromático. A formação acadêmica de Balla restringiu-se a um curso noturno de
desenho, de dois meses de duração, na Academia Albertina de Turim, sua cidade
natal. Em 1895 o pintor mudou-se para Roma, onde apresentou regularmente suas
primeiras obras em todas as exposições da Sociedade dos Amadores e Cultores das
Belas-Artes. Cinco anos mais tarde, fez uma viagem a Paris, onde entrou em
contato com a obra dos impressionistas e neo-impressionistas e participou de
várias exposições. Na volta a Roma, conheceu Marinetti, Boccioni e Severini. Um
ano mais tarde, juntava-se a eles para assinar o Manifesto Técnico da Pintura
Futurista. Preocupado, como seus companheiros, em encontrar uma maneira de
visualizar as teorias do movimento, apresentou em 1912 seu primeiro quadro
futurista intitulado Cão na Coleira ou Cão Atrelado. Dissolvido o movimento,
Balla retornou às suas pinturas realistas e se voltou para a escultura e a
cenografia. Embora em princípio Balla continuasse influenciado pelos
divisionistas, não demorou a encontrar uma maneira de se ajustar à nova
linguagem do movimento a que pertencia. Um recurso dos mais originais que ele
usou para representar o dinamismo foi a simultaneidade, ou desintegração das
formas, numa repetição quase infinita, que permitia ao observador captar de uma
só vez todas as seqüências do movimento..
CARLO CARRA
(1881-1966), junto com Giorgio De Chirico, ele se separaria finalmente do
futurismo para se dedicar àquilo que eles próprios dariam o nome de Pintura
Metafísica. Enquanto ganhava seu sustento como pintor-decorador freqüentava as
aulas de pintura na Academia Brera, em Milão. Em 1900 fez sua primeira viagem a
Paris, contratado para a decoração da Exposição Mundial. De lá mudou-se para
Londres. Ao voltar, retomou as aulas na Academia Brera e conheceu Boccioni e o poeta
Marinetti. Um ano mais tarde assinou o Primeiro Manifesto Futurista, redigido
pelo poeta italiano e publicado no jornal Le Figaro. Nessa época iniciou seus
primeiros estudos e esboços de Ritmo dos Objetos e Trens, por definição suas
obras mais futuristas. Numa segunda viagem a Paris entrou em contato com
Apollinaire, Modigliani e Picasso. A partir desse momento começaram a aparecer
as referências cubistas em suas obras. Carrà não deixou de comparecer às
exposições futuristas de Paris, Londres e Berlim, mas já em 1915 separou-se
definitivamente do grupo. Juntou-se a Giorgio De Chirico e realizou sua
primeira pintura metafísica. Em suas últimas obras retornou ao cubismo.Publicou
vários trabalhos, entre eles La Pittura Metafísica (1919) e La Mia Vita (1943),
pintor italiano. Representante do futurismo e mais tarde da pintura metafísica,
influenciou a arte de seu país nas décadas de 1920 e 1930.
UMBERTO BOCCIONI
(1882-1916), sua obra se manteve sob a influência do cubismo, mas incorporando
os conceitos de dinamismo e simultaneidade: formas e espaços que se movem ao
mesmo tempo e em direções contrárias. Nascido em Reggio di Calábria, Boccioni
mudou-se ainda muito jovem para Roma, onde estudou em diferentes academias.
Logo fez amizade com os pintores Balla e Severini. No início, mostrou-se
interessado na pintura impressionista, principalmente na obra de Cézanne. Fez
então algumas viagens a Paris, São Petersburgo e Milão. Ao voltar, entrou em
contato com Carrà e Marinetti e um ano depois se encontrava entre os autores do
Manifesto Futurista de Pintura, do qual foi um dos principais teóricos. Foi com
a intenção de procurar as bases dessa nova estética que ele viajou a Paris,
onde se encontrou com Picasso e Braque. Ao retornar, publicou o Manifesto
Técnico da Pintura Futurista, no qual foram registrados os princípios teóricos
da arte futurista: condenação do passado, desprezo pela representação
naturalista, indiferença em relação aos críticos de arte e rejeição dos
conceitos de harmonia e bom gosto aplicados à pintura. Em 1912, participou da
primeira exposição futurista. Suas obras ainda deixavam transparecer a
preocupação do artista com os conceitos propostos pelo cubismo. Os retratos
deformados pelas superposições de planos ainda não conseguiam expressar com
clareza sua concepção teórica. Um ano mais tarde, com sua obra Dinamismo de um
Jogador de Futebol, Boccioni conseguiu finalmente fazer a representação do
movimento por meio de cores e planos desordenados, como num pseudofotograma.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o pintor se alistou como voluntário e ao
voltar publicou o livro Pittura, Scultura Futurista, Dinâmico Plástico
(Pintura, Escultura Futurista, Dinamismo Plástico). Morreu dois anos depois, em
1916, na cidade de Verona.
Fragmento
"Fundação e manifesto do futurismo", 1908, publicado em 1909.
"Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuliges celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os Inícions vivos da terra:
1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da
energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se
enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida
adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um
automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a
Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o Iníciom que segura o volante,
cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de
sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e
munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos
primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que
não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser
concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a
prostrar-se ante o Iníciom.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por
que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do
Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois
criamos a eterna velocidade onipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as
academias de todo tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza
oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo
trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e
polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor
noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas:
as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas
suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes
semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol
com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte,
as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes
cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aeroplanos, cujas
hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão
entusiasta.
É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.
Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.
Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
Museus:
cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos
corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre
ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos
pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao
longo de suas paredes!
Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério no dos dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponta uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?
Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério no dos dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponta uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?
E que se pode ver
num velho quadro senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em
infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir
inteiramente o seu sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a
nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de projetá-la para longe, em
violentos arremessos de criação e de ação.
Quereis, pois,
desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do
passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?
Em verdade eu vos digo que a frequentação cotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados por seu os prisioneiros, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!
Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!
Em verdade eu vos digo que a frequentação cotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados por seu os prisioneiros, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!
Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!
Os mais velhos
dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decênio mais jovens e
válidos que nós jogarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é
isso que queremos!
Nossos sucessores
virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus
primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando
caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em
putrefação, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.
Mas nós não
estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo
aberto, sob um triste galpão tamborilado por monótona chuva, e nos verão
agachados junto aos nossos aeroplanos trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo
mesquinho proporcionado pelos nossos livros de hoje flamejando sob o voo das
nossas imagens.
Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.
Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.
A forte e sã
Injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de fato, não pode ser senão
violência, crueldade e injustiça.
Os mais velhos
dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros
de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente,
delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até
perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Nossos corações
não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de
velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter
vivido! Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio
às estrelas!
Vós nos opondes objeções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e mendaz inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...
Vós nos opondes objeções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e mendaz inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...
Cabeça erguida!...
Eretos sobre o
pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário