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domingo, 1 de dezembro de 2013

LIÇÕES DE UM CONSELHO DE CLASSE

Por Paulo Eduardo de Oliveira

Coisa rotineira na vida da escola, o Conselho de Classe pode correr o risco de ficar na estante das coisas que, “de tanto ver, já não vemos mais”! Mas, de repente a novidade aparece atrás da monotonia própria desse tipo de reunião acadêmica: surgem rostos, vidas, contextos pessoais, histórias de crianças e de famílias, gestos e atitudes de educadores, coisas que despertam o educador que dorme em nós, muitas vezes adormecido pela prevalência do “profissional do ensino”, ocupados com tantos afazeres que a sala de aula exige. Foi numa dessas reuniões de “Conselho de Classe” que percebi alguns acenos pedagógicos que quero aqui partilhar com meus colegas educadores:
1.    A tarefa de educar vai além das “práticas docentes” rotineiras, restritas geralmente às questões didáticas, metodológicas e de conteúdo pragmático, que são, sem dúvida, importantes, mas não são tudo na arte de educar. Para além da “matéria dada”, o educador precisa ser presença, ser pessoa (no sentido mais profundo da palavra) em relação com outras pessoas. O educador precisa ter olhos para ver além da “lição de casa” e, assim, perceber os sinais, as mensagens dos gestos, o conteúdo do silêncio e do olhar de seus alunos.
2.    Os alunos, diante de nós, não são cérebros ambulantes, mas pessoas, com suas histórias de vida, seu contexto familiar, seus traços pessoais, seus anseios e medos, seus sonhos e suas alegrias, suas tristezas e frustrações, suas conquistas e vitórias. Nós, educadores, precisamos aprender a enxergá-los de forma integral: enxerga-los a partir da unidade profunda que há entre suas mentes e seus corações, entre os processos cognitivos e os afetivos, entre o desejo de aprender e o de viver. . .
3.    A escola não deve simplesmente ocupar o lugar dos pais e das famílias. Contudo, ainda que de forma compensatória, a tarefa de educar muitas vezes exige de nós mesmos pais e mães para os alunos que sentem o vazio da presença paterna e materna. Nesse sentido, por vezes, a aula é pretexto para uma relação mais profunda de afetividade, de acolhimento, de presença, de respeito para com os alunos. Eles, muitas vezes, não querem apenas nosso saber, mas nosso amor. . .
4.    Muitos pais também precisam de escola, não da “escola do saber”. Mas da “escola da vida”. Eles precisam aprender a ser pais e mães, a ser educadores, a ser presença para os filhos, a ser exemplos e modelos de vida. Acima de tudo, eles precisam aprender que “de tudo” aos filhos é insignificante diante da necessidade de “dar o melhor” a eles. E o melhor, geralmente, está na simplicidade daquilo que o dinheiro não compra, como a presença, o olhar, o ouvir, o valorizar, o estar junto em silêncio. . .
5.    O educador, consciente de seu papel, pode fazer enorme diferença na vida de uma criança, de um adolescente ou de um jovem. Pode marca-los profundamente, talvez nem tanto pelo saber, que talvez será logo esquecido, mas pelas atitudes, pelos exemplos, pela postura pessoal diante das pessoas, do mundo e da própria vida. . . Nós, que também fomos alunos, certamente também guardamos “marcas existenciais” de nossos antigos mestres mais estimados. Por que não deixar em nossos alunos marcas que sirvam para eles como bússolas e faróis a orientar suas histórias de vida?
6.    “Escola é lugar de gente. . .”, dizia Paulo Freire. E, no “Conselho de Classe”, pode-se perceber o quanto a rotina da escola deve ser feita menos de burocracia e mais de relações humanas, relações de afeto, relações de convivência. Alunos com educadores, alunos com alunos, educadores com educadores. . . todos aprendendo a tornar-se cada vez mais pessoas. . .
Talvez estas poucas ideias ajudem a mim e a você a reavivarmos o ideal de ser educador, no sentido autêntico da palavra, ideal este quem sabe um pouco ofuscado pelas urgências (nem sempre tão importantes) de ser “profissional do ensino”. Talvez tudo isso nos ajude a descobrir o sentido da vida na tarefa de educar outras pessoas a descobrirem o mesmo sentido da própria existência. Talvez educar seja isso. . .

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