Por Paulo
Eduardo de Oliveira
Coisa rotineira na vida da escola, o Conselho de
Classe pode correr o risco de ficar na estante das coisas que, “de tanto ver,
já não vemos mais”! Mas, de repente a novidade aparece atrás da monotonia
própria desse tipo de reunião acadêmica: surgem rostos, vidas, contextos
pessoais, histórias de crianças e de famílias, gestos e atitudes de educadores,
coisas que despertam o educador que dorme em nós, muitas vezes adormecido pela
prevalência do “profissional do ensino”, ocupados com tantos afazeres que a
sala de aula exige. Foi numa dessas reuniões de “Conselho de Classe” que
percebi alguns acenos pedagógicos que quero aqui partilhar com meus colegas
educadores:
1.
A tarefa de educar vai além das “práticas docentes”
rotineiras, restritas geralmente às questões didáticas, metodológicas e de
conteúdo pragmático, que são, sem dúvida, importantes, mas não são tudo na arte
de educar. Para além da “matéria dada”, o educador precisa ser presença, ser
pessoa (no sentido mais profundo da palavra) em relação com outras pessoas. O
educador precisa ter olhos para ver além da “lição de casa” e, assim, perceber
os sinais, as mensagens dos gestos, o conteúdo do silêncio e do olhar de seus
alunos.
2.
Os alunos, diante de nós, não são cérebros
ambulantes, mas pessoas, com suas histórias de vida, seu contexto familiar,
seus traços pessoais, seus anseios e medos, seus sonhos e suas alegrias, suas
tristezas e frustrações, suas conquistas e vitórias. Nós, educadores, precisamos
aprender a enxergá-los de forma integral: enxerga-los a partir da unidade
profunda que há entre suas mentes e seus corações, entre os processos
cognitivos e os afetivos, entre o desejo de aprender e o de viver. . .
3.
A escola não deve simplesmente ocupar o lugar dos
pais e das famílias. Contudo, ainda que de forma compensatória, a tarefa de
educar muitas vezes exige de nós mesmos pais e mães para os alunos que sentem o
vazio da presença paterna e materna. Nesse sentido, por vezes, a aula é
pretexto para uma relação mais profunda de afetividade, de acolhimento, de
presença, de respeito para com os alunos. Eles, muitas vezes, não querem apenas
nosso saber, mas nosso amor. . .
4.
Muitos pais também precisam de escola, não da
“escola do saber”. Mas da “escola da vida”. Eles precisam aprender a ser pais e
mães, a ser educadores, a ser presença para os filhos, a ser exemplos e modelos
de vida. Acima de tudo, eles precisam aprender que “de tudo” aos filhos é
insignificante diante da necessidade de “dar o melhor” a eles. E o melhor,
geralmente, está na simplicidade daquilo que o dinheiro não compra, como a
presença, o olhar, o ouvir, o valorizar, o estar junto em silêncio. . .
5.
O educador, consciente de seu papel, pode fazer
enorme diferença na vida de uma criança, de um adolescente ou de um jovem. Pode
marca-los profundamente, talvez nem tanto pelo saber, que talvez será logo
esquecido, mas pelas atitudes, pelos exemplos, pela postura pessoal diante das
pessoas, do mundo e da própria vida. . . Nós, que também fomos alunos,
certamente também guardamos “marcas existenciais” de nossos antigos mestres
mais estimados. Por que não deixar em nossos alunos marcas que sirvam para eles
como bússolas e faróis a orientar suas histórias de vida?
6.
“Escola é lugar de gente. . .”, dizia Paulo Freire.
E, no “Conselho de Classe”, pode-se perceber o quanto a rotina da escola deve
ser feita menos de burocracia e mais de relações humanas, relações de afeto,
relações de convivência. Alunos com educadores, alunos com alunos, educadores
com educadores. . . todos aprendendo a tornar-se cada vez mais pessoas. . .
Talvez estas poucas ideias ajudem a
mim e a você a reavivarmos o ideal de ser educador, no sentido autêntico da
palavra, ideal este quem sabe um pouco ofuscado pelas urgências (nem sempre tão
importantes) de ser “profissional do ensino”. Talvez tudo isso nos ajude a
descobrir o sentido da vida na tarefa de educar outras pessoas a descobrirem o
mesmo sentido da própria existência. Talvez educar seja isso. . .
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