Dóris de Arruda C. da Cunha
Universidade Federal de Pernambuco/CNPq
Resumo:
Nos últimos vinte anos, os trabalhos que fazem referência a Bakhtin foram cada vez mais numerosos. Tornou-se um autor célebre na lingüística contemporânea, para a qual expôs, em termos premonitórios, um programa completo de estudos, a partir dos conceitos de dialogismo, alteridade, interação, heteroglossia, polifonia, gênero, entre outros, que foram nas palavras de Faraco (2004) banalizados e despojados da sua complexidade conceitual. Nesse ensaio, faremos uma reflexão sobre o dialogismo, conceito básico para a compreensão do pensamento do autor russo, colocando-o no seu horizonte discursivo, cotejando-o especialmente com a visão de Iakubinskii .
Palavras-chave: dialogismo, Bakhtin, Iakubinskii.
UM CERTO HORIZONTE SOCIAL
Pode-se dizer que há um espírito do tempo, um horizonte de pensamento que aparece melhor à distância. Qual seria este horizonte de pensamento em que Bakhtin situa-se? Há sem dúvida um horizonte de pensamento comum entre Bakhtin, Voloshinov, Medvedev, Iakubinskii,1 por exemplo. Todos são marxistas, no entanto, retomando as palavras de François (2005), nenhum deles se sacrificou ao ritual do pensamento dialético automático oficial. Isso porque partiram de experiências princeps, de exemplos típicos, a partir dos quais procuraram pensar o homem, o evento, a aparição do novo sem querer que um esquema geral pudesse se aplicar a todas as questões.
Voloshinov e Medvedev, como é bem conhecido, faziam parte do Círculo de Bakhtin e assinaram com ele alguns textos. Iakubinskii não foi traduzido no Ocidente. Entre outros, escreveu um ensaio, O discurso dialógico (1923), cuja apresentação encontra-se no trabalho Aux origines du príncipe dialogique: l’étude de Yakubinskij: une présentation critique, de Rossitza Milenkova Kyheng, pesquisadora na Universidade de Paris 10.2 Segundo Kyheng (2003), O discurso dialógico constitui um estudo célebre na lingüística russa, no qual Iakubinskii, ao mesmo tempo que Bakhtin e seu Círculo, traçaram as primeiras linhas para as pesquisas sobre enunciação.
Kyheng (2003) faz uma análise dos oito capítulos, mas retomaremos apenas o capítulo 4 “Da naturalidade do diálogo e da artificialidade do monólogo”.
Nele, o autor parte de um lingüista russo, Stcherba, que havia concluído em 1915 um estudo de campo sobre um dialeto nos seguintes termos: “todas as observações mostram que o monólogo é em grande parte uma forma linguística artificial e que a linguagem só desvela sua própria ontologia no diálogo”. (Stcherba 1915:3, apud Kyheng 2003).
Isto porque o grupo lingüístico de camponeses e operários que ele estudou não fazia uso do monólogo, só do diálogo, segundo ele, por uma questão de polidez.
A partir da reflexão de Stcherba, Iakubinskii postula que a forma dialógica é a forma natural e comum do discurso: “/.../ a essência da interação é evitar a uniformidade, ela procura ser bilateral, dialógica e evitar o monólogo”.
Iakubinskii observa que replicar é uma reação natural do indivíduo e que a tendência natural para o diálogo conduz a uma interrupção constante dos monólogos. Embora sua argumentação revele uma base pavloviana, é interessante perceber pontos em comum com a teoria bakhtiniana da compreensão responsiva. Vejamos o seguinte trecho:
“toda ação unilateral, na medida em que ela é uma coisa sujeita à percepção humana, provoca uma série de reações mais ou menos fortes que tendem a se exteriorizar. Isso é válido para a ação discursiva monológica, e neste caso o que aparece na ordem de reação (nossa atitude, avaliação, etc.) tende a se exteriorizar, naturalmente no discurso.” (Iakubinskii 1923, apud Kyheng 2003).
Vê-se aqui a compreensão responsiva formulada em termos de reação, mas ressalte-se que a reação para Iakubinskii se dá em termos de atitude e avaliação, que para Bakhtin é inerente a todo enunciado.
Iakubinskii dá o exemplo de suas reuniões de trabalho, para discutir temas científicos com pessoas cultas:
“entretanto, diz Iakubinskii , a escuta, sobretudo quando ela era realmente atenta se transformava constantemente em interrupção do conferencista. /.../ mesmo se a pessoa se calava, via-se no seu rosto o desejo de falar; as vezes ela começa – seus lábios já se mexem – mas ela retém com esforço seu élan natural e fica em silêncio; às vezes os que se calam trocam olhares e fazem mímicas escutando o outro; às vezes começam a sussurrar alguma coisa a tal ponto a palavra está na ponta da língua”. (Iakubinskii 1923, apud Kyheng 2003).
Daí Iakubinskii afirmar que escutar se aprende, uma idéia que será claramente postulada por Bakhtin.
“Para que as pessoas escutem um monólogo são necessárias algumas condições (organização de uma reunião) o que faz o autor destacar, a relação entre o monologismo e a autoridade, o ritual, a cerimônia, etc.” (Iakubinskii 1923, apud Kyheng 2003).
Esta é uma idéia forte em Bakhtin (1993:145), para quem, a palavra autoritária (religiosa, política, moral, a fala do pai, dos adultos, dos professores) é dada e percebida como tal, quer dizer, como proveniente do alto. Ela não se confunde com as que a circundam, ela se isola como um bloco “compacto e inerte”. Ela é, portanto, globalmente transmitida sem modificação e exige as marcas do seu isolamento (as aspas ou itálicos são obrigatórios). Não é possível nenhum diálogo no contexto de transmissão. Vê-se mais uma vez esse horizonte de pensamento comum e a interação entre o pensamento dos autores soviéticos.
Ainda em relação à interação discursiva Iakubinskii observa:
“numa reunião, vê-se a tendência dialógica a replicar; esta réplica se exprime no discurso interior que acompanha a escuta da exposição; ela é frequentemente fixada em anotações; a discussão subseqüente é apenas a expressão sistematizada e fragmentária da replicação interior, acompanhando a percepção do monólogo”. (Iakubinskii 1923, apud Kyheng 2003).
Temos aqui a mesma visão da compreensão responsiva de Bakhtin e Voloshinov (1995:145), para os quais o processo de compreensão ativa da enunciação de outrem passa pela análise do discurso interior, no qual se realizam duas operações: a preparação de uma réplica interior e de um comentário efetivo. Essas operações constituem um todo organicamente fundido. Tomemos mais um exemplo deste horizonte comum: Bakhtin/Voloshinov (1995), Vigotski3 e Iakubinskii retomam a mesma citação de Dostoievski sobre uma palavra obscena, que pronunciada por seis operários, em seis situações diferentes e com entoações diferentes, tem sentidos diferentes. Tanto Iakubinskii quanto Bakhtin/Voloshinov insistem na importância da entoação que revela mais do que as palavras sobre o sentido da enunciação.
Kyheng critica Stcherba e de Iakubinskii: o primeiro, pela tese da naturalidade do diálogo, contestada pelos dados culturais. Quanto a Iakubinskii, Kyheng ataca a base da teoria, na qual qualquer ação verbal provoca uma reação verbal e aponta contradições, uma delas sendo a admissão pelo autor de formas dialógica e monológica na interação direta. Ela ressalta que diálogo e dialógico designam o diálogo clássico, apontando, contudo, a singularidade e a audácia do pensamento de Iakubinskii que, em 1923, procurou definir as problemáticas da interação verbal, fala e escrita, discurso monológico e dialógico, situação contextual, co-enunciadores, cinética, etc. E definiu um novo objeto de estudo para a lingüística — o diálogo, ou seja, o mesmo objeto da nova disciplina proposta por Bakhtin, a metalinguística.
BAKHTIN E A LINGUAGEM COMO DIÁLOGO
Bakhtin tomou como tema central de seu pensamento a natureza essencialmente dialógica da linguagem, parte de um projeto filosófico mais amplo, esboçado numa dos seus primeiros textos, redigido entre 1922 e 1924, Pour une philosophie de l’acte (sem tradução em português). Trata-se de uma obra de estética teórica e de filosofia moral, cujo primeiro capítulo foi perdido e o último nunca foi escrito. Nesta obra, ele define o ser como evento, cria a categoria do “não álibi”, o que significa que cada ato nosso é uma resposta e postula uma concepção do ser humano em que o outro é parte constitutiva, ou seja, em que o homem não existe fora da relação com o outro, que se dá por meio da linguagem.
Para refletir sobre a natureza dialógica da linguagem, partiremos de Problemas da poética de Dostoievski, uma obra fundamental para a compreensão do dialogismo como uma visão filosófica e não apenas um princípio fundamental da linguagem.
Bakhtin (1997:1) mostra em Dostoievski e por meio de Dostoievski sua cosmovisão. Considerava o escritor russo “um dos maiores inovadores no campo da forma artística”, o criador “de um tipo inteiramente novo de pensamento artístico, [...] o romance polifônico”, o responsável por uma revolução coperniciana em pequena escala, por ter modificado o papel do autor, retirando dele o poder de dar uma definição acabada do seu herói. Dostoievski colocou a posição do autor no mesmo patamar da dos seus personagens, por meio da representação do diálogo de consciências (e não de personagens acabados, cujas vozes são suplantadas pela do autor). O autor participa do romance dialógico e ao mesmo tempo organiza este diálogo de vozes e consciências.
Em Bakhtin não é possível separar o dialogismo das reflexões sobre o homem, a alteridade, a linguagem. Essas reflexões são elaboradas a partir da análise dos personagens, idéias, composição da obra e do discurso em Dostoievski, a qual revela a estética humanística bakhtiniana, que segundo Paulo Bezerra, pode ser sintetizada, no par comunicativo “eu-outro”. Na concepção bahtiniana, é impossível conceber o ser fora das relações com o outro:
“na vida nós fazemos isso a cada passo: nós nos apreciamos do ponto de vista dos outros. [...] constantemente e intensamente nós observamos e apreendemos os reflexos de nossa vida no plano da consciência dos outros homens.” (Bakhtin apud Todorov 1981:145).
Esse papel fundamental do outro para cada um de nós é magistralmente formulado por Bakhtin:
“Só me torno consciente de mim, só me torno eu mesmo me revelando para outrem, através de outrem e com a ajuda de outrem. Os atos mais importantes, constitutivos da consciência de si se determinam por uma relação com outra consciência (a um tu). A ruptura, o isolamento, o fechamento em si é a razão fundamental da perda de si [...] O ser mesmo do homem é uma comunicação profunda. Ser significa comunicar. Ser significa ser para outrem e através dele, para si. O homem não possui território interior soberano ele está inteiramente e sempre numa fronteira; olhando para si, ele olha nos olhos de outrem ou através dos olhos de outrem. Eu não posso prescindir de outrem, não posso tornar-me eu mesmo sem outrem; eu devo me encontrar em outrem, encontrando outrem em mim (no reflexo, na percepção mútua). [...] (Bakhtin, apud Todorov 1981:148-149).
E ao final do capítulo 4, Peculiaridades do gênero, do enredo e da composição das obras de Dostoievski, Bakhtin (1997:180) diz: “O homem nunca encontrará sua plenitude apenas em si mesmo”.
Estes fragmentos revelam as linhas do pensamento bakhtiniano, que priorizou o social, o diálogo, o aspecto plural da natureza humana. É verdade que ele não foi o primeiro a postular o caráter constitutivo do outro. Desde o século 18, filósofos fazem referência à relação eu-tu. Faraco (2005) aponta alguns filósofos que pensaram o homem nessa perspectiva: Jacobi (apud Faraco 2005: “Eu é impossível sem o Tu”); Hegel (apud Faraco 2005: “A consciência-de-si é em-si e para-si enquanto e porque é em-si e para-si para outra consciência-de-si; ou seja, ela só é na medida em que é um ser reconhecido”); Feuerbach (apud Faraco 2005: “Certamente que o idealismo sabe (...) que sem tu não há eu, mas este ponto de vista no qual há um eu e um tu, é para ele apenas o empírico, não o transcendental, quer dizer, verdadeiro, não é o primeiro e originário, mas um ponto de vista subordinado, que é válido para a vida, mas não para a especulação”. Buber (apud Faraco 2005: “Me torno na relação com o Tu). O próprio Bakhtin cita o filósofo Buber, para quem “toda vida verdadeira é um encontro”.
No capítulo 3, A idéia em Dostoievski, Bakhtin (1997:86) postula que Dostoievski soube criar o homem de idéia graças a sua profunda compreensão da natureza dialógica do pensamento humano, da natureza dialógica da idéia. Diz ainda que Dostoievski conseguiu ver, descobrir e mostrar que a idéia não vive na consciência individual isolada de um homem, pois aí ela degenera e morre. A ideia começa a ter vida quando contrai relações dialógicas essenciais com as ideias dos outros.
Aqui Bakhtin traz uma enorme contribuição à discussão sobre a relação pensamento e linguagem. Essa idéia nos afasta da teoria da expressão, segundo a qual, a língua serviria para transmitir o pensamento, elaborado antes de fazer uso dela:
“O pensamento humano só se torna pensamento autêntico, isto é, ideia, sob as condições de um contato vivo com o pensamento dos outros, materializado na voz dos outros, ou seja, na consciência dos outros expressam na palavra. É no ponto destes contatos entre vozes/consciências que nasce e vive a idéia. [...] a ideia é interindividual e intersubjetiva, a esfera da sua existência é a comunicação dialogada entre consciência. A ideia é um acontecimento vivo, que irrompe no ponto de contato dialogado entre duas ou várias consciências. Neste sentido a ideia é semelhante ao discurso com o qual forma uma unidade dialética. Como o discurso, a ideia quer ser ouvida, estendida e “respondida”, por outras vozes e de outras posições. Como o discurso, a ideia é por natureza dialógica. (Bakhtin 1997:86 87).
Bakhtin (1997:181-182) propôs que a metalingüística deveria estudar o discurso, a língua em sua integridade concreta e viva, as relações dialógicas (inclusive as relações do falante com sua própria fala). Essa disciplina seria completada pela lingüística que não admite relações dialógicas entre os elementos no sistema da língua (por exemplo, entre as palavras no dicionário, entre os morfemas, as unidades sintáticas, etc.), ou entre elementos do “texto”, num enfoque rigorosamente lingüístico deste. Contrariamente ao que fez a abordagem estrutural do texto que incluiu o conceito de intertextualidade num aparelho conceitual formal, Bakhtin nega que possa haver relações dialógicas (intertextuais) entre os textos, vistos sob uma perspectiva rigorosamente lingüística. Para ele, as relações dialógicas são extralingüísticas, situam-se no campo do discurso, o que não exclui a língua enquanto fenômeno integral concreto. No entanto, são irredutíveis às relações lógicas ou às concreto-semânticas, que para se tornarem dialógicas devem /.../ tornar-se discurso, o que siginifica converter-se em posições de diferentes sujeitos e ganhar autor, criador de dado enunciado cuja posição ele expressa.
Para ele, o que importa não é mais a palavra ou qualquer outra forma, mas a circulação discursiva, na qual a diferença de entoação é o que faz sentido. Diz ele:
“A vida da palavra está na passagem de boca em boca, de um contexto para outro, de um grupo social para outro, de uma geração para outra”. (Bakhtin 1997:203).
A metalingüística é, portanto, uma lingüística da circulação dos discursos, como postula François (1993). O que faz a originalidade dessa teoria é que ela coloca o discurso como circulante e como um fenômeno relacional: uma “relação de falas” e uma fala relacionante. Embora Bakhtin refira-se a Dostoievski, pode-se dizer que tanto na vida como no romance “um determinado conjunto de idéias, pensamentos e palavras passa por várias vozes imiscíveis, soando em cada uma de modo diferente”. (Bakhtin 1997:271). A passagem do tema por muitas e diferentes vozes é a característica fundamental da comunicação humana.
Com base nessa concepção de linguagem e ser, Bakhtin coloca em destaque o discurso de outrem, até então tratado do ponto de vista formal, tanto pela lingüística como pela estilística. Bakhtin/Voloshinov (1995) propõem o estudo das formas da comunicação verbal e das formas correspondentes de enunciação, lançando assim um novo olhar sobre o discurso de outrem. Partindo da análise de autores clássicos russos, Bakhtin/Voloshinov explicitam a importância do estudo do discurso citado como preâmbulo ao estudo do diálogo, na medida em que nele se manifestam “as tendências básicas e constantes da recepção ativa do discurso de outrem”(Bakhtin/Voloshinov 1995:146).
Trata-se de entender onde no discurso vem se inscrever o discurso dos outros, postulando que essa operação é a de um enxerto entre dois tecidos. A inserção de uma citação supõe o trabalho do sujeito que cita, que o fragmento de discurso selecionado não é neutro para o receptor. O ato de selecionar já é um ato que obriga a pensar, julgar, pesar, avaliar, da mesma forma que a inserção.
No contato de duas enunciações, de dois sujeitos enunciando, fenômeno que deve ser analisado como diálogo, se constroem índices, indícios que referem ao status sócio-ideológico da linguagem. Em O Discurso no romance, Bakhtin mostra a amplitude do fenômeno:
“Um enunciado vivo, significativamente surgido em um momento histórico e em um meio social determinados, não pode deixar de se relacionar com os milhares de fios dialógicos vivos, tecidos pela consciência sócio-ideológica em torno do objeto de tal enunciado e de participar ativamento do diálogo social. De resto, é dele que o enunciado se origina: ele é como a sua continuação, sua réplica, ele não aborda o objeto chegando de não se sabe de onde”. (Bakhtin 1993 :86).
A partir da análise do romance humorístico inglês, ele mostra a onipresença do discurso de outrem na literatura e na vida, o diálogo incessante das forças sociais, dos tempos, das épocas. A análise de fragmentos desvela a fala de outrem no discurso do autor, inserida sob a forma dissimulada, sem nenhuma indicação da pertença a outrem, e em construções híbridas (pertence a um falante, mas carrega dois tons e dois estilos). De modo que, para Bakhtin (1993:99), “estudar o discurso em si mesmo é tão absurdo como estudar o sofrimento psíquico fora da realidade a que está dirigido e pela qual ele é determinado”.
Como se vê, Bakhtin e seu Círculo elaboraram uma das teorias mais ricas e mais frutíferas abordagens sobre o discurso citado. A abordagem dialógica do discurso abriu um campo de pesquisa para a Lingüística e deu origem a numerosas análises, revelando novos aspectos do funcionamento da linguagem.
O sujeito é introduzido nos estudos da linguagem, que passa a ser estudada do ponto de vista da heterogeneidade, da diversidade de sentidos e de modos de funcionamento.
Podemos concluir, retomando três pontos que merecem destaque:
1. A reflexão sobre diálogo faz parte do “contexto soviético oculto”, da década seguinte à da revolução de outubro. Segundo Lähteenmäkï (2005) nas notas de Bakhtin havia referências aos trabalhos de Iakubinskii e de outros lingüistas russos da época, que foram apagadas por decisões editoriais. No entanto, apesar das diferenças apontadas na concepção de diálogo, há um parentesco, uma semelhança temática, entre Bakhtin e Iakubinskii o que só vem comprovar o caráter dialógico da linguagem e do conhecimento.
2. O princípio dialógico explica as grandes opções da teoria bakhtiniana – o social, o diálogo, a ideologia, a diversidade, a heterogeneidade, o inesperado, o não oficial, as forças centrífugas, a pluralidade da linguagem, do romance, do homem.
3. A reflexão de Bakhtin não é apenas sobre a linguagem e a literatura, mas sobre o homem como ser de diálogo que se posiciona com relação ao mundo, a outrem, a ele mesmo e ao próprio discurso.
Referências bibliográficas
— Bakhtin, M. 2003. Pour une philosophie de l’acte. Lausanne: Editions L’Age d’Homme.
— ______. 1997. Problemas da poética de Dostoievski. Tradução Paulo Bezerra. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.
— _______. 1993. Questões de Estética e de Literatura. 3a ed. S. Paulo: UNESP/Hucitec.
— Bakhtin, M./Volochinov, V. N. 1995. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 7a ed. São Paulo: Ed. Hucitec (1a edição, 1929).
— Faraco, C. A. 2005. “Interação e linguagem: balanço e perspectiva”, conferência apresentada no Congresso Internacional Linguagem e Interação, São Leopoldo, RS.
— François, F. 2005. “Langage et pensée: dialogue et mouvement discursif chez Vygotski et Bakhtin”. In François, F. Interprétation et dialogue chez des enfants ET quelques autres – Recueil d’articles. Lyon: ENS Editions.
— ______. 1993. Pratiques de l’oral. Paris: Nathan .
— Kyheng, R. M. 2003. Aux origines du príncipe dialogique: l’étude de Jakubinskij: une présentation critique. Edition éléctronique.
http://www.revuetexto.net/Inedits/Kyheng/Kyheng_Jakubinskij.html
— Lähteenmäkï , M. 2005. “Estratificação social da linguagem no ‘discurso sobre o romance’: o contexto soviético oculto”. In Zandwais, Ana (org.) Mikail Bakhtin — constribuições para a Filosofia da Linguagem e estudos discursivos. Porto Alegre: Sagra Luzzatto.
— Todorov, T. 1981. MIkaïl Bakhtine — le principe dialogique, suivi de Ecrits Du Cercle de Bakhtine. Paris: Seuil.
NOTAS DE RODAPÉ
* Esse trabalho resulta de uma conferência proferida durante o Simpósio Dialogismo Bakhtiniano – Interlocuções com a Lingüística, a Psicologia e a Educação, organizado pelo Núcleo de Pesquisa da Argumentação, realizado na UFPE, em junho de 2005.
1 Poderíamos acrescentar a essa lista Vigotski e Wallon, mais conhecidos e mais traduzidos no Brasil, mas não discutermos esses autores.
2 Na véspera do envio desse trabalho para publicação, tive acesso ao texto de Lähteenmäkï (2005) ‘Estratificação social da linguagem no discurso sobre o romance’: o contexto soviético oculto em que o professor aborda o tema que dá título ao capítulo, do ponto de vista de Bakhtin, Voloshinov e Iakubinskïi, relacionando-os com Marr, mas caracterizando suas especificidades.
3 Conforme François (2005).
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