Segundo Fávero e Kock, a Lingüística Textual constitui um novo ramo da Linguítica que começou a desenvolver-se na década de 60, na Europa, e de modo especial, na Alemanha. Sua hipótese de trabalho consiste em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os testos a forma específica de manifestação da linguagem. Nessa perspectiva a Lingüística Textual ultrapassa os limites da frase e entende a linguagem como interação. Assim, justifica-se a necessidade de descrever e explicar a língua dentro de um contexto, considerando suas condições de uso.
Para tanto, a Lingüística Textual emergiu a partir da Teoria da Enunciação e da teoria dos Atos de Fala. Tendo como precursor da Teoria de Enunciação Mikhail Bakhtin, ao postular a subjetividade da linguagem e considerar a fala como unidade real da língua; e os Atos de Fala foram destacados por Austin e Searle, ao entenderem a linguagem como ação. Austin acreditava que dizer alguma coisa é fazer alguma coisa. Este fazer é um ato de linguagem ou um ato de fala, e nessa perspectiva ele postulou três tipos de atos de fala: o ato locutório, o ilocutório e o perlucutório.
De acordo com Bentes, na história da constituição da Lingüística textual não se pode ter com precisão uma sequência cronológica e homogênea no desenvolvimento das teorias da lingüística de texto, porem, pode-se definir três momentos teóricos e bastante diferentes entre si.
A Lingüística Textual apresenta como primeiro momento à análise transfrástica, que tem como escopo descrever os fenômenos sintático-semânticos, ou seja, estudar relações ocorrentes entre enunciados ou seqüências de enunciados. A análise transfrástica ainda não considerava o texto como objeto de análise, ou seja, os estudos partiam da frase para o texto.
Em um segundo momento, emergi a gramática de texto. Segundo Fávero e Koch, havia algumas causas pertinentes ao surgimento ao referido momento, tais quais: as lacunas das gramáticas de frase no tratamento de fenômenos tais como a corenferência, a pronominalização, a seleção dos artigos (definido e indefinido), a ordem das palavras no enunciado, à relação tópico-comentário, a entoação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, à concordância dos tempos verbais e vários outros que só podem ser devidamente explicados em termos de texto ou, então, com referência a um contexto situacional.
Dressler apud Fávero e Koch mencionam que, nas gramáticas de frase, ficam excluídas vastas partes da morfologia, da fonologia e da lexicologia. Já a lingüística textual comporta diversas manifestações: cabe à semântica do texto explicitar o que se deve entender por significação de um texto e como ela se constitui. É tarefa da pragmática do texto dizer qual é a função de um texto no contexto. A sintaxe do texto tem por encargo verificar como vem expressa sintaticamente a significação de um texto e como pode expressar o que está à sua volta. Estreitamente correlacionada à sintaxe do texto, está à fonética do texto, que, de modo análogo à fonética da frase, ocupa-se das características e dos sinais fonéticos da configuração sintática textual.
Nesse sentido, segundo Lang (1972, apud Fávero e koch), o texto constitui um todo que é diferente da soma das partes. Sendo assim, a partir da descrição de fenômenos lingüísticos inexplicáveis pelas gramáticas de frase, já que um texto não é apenas uma seqüência de frases isoladas, mas uma unidade lingüística com propriedades específicas. Desse modo, pode-se considerar que todo falante nativo possui um conhecimento do que seja um texto, bem como reconhece quando um conjunto de enunciados constitui um texto ou quando se constitui apenas em um conjunto aleatório de palavras ou sentenças. Isso posto, Charolles atribui três capacidades básicas ao falante nativo: a capacidade formativa, a transformativa e a qualitativa. Segundo Fávero e Koch apud Bentes, se todo nativo possui essa competência textual, pode-se considerar que a gramática textual tem as seguintes tarefas: verificar com que um texto seja um texto, levantar critérios para a definição de textos e diferenciar as diversas espécies de textos, ou seja, identificar os gêneros textuais.
As gramáticas de texto tiveram o mérito de estabelecer duas noções basilares para a consolidação dos estudos concernentes ao texto/discurso. A primeira é a verificação de que o texto constitui a unidade linguística mais elevada e se desdobra ou se subdivide em unidades menores, igualmente passíveis de classificação. A segunda noção básica constitui o complemento e a decorrência da primeira noção enunciada: não existe continuidade entre frase e texto, uma vez que se trata de entidades de ordem diferente e a significação do texto não constitui unicamente o somatório das partes que o compõem.
E no terceiro momento, pode-se considerar o texto como diacrônico, uma vez que, percebe-se claramente o texto como processo e não como produto, na medida em que seus conceitos se evoluem, levando-se em consideração o texto e o contexto. Assim, tem-se o conceito de texto segundo Stammerjohann apud Bentes, representando o texto como um produto pronto e acabado, "o termo texto abrange tanto textos orais quanto escritos que tenham como extensão mínima dois signos lingüísticos, um dos quais, porém, pode ser suprido pela situação, no caso de textos de uma só palavra, como "Socorro!", sendo sua extensão máxima indeterminada".
E em uma perspectiva na qual o texto considera as condições de produção e de recepção, é de certo modo abandonara ideia de que o texto é algo pronto e acabado. Nesse sentido, Koch (1997) apud Bentes compreende o texto no seu próprio processo de planejamento, verbalização e construção, levando-se em consideração a produção textual como atividade verbal; como atividade verbal consciente e como uma atividade interacional. Posto isso, considera-se o texto um processo de interação entre o escritor/falante e o leitor/ouvinte, em razão de a construção de sentido do texto não está somente dentro do texto, mas, também fora dele. A Lingüística Textual, nesse estágio de sua evolução, assume nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não considera a língua como entidade autônoma ou formal (MARCUSCHI, 1998, apud Galembeck).
Portanto, atualmente o foto da textualidade vendando ênfase aos processos de organização global dos textos, que assumem importância particular as questões de ordem sócio-cognitiva, que envolvem, evidentemente, as da referenciação, inferenciação, acessamento ao conhecimento prévio etc.; o tratamento da oralidade e da relação oralidade/escrita; e o estudo dos gêneros textuais, este agora conduzido sob outras luzes, isto é, a partir da perspectiva bakhtiniana, os gêneros vêem ocupando lugar de destaque nas pesquisas sobre o texto e revelando-se hoje um terreno extremamente promissor (Koch, 2001). Vale salientar aqui, que a questão dos gêneros na perspectiva bakhtiniana não diz respeito apenas aos gêneros textuais, mas também, os gêneros do discurso.
Ainda segundo Koch (2001), a questão referente aos gêneros vai mais além, na medida em que se ver o gênero como suporte das atividades de linguagem, e define-o com base em três dimensões essenciais: 1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis a partir dele; 2) os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes a determinado gênero; 3) as configurações específicas de unidades de linguagem, traços, principalmente, da posição enunciativa do enunciador, bem como dos conjuntos particulares de seqüências textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura.
Em suma, a lingüística Textual tem contribuído significativamente com seu escopo voltado para o texto e a construção de sentido do mesmo, postulando assim, grandes avanços no campo da textualidade. O que era apenas um estudo da frase, passando posteriormente por um estudo da gramática de texto, na tentativa de suprir algumas lacunas não preenchidas pela corrente estruturalista e gerativista; e logo em seguida, chega-se aos conceitos de texto, que por sua vez o define não mais como algo pronto e acabado, mas como um processo em construção e, nesse sentido as contribuições tem sido ainda mais significantes, pois, hoje se tem conceitos mais globais do seja um texto, bem como dos gêneros textuais, gêneros do discurso e tipos de suportes dos gêneros textuais.
REFERENCIAS:
FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Vilaça. Linguística textual: intodução. [n.s.]. São Paulo. Cortez, 2002.
KOCH, Ingedore Vilaça.lingüística textual: quo vadis? São Paulo, v. 17, n. especial. P. 1-11, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/. Acessoem 04. mar. 2009.
GALEMBECK, Paulo de Tarso. A lingüística textuale seus mais recentes avanços. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm. Acesso em 11.03.2009.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina (Orgs). Introdução a Linguística: domínios e fronteiras. 8ª ed. São Paulo: Cortez, v. 01. 2008.
Acesso em 29/04/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário