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sábado, 14 de abril de 2012

GRAMATICIDADE, AGRAMATICIDADE, ANOMALIA E CONTRADIÇÃO: ELEMENTOS PRODUTIVOS PARA O ESTUDO DA SEMÂNTICA FORMAL

CHAVES, Luana Riviane Nascimento
luanariviane@hotmail.com

LIMA, Luiz Eduardo de Andrade. (Orientador)
Mestre em Ciências Sociais, Especialista em Educação e Literatura e critica Literária, pela Universidade de Brasília ? UnB, Graduado em Letras Português ?
Inglês, Prof. do curso de Letras Português da Universidade Tiradentes ? UNIT.
leduardoalima@uol.com.br


RESUMO
Este artigo levantou uma reflexão sobre o contexto histórico da semântica formal e suas prototipicidades, desencadeando o estudo das anomalias e contradições com a finalidade de mostrar a importância da semântica dentro dos estudos linguísticos e extralinguísticos. Foi utilizado como pano de fundo para essa abordagem fontes de estudos ligadas ao campo semântico desde o seu surgimento quando então era conhecida pelo nome de Pântano das Significações até os dias atuais. Faz-se necessário conhecer o funcionamento e os conceitos da semântica formal a fim de estudar isoladamente um dos níveis do estudo da semântica no geral, facilitando assim a compreensão das anomalias e contradições presentes nas sentenças escritas e faladas do cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: Anomalias. contradição. linguística. semântica.
ABSTRACT

This article raised a reflection on the historical context of formal semantics and its prototypical, prompting the study of anomalies and contradictions in order to show the importance of semantics in studies of linguistic and extralinguistic. Was used as background for this approach sources of study related to the semantic field since its inception when it was then known as the Swamp of Meanings to the present day. It is necessary to understand the operation and the concepts of formal semantics in order to study in isolation of the levels of the study of semantics in general, facilitating the understanding of the anomalies and contradictions in the sentences written and spoken everyday.
KEYWORDS: Anomalies. contradiction. linguistics. semantics.

INTRODUÇÃO
Este artigo através de uma pesquisa bibliográfica tem como objeto de estudo o contexto histórico da semântica e a semântica formal, destacando as anomalias e contradições em nossa língua. Tem-se o objetivo de mostrar os conceitos e importância da semântica dentro dos estudos linguísticos, baseando-se num quadro que vai de encontro com a agramaticalidade.
Desde então, sabe-se que o termo Semântica foi criado em 1883 por Michel Bréal. Vale ressaltar, que a semântica está inserida num dos níveis da descrição linguística, com isso a semântica estuda o significado das palavras e das sentenças, de uma forma separada em cada contexto.
Vale ressaltar que os estudos da semântica foram iniciados pelos filósofos no sec. XIX e só depois de alguns anos os linguistas interessaram-se no aprofundamento dos estudos dessa ciência.
Faz-se necessário conhecer o funcionamento e os conceitos da semântica formal a fim de estudar isoladamente um dos níveis do estudo desta ciência no geral, assim facilitando a compreensão das anomalias e contradições presentes nas sentenças escritas e faladas do cotidiano.
Portanto, as palavras em sua significação comum, assumem muitas vezes outros significados e sentidos distintos no uso da língua, assim a gramaticalidade engloba o estudo da linguagem comum e o uso concreto da linguagem, como a semântica e a sintaxe constituem a construção estrutural.

CONTEXTO HISTÓRICO DA SEMÂNTICA
Sabe-se que em princípios do século XVIII a linguística evoluiu bastante, no entanto a semântica não era estudada como ciência, a preocupação era com o estudo da gramática em si, a morfologia, a sintaxe e a fonologia, pois o significado das palavras e sentenças não tinha tanta importância.
MARQUES (1999) relata em seus estudos que a semântica era trabalhada de uma forma extralingüística, apenas os que se interessaram realmente continuou o estudo de forma autônoma, pois era assim que ela era vista, um conhecimento a parte do que se estava a investigar naquele momento. TRASK 2003 afirma que:

"Em linguística, o estudo do significado tem uma historia cheia de altos e baixos. As pessoas tem se interessado desde os tempos mais antigos pelos problemas do significado, mas poucos progressos foram feitos antes do fim do século XIX, quando a semântica ainda inexistia como campo de investigação autônoma. Por volta dessa época, porém o lingüista francês Michel Bréal, que cunhou o termo semântico, fez uma tentativa série e bem sucedida de introduzir a semântica na pratica da lingüística européia." ( TRASK,2003,p. 251).

Desde então percebeu-se a necessidade de integrar a semântica nos estudos linguísticos, pois só com os conceitos gramaticais, não dava para examinar os mecanismos das línguas vinculados ao sentido, passando a semântica a ser objeto de análise nas investigações das teorias gramaticais e de toda ciência da linguagem.
O desenvolvimento desses estudos foi feitos inicialmente pelos filósofos e após uma razoável espera foi que os linguistas tomaram consciência das pesquisas e aliou-se a eles. Segundo TRASK (2003) nos anos de 1940 e 1950 os estruturalistas americanos apelidavam a lingüística como "o pântano do significado", assim não existia instrumentos que legitimassem a semântica como ciência.
Entretanto, após a referida junção, o filosofo Richard Montague, destacou-se bastante, devido suas ideias serem a base de muitos trabalhos significantes na semântica linguística.
Contudo vale salientar, que o linguista Ferdinand de Saussure no sec. XX surge com o estudo da teoria do signo linguístico, com isso a semântica ganha direitos de residência na linguística européia, favorecendo a progressão e firmação da mesma.
Segundo MARQUES (1999), como esse campo mesmo sendo aceito continuou com difíceis questões a serem resolvidas, foi firmado na linguística que linguagem é significação. Desde então, a gramática fica encarregada de explicitar os mecanismos, cujo individuo usa para criar infinitas sequências sonoras dotadas de sentidos, enquanto a semântica explicita a forma de interpretação e produção dos sentidos dessas sequências.
Assim, os linguistas assumem uma visão nova, com relação ao referido estudo. De modo que nos últimos anos, as abordagens da semântica progrediram, e hoje é uma das áreas mais vivas da linguística. Uma boa parte, dessas abordagens constitui a semântica formal, a qual gera tentativas de esclarecer o significado no desenvolvimento de versões particulares da lógica formal, que absorve aspectos do significado.
A partir do surgimento tardio e controverso da semântica como ciência, a qual adotou o sentido como seu campo de estudo, muitos conceitos foram afirmados sobre a expressão sentido de acordo com TAMBA-MECK, 2006, p.07: " ... Michel Bréal considera o sentido assim como as formas sonoras, um elemento especificamente lingüístico." Bréal também afirmou que a semântica surgiu por intuição, conforme:
"Baseando-nos nessa intuição, que podemos qualificar de inaugural, definiremos a semântica como uma disciplina lingüística que tem por objeto a descrição das significações próprias ás línguas e sua organização teórica". (TAMBA-MECZ, 2006, pg. 08)

Desde então, afirma-se que a semântica estuda o sentido das palavras, das frases e dos enunciados dentro da estrutura linguística, interado nos seus usos e sistemas. Num contexto histórico, três correntes teóricas proporcionaram o surgimento da semântica. A primeira é a linguística comparativa, a segunda é a linguística estrutural e a terceira é a modalização das línguas.
As três correntes teóricas dividiram a historia da semântica em três períodos, o período evolucionista 1883-1931, o qual retrata a historia das palavras; o período misto 1931-1963, com a continuação da historia das palavras e a estruturação do léxico; o período das teorias lingüísticas e do tratamento computacional 1960- 1990, dentro desse contexto aparece a semântica formal.

A LINGUÍSTICA E A SEMÂNTICA
Dentre vários conceitos do que é semântica CANÇADO (2005) afirma, "semântica é o estudo do significado das línguas". Dentro da investigação da linguística encontra-se a semântica, partindo desse contexto, diz-se que na linguística o falante de qualquer língua possui diversos conhecimentos com relação a sua gramática. Com isso, ao descrever a linguística, há diferentes níveis de análise, como o léxico, a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica.
Segundo CANÇADO (2005) o conhecimento da linguagem associa-se ao uso da língua que esta relacionado com o emprego da gramática em diferentes situações de fala. Nesse contexto surge à pragmática, a qual descreve a linguagem de acordo com o uso. A pragmática surge para ampliar de forma satisfatória o estudo dos significados, para definir com êxito a semântica e a pragmática cita-se:

"A semântica lida com a interpretação das expressões lingüísticas, com o que permanece constante quando uma certa expressão é proferida. A pragmática estuda os usos situados da língua e lida com certos tipos de efeitos intencionais". (CANÇADO, 2005, pg.17)

Em outras palavras enquanto a semântica estuda as significações das intrínsecas estruturas linguísticas, a pragmática estuda as significações da língua nos seus usos, desde então, mesmo com conceitos distintos, ambas estão interligadas a fim de concretizar o referido estudo, entretanto vale salientar que a pragmática esta inserida como um item da semântica.
É imprescindível ressaltar que, o objeto de estudo da semântica é a menção das sentenças e das palavras isoladas de seu contexto, enquanto o objeto de estudo da pragmática é o uso das palavras e das sentenças em diversos contextos, assim todo esse contexto faz parte da linguística atuando como uma de suas disciplinas.

A LINGUÍSTICA NO ENSINO
Segundo ILARI (1997), o professor de português tem o objetivo de ampliar a capacidade de comunicação, integração e expressão pela linguagem da população. Desde então, focando esse objetivo no ensino de letras, busca-se dentro da lingüística, subsídios nas diversas disciplinas que a compõe.
Assim dentre vários campos de pesquisa da linguística, vale ressaltar que a psicolinguística, sociolinguística e a análise do discurso são disciplinas que estão ligadas com a sintaxe e com a semântica, estas são responsáveis pela mobilização da ciência em estudo. Mas, a importância maior se dá a sintaxe como afirma na seguinte citação:
"Nossos gramáticos continuam reelaborando mesmos conceitos com uma atenção doentia para as questões de nomenclatura; e a análise sintática se mantém como principal atividade do ensino de português. Na realidade ela deu corpo à imagem que as pessoas fazem corretamente a respeito da estrutura da língua". (ILARI, 1997, pg. 13)

Com isso, percebe-se que o estudo da estrutura da língua esta restrito somente ao campo da sintaxe, assim a semântica na visão do significado não é estudada com tamanha importância que deveria ser, pois o ensino de português nos dias atuais limita-se apenas a organização de frases meramente sintáticas.
Talvez seja por esse motivo que o nosso português ensinado nas escolas seja tão complicado para alguns, devido a deixar de lado o que pode explicar, ou melhor, traduzir diversas regras no estudo do significado de cada termo, tem-se a semântica para este fim.
Diante do exposto, ILARI (1997), afirma que foi percebido pelos estudiosos que a gramática tradicional não é tão eficaz como antes, pois persiste na mesmice sem ocasionar mudanças, isto é, partir para outros instrumentos de estudo, ai a lingüística aparece fortemente, a fim de propiciar o melhor.
Mas, mesmo subsidiando bastante o ensino de português, há criticas sobre a interação da linguística na formação de professores de letras. Indubitavelmente, porque o campo explica comprovadamente as diferenças existentes na fala da língua materna, com isso proporciona um ensino diversificado, daí muitos não hesitam em afirmar que esse processo é um risco nos valores nacionais.
No entanto, esses valores são visados numa questão extremamente social, isto é, prestigiados e desprestigiados, pois a lingüística junto com suas disciplinas de estudo defende que todos falam corretamente a língua materna, mas com restrições culturais.

A SEMÂNTICA FORMAL E A VISÃO GERATIVISTA
A formalização da semântica se dá entre 1963 e 1982 por meio da gramática gerativa de Chomisky e propõe novas diretrizes para o tratamento gramatical das línguas.
MARQUES (1999, pag. 51) em sua obra Iniciação a Semântica afirma que as diretrizes propostas por Chomisky "têm influências decisivas para a descrição estrutural das seqüências ou cadeias de constituintes em sintagmas e sentenças".
Entre os anos de 63 a 65 a gramática gerativa vai modificar o curso da semântica estrutural, reintroduzindo o conceito da interpretação das estruturas sintáticas.
Segundo TAMBA-MECZ (2006, pag. 35), Chomisky afirma em sua obra intitulada Estruturas Sintáticas publicadas em 1957 que "a gramática gerativa se pretende um estudo autônomo e formal, independente da semântica". A autora ressalta ainda que a gramática gerativa de Chomisky propunha a capacidade de criar regras de formação de todas as frases gramaticais de uma língua.
As regras de estruturas sintáticas que se tratam aqui classificam as sentenças e indica a classe de palavras a que pertencem e as relações gramaticais que estabelecem.
É sabido ainda que os enunciados linguísticos têm estruturas gramaticais que devem ser construídos de acordo com as regras formais que determinam se a seqüência é bem forma (gramatical) ou não (agramatical), pois a gramaticalidade de uma sentença vai depender da aceitação das regras estruturais.
No ano de 1963 os autores Katz e Fodor sugerem integrar uma componente semântica na componente sintática. O princípio era a inclusão na gramática dos fatores fonológicos, fonemáticos, morfológicos e sintáticos. Os estudiosos tentaram explicar a competência do falante, supondo não só o domínio das regras gramaticais como também de regras semânticas.
Em 1965 Chomisky desenvolve o que chamou de gramática gerativa transformacional reordenada, adicionando a componente sintática uma componente semântica interpretativa.
MARQUES (1999) comenta que a introdução de um componente semântico na teoria gerativa desencadeou numerosos problemas para os aspectos sintáticos e os conceitos de concepção da teoria lingüística.
TAMBA-MECZ (2006) também comenta que a introdução do sentido em uma teoria lingüística formal provoca discórdias na comunidade gerativista e pontua que esta teoria questiona o modelo padrão e acarreta uma série de modificações:
"Destinada a completar a sintaxe, a semântica vê atribuídos a si, como objetos próprios de estudo, os resíduos da sintaxe: análise do semantismo interno das unidades lexicais de um lado (sob a forma de um dicionário); análise das relações de sentidos interfrásticos que escapam ao bisturi da gramaticalidade, por outro: sinonímia, paráfrase, contradição, anomalia, ambigüidade, etc, graças ao novo instrumento conceitual, o da aceitabilidade". (Tamba-Mecz, 2006, pag. 36)
As regras de reordenação constituíram mecanismos que os linguistas constroem para reproduzir o que todo falante desenvolve, naturalmente, no processo de aquisição da linguagem.
TAMBA-MECZ (2006) ainda indaga que os falantes têm domínio dos mecanismos lingüísticos decorrentes das propriedades cognitivas, visto que estas são próprias à mente humana.
Vale ressaltar que esse domínio também está vinculado a fatores externos como as circunstâncias socioeconômicas, atitudes emocionais e ainda características do mundo em que o indivíduo está inserido.
O tratamento semântico da linguagem no gerativismo encontra dificuldades em face da visão que fazem da língua a subordinação da lingüística, o que segundo Marques (1999) "cria um sistema abstrato de relações ou regras".
A partir de então, a semântica passaria a integrar a articulação das estruturas sintáticas e lexicais.
Em 1973 uma análise sintática e semântica é desenvolvida e permite situar a semântica no centro das preocupações lingüísticas e a promover conquistas como bem afirma Tamba-Mecz:
"A semântica formal situa sua problemática no nível das relações entre sons e sentidos, formas e significados lingüísticos, por oposição às semânticas que estudam as relações que unem as palavras às coisas ou ao pensamento. Elas examinam essas relações no quadro das frases, unidades teóricas geradas por uma gramática ou conjunto definido de regras, independente de qual seja o contexto de uso". (Tamba-Mecz, 2006, pag. 39).

Reiteradas as modificações, passa-se então a distinguir uma semântica linguística formal e uma semântica que incorpora fatores pragmáticos que possibilitam aos falantes interpretarem enunciados discursivos de vários setores do conhecimento humano.
A semântica direcionada a comunicação dos falantes passa a tratar do significado no discurso ou em textos. Marques (1999) conceitua textos como sendo "unidades discursivas que formam um todo significado, podendo ser representado por manifestações escritas ou faladas".

ESTUDO SOBRE GRAMATICIDADE
Dentre os vários processos de mudanças linguísticas, a gramaticalização é considerada um dos mais comuns que se tem observado nas línguas em geral. A constante renovação do sistema linguístico, percebida, sobretudo, pelo surgimento de novas funções para formas já existentes e de novas formas para funções já existentes ¬, traz à tona a noção de "gramática emergente", concepção assumida de modo explícito ou não por vários estudiosos da gramaticalização.
HOPPER (1987), por exemplo, entende a gramática das línguas como constituída de partes cujo estatuto vai sendo constantemente negociado na fala, não podendo em princípio ser separado das estratégias de construção do discurso.
Já noção de gramaticalização estabelecida por Meillet em 1958, pode ser definida "como a ampliação dos limites de um morfema, cujo estatuto gramatical avança do léxico para a gramática, ou de um nível menos gramatical para um mais gramatical, isto é, de formante derivado para formante flexional". A gramaticalização é, então, a mudança de estatuto de um termo da língua: ao perder "significado", um item lexical passa a ter uma função gramatical.
A classificação do estudo da gramaticalização não é tão simples e clara, pois, a depender do fenômeno, as exigências para a apreensão de seu movimento são amplas. Para alguns a, gramaticalização pode ser um processo, mas também pode ser paradigma, da mesma forma que pode ser um fenômeno diacrônico ou sincrônico.
É considerada paradigma se observada num estudo da língua que se preocupe em focalizar a maneira como formas gramaticais e construções surgem e como são usadas. É considerada processo se se detiver na identificação e análise de itens que se tornam mais gramaticais.
Pode, ainda, ser observada de duas perspectivas: diacrônica, se a preocupação do estudo estiver voltada para a explicação de como as formas gramaticais surgem e se desenvolvem na língua, ou sincrônica, se a preocupação estiver voltada para a identificação de graus de gramaticidade que uma forma lingüística desenvolve a partir dos deslizamentos funcionais a ela conferidos pelos padrões fluidos de uso da língua, portanto, sob um enfoque discursivo ? pragmático.

ESTUDO SOBRE AGRAMATICIDADE
Chomsky não foi o primeiro a propor que os seres humanos já teriam uma gramática pré-formada. Outros estudiosos como Lewis Carrol e Edward Sapir já haviam proposto algo parecido, mas ninguém foi tão fundo como Chomsky.
Segundo CHOMSKY (1965), os seres humanos possuem regras que lhes permite distinguir as frases gramaticais das frases agramaticais, captando as intenções do falante nativo sobre as relações que existem entre as palavras e entre as sentenças.
O seu objetivo explícito de estudar a sintaxe e o sucesso no desenvolvimento de métodos dirigidos à realização deste objetivo, fizeram com que seu trabalho sobressaísse aos de outros estudiosos da língua. Sua convicção mais geral de que vários domínios da mente (tal como a linguagem) operam em termos de regras ou princípios, que podem ser descobertos e enunciados formalmente, constitui seu principal desafio à ciência cognitiva contemporânea.
CHOMSKY (1965) acredita que não será possível chegar as regularidades próprias de cada língua através da observação dos dados da língua para discernir expressões empiricamente observadas. Ao contrário, era necessário trabalhar dedutivamente, tentando entender que tipo de sistema é a linguagem e expondo as conclusões em termos de um sistema formal. Tal análise levaria à postulação de regras que possam explicar a produção de qualquer sentença gramatical concebível sem contudo gerar sentenças incorretas ou agramaticais.
Desse modo, ele adotou dois pressupostos: examinar a sintaxe da língua independente de outros aspectos e proceder aos estudos linguísticos independente de outras áreas da ciência cognitiva. Na maioria dos casos, esses pressupostos contribuíram para tornar a lingüística uma área da ciência de rápido desenvolvimento.
Para atingir esse objetivo Chomsky deveria mostrar que os métodos existentes para analisar a sintaxe e explicar sentenças aceitáveis, a gramática de estado finito e a gramática estrutural, não funcionavam. Em relação a gramática de estados finitos, mostrou que ela é inerentemente incapaz de representar as propriedades recursivas das construções do inglês: isto é, por natureza, uma gramática de estado infinito não pode gerar sentenças nas quais uma oração esteja inserida em outra ou dependa dela.
A gramática estrutural trabalha com um conjunto inicial de cadeias, juntamente com um conjunto finito de estruturas de frases, onde uma frase pode ser reescrita de outra forma admissível. Segundo Chomsky essa gramática só consegue gerar, com grande dificuldade, algumas sentenças, além de não conseguir captar ou explicar muitas das regularidades que qualquer falante do inglês percebe, além de não oferecer nenhum mecanismo para combinação de sentenças.
Assim, Chomsky julgou necessário introduzir um novo nível de estruturas lingüísticas que eliminassem estas dificuldades e possibilitasse a explicação de todo o conjunto de sentenças da língua, a gramática transformacional.
Na gramática transformacional, postula-se uma série de regras pelas quais as sentenças podem ser relacionadas umas às outras e onde uma sentença (a representação abstrata de uma sentença) pode ser convertida ou transformada em outra. Transformações são um conjunto de algoritmos de procedimentos que ocorrem em ordem prescrita e permitem que se converta uma seqüência lingüística em outra. Assim, uma transformação permite que se converta uma sentença ativa em uma sentença passiva, uma expressão afirmativa em uma negativa ou interrogativa.
CHOMSKY (1965) viu a função do lingüista de forma diferente da de seus predecessores. Sua visão de geração gramatical baseava-se na noção de um autômato - uma máquina em um sentido abstrato simplesmente gera cadeias lingüísticas com bases em regras que foram embutidas (programadas) dentro dele.

SEMÂNTICA FORMAL E SUAS RELAÇÕES DE SENTIDO
Anomalia
Segundo CANÇADO (2005) em sua obra "Manual de Semântica", descreve anomalia como sendo, boas sentenças sintaticamente, mas claramente incoerentes ou totalmente sem sentido, que não geram nenhum tipo de acarretamento (verdades).
As noções de contradição e anomalia, ás vezes, se confundem. Porém a estranheza ou incoerência de uma frase contraditória, como Luiz é careca e cabeludo, é que duas situações possíveis e não problemáticas, isoladamente, foram colocadas juntas. Se colocarmos a sentença, A raiz quadrada da mesa de Luiz bebe muito seria estranha por outros motivos. Não há como geram nenhum tipo de acarretamento, isto é, verdade necessária, a partir de uma sentença anômala.
Normalmente, poetas usam, além da contradição, uma linguagem anômala para sugerir as mais diversas interpretações aos leitores, em frases com "Minha escova e loira e alta" , muitos poderiam interpretar que a escova tem o formato de uma mulher, mas, certamente , essa interpretação não seria necessariamente verdade para todos.
CHOMSKY (1965) introduziu a noção de restrições selecionais para marcar tais sentenças como agramaticais, ou seja, quando uma sentença não é considerada uma sentença integrante da língua pelos falantes nativos dessa língua.
Se dissermos que todo falante de português, ao adquirir o verbo beber com integrante do seu léxico, também adquire a informação lexical de que seu complemento é alguma coisa bebível ou, de uma maneira mais geral, algo liquido; e que seu sujeito designa alguma coisa que seja um bebedor, ou mais geralmente, um ente animado, a sentença O campo bebeu todo a água da chuva, poderia ser considerara anômala ou agramatical.
Dificilmente alguém acharia a sentença incoerente, embora ela esteja violando uma das restrições selecionais dos itens lexicais envolvidos, seria possível uma interpretação de forma metafórica.
As sentenças apresentam maior ou menor grau de anomalias, facilmente transformáveis em sentenças aceitas semanticamente e interpretáveis de uma única maneira.
Em outras sentenças altamente anômalas como A raiz quadrada da mesa de Luiz bebe humanidade, por mais que alteremos os traços selecionais, não conseguiríamos chegar a uma interpretação única, ou mesmo coerente, por isso é necessário realçar que as restrições selecionais são somente uma primeira fonte de restrições, que não conseguem limitar todas as possíveis ocorrências anômalas de uma sentença. Mesmo no caso em que não há transformações metafóricas, podem ocorrer outros tipos de problemas.
Contradição
Descrita por Rodolfo Ilari, contradição é toda afirmação que transgride o princípio segundo o qual uma mesma oração não pode ser simultaneamente verdadeira e falsa. ILARI (2006) afirma em sua obra denominada Semântica que:
"Que não há combinação de informações contraditórias que não resista a um esforço motivado de interpretação. Como figura de linguagem, ou interpretadas jocosamente, expressões como o bígamo que não tem duas mulheres, São João mais novo mais nascido antes que São Pedro, o cachorro manso bravo ou a escultura cúbica oval são expressões aceitáveis da linguagem corrente e acabam veiculando informações com qualquer combinação de palavras não contraditórias. (Ilari, 2006, pag. 56.)

Aparentemente, a contradição literal, que poderia ser pensada com um defeito irremediável, capaz de inutilizar a expressão para qualquer fim comunicativo, é , ao contrário, utilizada como indício do caráter insólito da informação que se pretende passar e assim desempenha um papel positivo nas estratégias verbais do locutor.
Para CANÇADO (2005, p. 51), a contradição, assim como a antonímia (oposição de sentido entre as palavras), pode ocorrer de várias maneiras, muitas vezes é a presença de palavras antônimas que desencadeiam as idéias de contraditórias.
No estudo da antonímia destaca-se a antonímia binária, em que a utilização de uma palavra implica a impossibilidade da utilização de outras simultaneamente e com a mesma referencia, pode desencadear uma relação de contradição nas sentenças: Ex.: Luiz é casado e descasado
Quando se tem a antonímia gradativa, ou seja, palavras que estão em terminais opostos de uma escala em uma mesma sentença, também pode ocorrer uma relação de contradição. Ex.: O dia esta quente e frio.
Antônimos inversos também pode desencadear contradições, entretanto, não é só a antonímia que desencadeia uma relação de contradição, ela pode ocorrer quando há negação de uma afirmação anterior ou ainda quando uma das propriedades da semântica é negada na sentença apresentada.
Vale realçar que a contradição, apesar de exprimir situações impossíveis de ocorrer simultaneamente no mundo, é muito utilizada na linguagem com instrumento do discurso: o que é contraditório serve para passar alguma informação extra-sentencial, isto é, podemos inferir, pragmaticamente, informações além das que estão explicitas na sentença.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, não foi possível cobrir todos os aspectos que dizem respeito ao estudo da Semântica. Apenas preocupou-se apresentar um conjunto de dados considerados relevantes para tentar lançar outras preocupações, perspectivas e soluções de caráter científico - social, no que tange o estudo da semântica formal e suas implicações linguísticas e extralinguísticas, tendo como base à leitura, a escrita e a fala em todo o processo de formação.
Fez-se importante aprofundar o estudo da semântica, pois é a partir dela que se pode abranger os níveis linguísticos presentes em nossa língua falada e escrita.
Dentro desse contexto, percebe-se que a nomenclatura gramatical não consegue explicar com exatidão os diversos sentidos que surgem numa sentença. Já a semântica aparece decifrando o sentido das palavras e das frases dentro de contextos diversificados, com isso afirma-se que a semântica é imprescindível na historia linguistica desde o sec XVIII a tempos atuais.
Percebe-se nesta pesquisa que o estudo da estrutura da língua está restrito somente ao campo da sintaxe, assim a semântica na visão do significado não é estudada com tamanha importância que deveria ser, pois o ensino de português nos dias atuais limita-se apenas a organização de frases meramente sintáticas.
Portanto, imagina-se que o motivo de tanta dificuldade para aprender o português e outras línguas seja justamente a preferência por uma gramática composta pela sintaxe que não gera mudanças e nem transmite significados.
Entende-se que com a formalização da semântica foram estabelecidos novas diretrizes para o tratamento gramatical das línguas e que estas diretrizes influenciaram decisivamente na construção das sentenças.
Os estudos mostraram ainda que a introdução do sentido em uma teoria linguística formal provocou discórdias nos estudiosos da época porque a semântica foi colocada numa posição de objeto de estudo da sintaxe o que acarretou numa análise do "semanticismo" interno das unidades lexicais sob a forma de um dicionário.
As pesquisas constataram que as regras de reordenação sentencial constituíram mecanismos que todo falante desenvolve, naturalmente, no processo de aquisição da linguagem e que todos os falantes têm domínio dos mecanismos linguísticos decorrentes das propriedades cognitivas, visto que estas são próprias à mente humana.
Acredita-se que foi a partir do ano de 1973 que a semântica formal se posiciona no centro das preocupações linguísticas e passa a atuar no nível das relações entre sons e sentidos, formas e significados linguísticos e que ocorre neste mesmo período uma distinção entre uma semântica linguística formal e uma semântica que possibilita aos falantes interpretarem enunciados de vários setores do conhecimento humano.
Como base para o estudo da semântica formal estará diretamente associado o estudo de fatores gramaticais, agramaticais, anomalos e contraditorios. Entende-se como fatores gramaticais a ampliação dos limites de um morfema, cujo estatuto gramatical avança do léxico para a gramática, ou de um nível menos gramatical para um mais gramatical, isto é, de formante derivado para formante flexional.
O estudo dos fatores agramaticais estabeleçe uma relação entre as palavras e sentenças, assim sendo uma frase torna-se agramatical quando não faz parte do campo associativo da língua nativa do falante.
As sentenças anômalas se estabelecem quando apresentam-se como sendo uma sentença boa na sua formação sintática, mas claramente incoerentes ou totalmente sem sentido, ou seja, que não geram nenhum tipo de verdade.
A contradição é descrita a partir da transgreção do principio segundo o qual uma mesma oração não pode ser simultaneamente verdadeira e falsa ao mesmo tempo.
Em suma, o campo de abrangência da semântica está ligado às relações sóciolinguísticas, ou seja, o uso da língua no contexto social, prototípico e cultural.

REFERÊNCIAS

CANÇADO, Marcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. 1. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2005.

ILARI, Rodolfo; GERALDI. João Wanderley. Semântica. 11.ed. São Paulo: Ática., 2006.

____________. A lingüística e o ensino da Língua Portuguesa. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

LEITE-GONÇALVES. Sebastião Carlos; LIMA-HERNANDES. Maria Célia; CASSEB-GALVÃO.Vânia Cristina. Introdução a Gramaticalização: princípios teóricos e aplicação. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2007.

LYONS.Jonh. Linguagem e Linguistica: uma introdução. 1. ed. Rio de Janeiro: LCT ? Livros técnicos e científicos. S.A editora, 1981.

MARQUES. Maria Helena Duarte. Iniciação à Semântica. 4. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

MULLER, Ana Lucia; NEGRÃO, Esmeralda Vailati; FOLTRAN, Maria Jose. Semântica Formal. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2003.

OLIVIA, Madre. Semântica e Sintaxe: reflexões para professor de português. 1.ed. Petrópolis: Vozes,1979.

TAMBA-MECZ, Irene. A Semântica. 1.ed.São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

VITRAL. Lorenzo; RAMOS. Jânia. Gramaticalização: uma abordagem formal. São Paulo: Tempos Brasileiros, 2005.

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