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sábado, 14 de abril de 2012

INGEDORE GRUNFELD VILLAÇA KOCH - COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL

BIOGRAFIA

Koch possui graduação em Letras - Português Literatura pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Castro Alves (1974), graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de São Paulo (1956), mestrado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1977), doutorado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1981), e fez seu pós doutorado na Pós-Doutorado Universität Tübingen, Alemanha. Lecionando na Unicamp desde 1985, é livre-docente pela mesma.

PESQUISA ACADÊMICA

A professora Ingedore é uma referência nacional em linguística aplicada, atuando, principalmente, com linguística textual, leitura e interpretação e semântica e estilística. Seus livros são bibliografias básicas de qualquer curso de letras do Brasil.


OBRAS PUBLICADAS

Ler e Escrever: estratégias de produção textual (prelo). São Paulo: Editora Contexto, 2009.
As tramas do texto (Série Dispersos). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
Introdução à Lingüística Textual: trajetória e grandes temas. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça (Org.) ; SCHLIEBEN-LANGE, B. (Org.) ; JUNGBLUTT, Konstanze (Org.) . Dialog zwischen Schulen: Soziolinguistische, konversationsanalytische und generative Beiträge aus Brasilien. 1. ed. Münster: Nodus Publikationen, 2003.

Desvendando os segredos do texto. 4a.. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
O Texto e A Construção do Sentido. Campinas, SP: Contexto, 1997. v. 2000. 124 p.
Gramática do Português Falado: Desenvolvimentos. 1a.. ed. Campinas- SP: EDUNICAMP/FAPESP, 1997. A Interação Pela Linguagem. SAO PAULO: CONTEXTO, 1992.
Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 1992. A Coesão Textual. SAO PAULO: CONTEXTO, 1989.
Argumentação e Linguagem. SAO PAULO: CORTEZ, 1984.


KOCH, Ingedore Villaça. Lingüística Textual: uma entrevista com Ingedore Villaça Koch. Revista Virtual de Estudos da Linguagem - ReVEL. Vol. 1, n. 1, agosto de 2003. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].

LINGUÍSTICA TEXTUAL – UMA ENTREVISTA COM INGEDORE
VILLAÇA KOCH

Ingedore Villaça Koch
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

ReVEL - O que mudou e o que ainda pode mudar no ensino de Língua Portuguesa a partir dos estudos de Lingüística Textual?

Ingedore - A maior mudança foi que se passou a tomar o TEXTO como objeto central do ensino, isto é, a priorizar, nas aulas de língua portuguesa, as atividades de leitura e produção de textos, levando o aluno a refletir sobre o funcionamento da língua nas diversas situações de interação verbal, sobre o uso dos recursos que a língua lhes oferece para a concretização de suas propostas de sentido, bem como sobre a adequação dos textos a cada situação.
Quanto ao que ainda pode mudar, diria que, em primeiro lugar, tal metodologia teria de ser estendida a TODAS as escolas, públicas e privadas, o que, evidentemente, ainda está longe de ser uma realidade. Para tanto, TODOS os professores teriam de estar preparados para utilizar em aula os conceitos e as estratégias propagadas pela Lingüística Textual e aplicá-las no ensino da produção textual, quer em termos de escrita, quer de leitura, já que esta orientação conforma-se ao que postulam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa.

ReVEL - Qual a principal contribuição da Lingüística Textual para o professor de língua materna?

Ingedore - Para mim, a principal contribuição, conforme foi esboçado acima, é dotar o professor de um instrumental teórico e prático adequado para o desenvolvimento da competência textual dos alunos, o que significa torná-los aptos a interagir socialmente por meio de textos dos mais variados gêneros, nas mais diversas situações de interação social. Isto significa, inclusive, uma revitalização do estudo da gramática: não, é claro, como um fim em si mesma, mas no sentido de evidenciar de que modo o trabalho de seleção e combinação dos elementos, dentro das inúmeras possibilidades que a gramática da língua nos põe à disposição - e que, portanto, é preciso conhecer -, nos textos que lemos ou produzimos, constitui um conjunto de decisões que vão funcionar como instruções ou sinalizações a orientar a construção do sentido.

ReVEL - Qual o lugar do Brasil nos estudos da Lingüística Textual?

Ingedore - Atualmente, a Lingüística Textual, que se desenvolveu na Europa, particularmente na Alemanha, vem ocupando um lugar de destaque no cenário acadêmico nacional. Este ramo da Lingüística, depois de ter sido introduzido na Universidade Federal de Pernambuco e em universidades paulistas (PUC-SP, UNICAMP, UNESP, USP), ganhou espaço em grande número de universidades brasileiras, vindo a fazer parte dos currículos de graduação e pós-graduação, o que deu origem a um número respeitável de publicações na área, além de uma série de teses e dissertações, que têm contribuído para a sua divulgação no país e no exterior.

ReVEL - Segundo você, quais são os limites da Linguística Textual e quais são suas perspectivas?

Ingedore - A Lingüística Textual, como toda e qualquer ciência, tem evidentemente os seus limites. Sua preocupação maior é o texto, envolvendo, pois, todas as ações lingüísticas, cognitivas e sociais envolvidas em sua organização, produção, compreensão e funcionamento no seio social. Tais questões, contudo, só a interessam na medida em que ajudam a explicar o seu objeto de estudo - o TEXTO - e não a sociedade, a mente, a História, objetos que são de outras ciências afins.
Como defende Antos (1997), os textos, como formas de cognição social, permitem ao homem organizar cognitivamente o mundo. E é em razão dessa capacidade que são também excelentes meios de intercomunicação, bem como de produção, preservação e transmissão do saber. Determinados aspectos de nossa realidade social só são criados por meio da representação dessa realidade e só assim adquirem validade e relevância social, de tal modo que os textos não apenas tornam o conhecimento visível, mas, na realidade, sociocognitivamente existente. A revolução e evolução do conhecimento necessita e exige, permanentemente, formas de representação notoriamente novas e eficientes.
Assim, a Linguística Textual, baseada nessa concepção de texto, parece ter-se tornado um entroncamento, para o qual convergem muitos caminhos, mas que é também o ponto de partida de muitos deles, em diversas direções. Esta metáfora da Linguística de Texto como estação de partida e de passagem de muitos - inclusive novos - desenvolvimentos abre perspectivas otimistas quanto a seu futuro, como parte integrante não só da Ciência da Linguagem, mas das demais ciências que têm como sujeito central o ser humano.
É esta a razão por que a Ciência ou Lingüística do Texto sente necessidade de intensificar sempre mais o diálogo que já há muito vem travando com as demais Ciências - e não só as Humanas! -, transformando-se numa "ciência integrativa" (Antos & Tietz, 1997). É o caso, por exemplo, do diálogo com a Filosofia da Linguagem, a Psicologia Cognitiva e Social, a Sociologia Interpretativa, a Antropologia, a Teoria da Comunicação, a Literatura, a Etnometodologia, a Etnografia da Fala e, mais recentemente, com a Neurologia, a Neuropsicologia, as Ciências da Cognição, a Ciência da Computação e, por fim, com a Teoria da Evolução Cultural. Torna-se, assim, cada vez mais, um domínio multi- e transdisciplinar, em que se busca compreender e explicar essa entidade multifacetada que é o texto - fruto de um processo extremamente complexo de interação e construção social de conhecimento e de linguagem.

ReVEL - Quando se trata de Lingüística Textual, quais seriam as obras essenciais que você poderia indicar para que um estudante de Letras pudesse se iniciar no assunto?

Ingedore - Obras próprias:
A Coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1989.
A Inter-ação pela Linguagem. São Paulo: Contexto, 1992.
O Texto e a Construção dos Sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo: Cortez, 2002.
Koch & Travaglia. A Coerência Textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Koch & Travaglia. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez, 1989.
Koch & Fávero. Lingüística Textual: Introdução. São Paulo: Cortez, 1983.
Vilela & Koch: Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001.
Obras alheias:
Marcuschi, Luiz Antônio. Lingüística de Texto: o que é e como se faz. Universidade
Federal de Pernambuco, 1983.
Fávero, Leonor L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
Guimarães, Elisa. A organização do texto. São Paulo: Ática, Série Princípios, 1992.
Bastos, Lúcia K. Coesão e coerência em narrativas escolares escritas. São Paulo:
Martins Fontes, 1985.
Buin, Edilaine. Aquisição da escrita: coesão e coerência. São Paulo: Contexto, 2002.
Massini-Cagliari, Gladis. O texto na alfabetização: coesão e coerência. Campinas:
Mercado de Letras.
Costa Val, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
Ruiz, Eliana. Como se corrige redação na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2001.
Bentes, Anna Christina. A Lingüísitca Textual. In: Mussalin & Bentes (orgs.).
Introdução à Lingüística, vol. I, São Paulo: Cortez, 2000.



COESÃO TEXTUAL - CONCEITO GERAL

COESÃO TEXTUAL
É um tipo de articulação gramatical entre os elementos de um texto - o texto, compreendido como 'tecido’, 'trama'. A esse mecanismo que permite estabelecer boas relações entre os elementos do texto para facilitar o entendimento e torná-lo mais encorpado, agradável, mais atraente, é que se chama coesão textual ou recursos coesivos.
A construção de um texto se faz em torno de um assunto pontuado - um tema. Esse tema, de uma certa forma, tem que ser referenciado até o fim do texto, mas será misturado a outros subtemas, que farão parte das argumentações discursivas e que vão gravitando em volta do tema central. Dessa forma vai-se mantendo o assunto no fio do discurso e compondo o texto, a tessitura. Tudo gira em torno de um jogo: um tema, um comentário - quando se faz o comentário, ele vira tema e nesse jogo de tema/comentário vai-se formando o texto.
Num texto, os termos estão muito correlacionados, pois se o assunto deve se manter no fio do discurso, ele vai sendo referenciado muitas vezes e de diversas maneiras. Essas referenciações necessárias na elaboração do texto são feitas por recursos coesivos - a isso é que se denomina 'coesão textual'.
São tantos os recursos coesivos que podem ser utilizados para manter a coesão do texto, que para estudo, costuma-se dividi-los em tipos: recursos gramaticais e recursos lexicais. Os livros da linguista Ingedore Villaça Koch são ótimos para compreender esse assunto. Dentro da classificação dos recursos gramaticais há o emprego dos pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos, indefinidos, relativos, advérbios, as desinências, etc. Como recursos lexicais compreendem-se as rotulações, as nominalizações, a hiponímia, sinonímia, etc.

A palavra texto provém do latim "textum", que significa tecido, entrelaçamento. Expondo de forma prática, podemos dizer que texto é um entrelaçamento de enunciados oracionais e não oracionais organizados de acordo com a lógica do autor.
Há de se convir que um texto também deve ser claro, estando essa qualidade relacionada diretamente aos elementos coesivos (ligação entre as partes).
Falar em coesão é necessariamente falar em endófora e exófora. Aquela se impõe no emprego de pronomes e expressões que se referem a elementos nominais presentes na superfície textual; esta faz remissão a um elemento fora dos limites do texto. Vejamos as principais características de cada uma delas:

Endófora é dividida em: anáfora e catáfora.

a) Anáfora: expressão que retoma uma ideia anteriormente expressa.

"Secretária de Educação escreve pichação com "x". Ela justifica a gafe pela pressa".
Observe que o pronome "Ela" retoma uma expressão já citada anteriormente - Secretária de Educação - , portanto trata-se de uma retomada por anáfora.
Dica: vale lembrar que a expressão retomada (no exemplo acima representada pela porção Secretária de Educação) é, também, chamada, em provas de Concurso, de referente ideológico.
b) Catáfora: pronome ou expressão nominal que antecipa uma expressão presente em porção posterior do texto. Observe:

Só queremos isto: a aprovação!

No exemplo, o pronome "isto" só pode ser recuperado se identificarmos o termo aprovação, que aparece na porção posterior à estrutura. É, portanto, um exemplo clássico de catáfora. Vejamos outros:

Eu quero ajuda de alguém: pode ser de você. (catáfora ou remissão catafórica)

Não viu seu amigo na festa.
(catáfora ou remissão catafórica)
"A manicure Vanessa foi baleada na Tijuca. Ela levou um tiro no abdome".
(anáfora ou remissão anafórica)
Três homens e uma mulher tentaram roubar um Xsara Picasso na Tijuca: deram 10 tiros no carro, mas não conseguiram levá-lo. (anáfora ou remissão anafórica)
Exófora: a remissão é feita a algum elemento da situação comunicativa, ou seja, o referente está fora da superfície textual.
O referente "você" está fora da estrutura textual, ou seja, uma remissão exofórica.
Falamos, na 1ª parte deste artigo, sobre a remissão por anáfora e por catáfora. Nesta 2ª parte, aprofundaremos um pouco mais o assunto. Para tal, veremos, detalhadamente, os possíveis mecanismos de coesão.
Mecanismos de coesão: é meio pelo qual ocorre a coesão em um texto. Os principais são:
1) Coesão por substituição: consiste na colocação de um item em lugar de outro(s) elemento(s) do texto, ou até mesmo de uma oração inteira.
Ele comprou um carro. Eu também quero comprar um.
Ele comprou um carro novo e eu também.
Observe que ocorre uma redifinição, ou seja, não há identidade entre o item de referência e o item pressuposto. O que existe, na verdade, é uma nova definição nos termos: um, também. Comparemos com outro exemplo:
Comprei um carro vermelho, mas Pedro preferiu um verde.
O termo "vermelho" é o adjunto adnominal de carro. Ele é, então, o modificador do substantivo.
Todavia, esse termo é silenciado e, em seu lugar, faz-se presente a porção especificativa "verde". Logo, trata-se de uma redefinição do referente.
2) Coesão por elipse: ocorre quando elemento do texto é omitido em algum dos contextos em que deveria ocorrer.
-Pedro vai comprar o carro?
- Vai!
Houve a omissão dos termos Paulo (sujeito) e comprar o carro (predicado verbal), todavia essa não prejudicou nem a correção gramatical nem a clareza do texto. Exemplo clássico de coesão por elipse.
coesão por conjunção e coesão lexical. Vejamos, a partir de agora, detalhadamente cada um deles:

3) Coesão por Conjunção: estabelece relações significativas entre os elementos ou orações do texto, através do uso de marcadores formais - as conjunções. Essas podem exprimir valor semântico de adição, adversidade, causa, tempo...

Perdeu as forças e caiu. (adição)
Perdeu as forças, mas permaneceu firme. (adversidade)
Perdeu as forças, porque não se alimentou. (causa)
Perdeu as forças, quando soube a verdade. (tempo)
Observe que todas as relações de sentido estabelecidas entre as duas porções textuais são feitas por meio dos conectores: e, mas, porque, quando.
4) Coesão Lexical: é obtida pela seleção vocabular. Tal mecanismo é garantido por dois tipos de procedimentos:
a)Reiteração: ocorre por repetição do mesmo item lexical ou através de hiperônimos, sinônimos ou nomes genéricos.
O aluno estava nervoso. O aluno havia sido assaltado. (repetição do mesmo item lexical)
Uma menina desapareceu. A garota estava envolvida com drogas.
(coesão resultante do uso de sinônimo)
Havia muitas ferramentas espalhadas, mas só precisava achar o martelo.
(coesão por hiperônimo: ferramentas é o gênero de que martelo é a espécie)
Todos ouviram um barulho atrás da porta. Abriram-na e viram uma coisa em cima da mesa.
(coesão resultante de um nome genérico)
Observação: nos exemplos acima, observamos que retomar um referente por meio de uma expressão genérica ou por hiperônimo é um recurso natural de um texto.
Muitos estudantes de concursos ou vestibulares perguntam se é errado repetir palavras em suas redações. A resposta é simples: se houver, na repetição, finalidade enfática você não será penalizado.
Todavia, a escolha dos recursos coesivos mais adequados deve ser feita, levando-se em consideração a articulação geral do texto e, eventualmente, os efeitos estilísticos que se deseja obter.
b) Coesão por colocação ou contiguidade: consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo semântico.
Houve um grande evento nas areias de Copacabana, no último dia 02.
O motivo da festa foi este: o Rio sediará as olimpíadas de 2016.


FONTES:
http://www.portuguesconcurso.com/2009/10/exercicios-de-coesao-textual.html


COERÊNCIA TEXTUAL

Coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de um texto. É o instrumento que o autor vai usar para conseguir dar um sentido completo a ele.
Em uma redação, para que a coerência ocorra, as idéias devem se completar. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se contradizerem ou por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso acontece, dizemos que houve um quebra de coerência textual.
A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão textual, isto é, a compreensão de um texto é melhor capturada com o auxílio de conectivos, preposições, etc.
A incoerência de um texto pode ser observada por um falante da língua, mas não é tão fácil identificá-la quando estamos escrevendo. 
Pode-se dizer que um texto é incoerente quando o entendimento deste é comprometido. Na maioria das vezes esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas não podemos achar que as dificuldades de organização das idéias se resumem à coerência ou a coesão. É certo que elas facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para resolver todos os problemas.

A definição encontrada em um dicionário para coerência é:
Coerência: [s.f.] 1. qualidade, condição ou estado de coerente; 2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão.
Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
 
O conceito de coerência refere-se ao nexo entre ideias, acontecimentos, circunstâncias.
A coerência textual é a relação existente entre as partes do texto, é o vínculo entre as idéias expostas nele, essa é responsável pela percepção de sentido.
Para julgarmos um texto coerente ou não devemos levar em consideração o contexto, pois esse determina a plena interpretação, deve-se levar em conta a intenção comunicativa, bem como os objetivos, destinatário e regras socioculturais.
A coerência está relacionada ao conteúdo veiculado em um texto.

Por Sabrina Vilarinho




HOMENAGEM A INGEDORE GRUNFELD VILLAÇA KOCH
Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)
leonorwerneck@yahoo.com.br
Esta homenagem a Ingedore Koch, do Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos, com a “Medalha Isidoro de Sevilha de Destaque em Lingüística e Filologia em 2007”, é mais que merecida. Este momento, partilhado com profissionais da ordem de Luiz Antonio Marcuschi e Maria Helena Moura Neves, coloca em destaque uma tríade de pesquisadores que definiram novos rumos da Lingüística no Brasil, nos últimos anos. Participar desta tripla homenagem é uma felicidade. E representar Ingedore, uma honra.
Apresentar nossa querida Inge (seu apelido carinhoso) é tarefa fácil e, ao mesmo tempo, difícil. Como apresentar uma das precursoras da Lingüística Textual no Brasil, junto com nosso querido e também homenageado Luiz Antonio Marcuschi? Como falar da pessoa amiga que tem sempre um abraço caloroso à nossa disposição? Como resumir a produção acadêmica de alguém que, com aparência tão frágil, surpreende pelo vigor com que continua a orientar, publicar, apresentar trabalhos em congressos?
Começo pela produção acadêmica: mais de 20 livros, dezenas de orientações e co-orientações de Mestrado e Doutorado, uma centena de capítulos de livros e artigos publicados, cerca de 200 participações em congressos nacionais e internacionais, mais de 200 participações em Bancas de Dissertações e Teses. Se os números impressionam pela quantidade de pesquisas e orientações, mais importante é destacar a qualidade do trabalho de quem, ao longo de décadas de magistério, sempre primou pela ética, seriedade, dedicação e – característica às vezes difícil de encontrar – humildade.
Peço licença, aqui, para relatar meus primeiros contatos com Ingedore. Em 1997, quando ainda iniciava meu Doutorado pela UFRJ e contava apenas 2 anos de magistério nessa Universidade, participei do Congresso da ABRALIN, em Maceió. Na ocasião, durante 2 semanas, pude fazer um curso com alguém que só conhecia dos livros, e, em todas as aulas, o que se via era uma senhora delicada, atenta a cada pergunta que fazíamos, divertida nos comentários, séria nas citações, determinada a fazer-nos acompanhar as mais recentes pesquisas de Lingüística Textual. A paixão foi imediata!
Meses depois, ao definir minha linha de pesquisa, conversando com minha orientadora, a Profa. Dra. Maria Eugenia Lamoglia Duarte, logo surgiu a idéia de chamarmos Ingedore Koch para co-orientar minha Tese. Fui a Campinas, após uma breve conversa por telefone, envergonhada de incomodar alguém tão ocupada com minhas dúvidas e sem saber como fazer-lhe o convite para a co-orientação. Ao chegar ao seu gabinete de trabalho na UNICAMP, Ingedore me recebeu com o caloroso abraço de sempre, o sorriso que não deixava dúvidas da alegria em me rever... e uma pilha de textos que havia separado para me ajudar na pesquisa, sem que eu sequer houvesse pedido qualquer ajuda. Emocionada, pedi-lhe que me co-orientasse e ouvi em resposta: “Fico feliz de você ter me convidado! É claro que aceito!”.
A disposição em dividir seu conhecimento, o olhar atento para novas descobertas, a alegria em participar de conquistas, tudo isso marca o contato de todos que podem partilhar alguns momentos com Inge.
Se descrevi sua produção acadêmica e algumas características pessoais, falta, então, concluir, destacando a importância de Ingedore Koch para os estudos lingüísticos.
Pioneira na Lingüística Textual no Brasil, já no início da década de 80, Ingedore desenvolvia projetos de pesquisa voltados para uma área que, na época, era vista com desconfiança. Segundo Marcuschi, em emocionante texto também em homenagem a Ingedore.
Aquele trabalho naquele contexto não foi fácil, pois ali estava um momento particularmente difícil para esse tipo de investigação. O gerativismo andava na crista da onda e as linhas de trabalho ditas “discursivas” não eram bem-vistas. Foi a qualidade do trabalho aliada à intensidade das investigações relacionadas ao ensino de língua que resultou uma perspectiva teórica hoje madura e influente na renovação dos critérios, categorias e propostas de pesquisa e ensino da língua. O papel de incentivadora que Ingedore Koch teve e ainda tem nesse complexo processo de reordenamento teórico em âmbito nacional é não apenas indiscutível, mas visível na sua presença como mentora e teórica de primeira água. Com Ingedore, passamos a entender a trajetória e os grandes temas da Lingüística Textual, descobrimos que linguagem é inter-ação e texto é tecido, teia, iceberg cujos segredos devem ser desvendados. Em seus livros, somos apresentados a conceitos como cognição, discurso, interação, aprendemos a ler e compreender os sentidos do texto, a perceber diálogos possíveis com a intertextualidade, a observar a construção dos sentidos e o processo de referenciação.
Assim é nossa querida Inge: amiga, pesquisadora respeitada, professora dedicada, autora de livros essenciais na formação de profissionais de Letras e Lingüística, alguém que não hesita em dizer “não sei” diante de uma pergunta, mas não demora a apontar hipóteses e sugerir bibliografia para solucionar nossos questionamentos. Ou ainda a “Dama do Texto”, segundo Marcuschi (Id., ibid.). Esta homenagem, como disse no início desta breve e singela apresentação, é mais que merecida. Digna de alguém que nos serve de exemplo e que nos ensina a cada momento, como Guimarães Rosa, que “O professor é aquele que, de repente, aprende”.
Rio de Janeiro, 4 de abril de 2008.

Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)

MARCUSCHI, L. A. Ingedore Koch e os segredos do texto. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas, (44): 11-17, jan./jul. 2003. (número em homenagem a Ingedore Koch)

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