Luis Carlos Bresser Pereira, economista e
ex-ministro de Sarney e FHC, acredita que somente os ricos e a classe média
branca odeiam. Declarou o seguinte ao jornal Folha de São Paulo: “Surgiu um
fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos,
a um partido e a um presidente”.
Ninguém odeia sozinho. Ódio não é privilégio de
rico nem de pobre. De longe, o ódio é o sentimento mais democrático que existe.
E tem mão dupla.
Como se os ricos nunca tivessem odiado João
Goulart, por exemplo. Ou como se os ricos pudessem “comprar” mais ódio que os
pobres. Que eu saiba, sempre tivemos( e teremos) mais pobres do que
ricos, portanto Bresser Pereira não cometeu apenas um equívoco histórico:
numericamente está errado. E biologicamente também. O pobre, ou pelo
menos o pobre com instinto de sobrevivência, sempre odiou e sempre vai odiar o
rico.
Nessa entrevista, desastradamente afiançada por
Luis Fernando Veríssimo, Bresser Pereira viaja bonito na maionese, diz coisas
do tipo: “(…)esse ódio decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo
de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não
se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou
uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à
classe rica, aos rentistas”.
“Compromissos” firmados com as empreiteras
revolucionárias de esquerda, suponho. Segundo Bresser Pereira, as construtoras
Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Camargo Correia, Queiroz Galvão e as demais,
sempre, acima de qualquer negócio e até mesmo acima do lucro, sempre defenderam
os interesses do povo brasileiro. Tá.
As mesmas que em nome da ordem e do progresso,
visando o bem-estar do povo brasileiro “construíram” a Transamazônica nos anos
setenta, e que, hoje, estão atoladas até o pescoço com a corrupção na
Petrobras. A mesmas que ergueram o Brasil gigante e milagroso da ditadura
militar. Imagino que o governo revolucionário brasileiro do PT que, segundo
Bresser Pereira, ama os pobres e os defende da sanha dos ricos, também deve
incluir nossos banqueiros entre os filantropos e benfeitores da nação.
Somente com juros a 300% ao ano combate-se a classe rica e se transfere
renda para os pobres. Dá lhe, Bresser!
Um parêntese.
Dia 13 de março - Sergio Gabrielli em cima
de um carro de som vociferando contra a corrupção na Petrobras.
Dia 15 de março - Madame descalibrada
pedindo a volta dos militares (no lugar de “madame” leia-se marcha da
família com Deus pela liberdade, TFP e uma dezena de outras suásticas e caricaturasgourmets).
A expressão de madame é algo que vai além da
caricatura, é algo repulsivo. Mas o estrago que o ex-reitor da Universidade
Federal da Bahia efetivamente causou no comando da Petrobras é
incomparavelmente maior, real e muito mais do que repulsivo, é nefasto. Gabrielli
é um dos maiores caras de pau da história do Brasil. Madame é somente uma
piada de péssimo gosto: ao contrário dos prejuízos materias -inclua-se o ódio -
espalhados por Gabrielli e afins, a figura nojenta de madame (egourmets supracitados) encerra-se na própria
repulsa e caricatura.
Fecha parêntese.
Lamentável que L.F. Veríssimo tenha não apenas
republicado, mas também chancelado a entrevista “heróica” de Bresser Pereira.
No final de sua crônica confessa “terna admiração” pela mentirada e pelo
ódio espalhado por Bresser Pereira, um ódio que - como eu disse acima - é
democrático, malandramente subliminar, tem mão dupla e, acrescento, pode se
desdobrar em muitos outros ódios, e também pode ser letal.
Ah, quase esqueço: vai catar coquinho, Juca
Kfouri.
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/marcelo-mirisola/odio-tem-mao-dupla-191437053.html Acesso em 22 de março de 2015
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