Marina estranhou quando, do nada, um rapaz se
aproximou dela e, olhando em seus olhos, ele disse:
— Tu já sonhou comigo?
Marina, branca que era, corou. Os olhos se encheram de surpresa. Deu um sorriso involuntário de tão espontâneo que saiu.
O rapaz também sorriu, sem a mínima vergonha. Mas quem era aquele fulano tão cara de pau ? Se perguntava Marina. E, sem querer, foi tomada por aquela dúvida.
Ora, poderia ser o garçom, pensou. Mas que garçom atrevido seria ! E ele não usava farda. Ao contrário. O sujeito parecia nunca ter usado uma farda na vida, de tão despojado que era. Vestia uma camiseta preta que tivera as mangas cortadas para se tornar camiseta, calção de jogo meio desbotado, talvez pela velhice do tecido. Mas tinha um sorriso simpático, um sorriso largo que convidava para uma prosa, aqui e agora, assim, "carpe diem".
Ele tinha um andar tão desajeitado, reparou Marina quando ele se aproximava, que não havia condições de ser um jogador, mesmo amador. De fato, ele não tinha aquele gingado de ousadia e alegria no andar, usava sandálias bem simples e o semblante do rapaz realmente não se encaixava com o desses boleiros estilosos: Era barbudo, carregava nos olhos olheiras de quem quase não dorme, tinha tudo para ser um chato logo de cara, porém, carregava uma suavidade em toda a face, brandura que contagiava. E aquele brinco de argola quebrara de vez qualquer postura séria possivelmente atribuída ao rapaz.
— Tu já sonhou comigo?
Marina, branca que era, corou. Os olhos se encheram de surpresa. Deu um sorriso involuntário de tão espontâneo que saiu.
O rapaz também sorriu, sem a mínima vergonha. Mas quem era aquele fulano tão cara de pau ? Se perguntava Marina. E, sem querer, foi tomada por aquela dúvida.
Ora, poderia ser o garçom, pensou. Mas que garçom atrevido seria ! E ele não usava farda. Ao contrário. O sujeito parecia nunca ter usado uma farda na vida, de tão despojado que era. Vestia uma camiseta preta que tivera as mangas cortadas para se tornar camiseta, calção de jogo meio desbotado, talvez pela velhice do tecido. Mas tinha um sorriso simpático, um sorriso largo que convidava para uma prosa, aqui e agora, assim, "carpe diem".
Ele tinha um andar tão desajeitado, reparou Marina quando ele se aproximava, que não havia condições de ser um jogador, mesmo amador. De fato, ele não tinha aquele gingado de ousadia e alegria no andar, usava sandálias bem simples e o semblante do rapaz realmente não se encaixava com o desses boleiros estilosos: Era barbudo, carregava nos olhos olheiras de quem quase não dorme, tinha tudo para ser um chato logo de cara, porém, carregava uma suavidade em toda a face, brandura que contagiava. E aquele brinco de argola quebrara de vez qualquer postura séria possivelmente atribuída ao rapaz.
Minutos antes, Marina se encontrava sozinha na
mesa onde estava, comendo um pão frio e bebendo um café meio morno. Estava lá
na lanchonete do seu Juju. E, naquele dia — raro —, a lanchonete se encontrava
quase vazia. Seu Juju era sensação na cidade, fazia um cachorro quente como
ninguém. Fora a alegria típica que sempre o acompanhava, seu Juju não negava um
sorriso a ninguém. E era impossível não sorrir de volta. Seu Juju tinha uns
olhos orientais que praticamente sumiam sempre que ele sorria, como vivia sorrindo,
estava sempre com uma expressão jocosa estampada no rosto. Marina dera duas
mordidas no pão e o deixara de lado, o olhava com uma cara feia, feito essas
crianças birrentas. A garota estava com os cabelos assanhados, a cara feia
olhando o pão frio, unhas de esmalte ruído e uma expressão de desgaste que se
espalhava pela figura dela. Faltava pouco para completar o rótulo — clássico —
de menino buchudo: Catarro escorrendo e um pijaminha velho e rasgado que um dia
fora rosa.
Entrou um rapaz na lanchonete. O rapaz era cliente antigo de seu Juju e sempre o cumprimentava com tamanha felicidade. Embora fizesse sempre aquele carnaval ao cumprimentar o oriental, todos ainda olhavam estranhamente por um breve momento. Nem seu Juju, muito menos o rapaz, se incomodavam com isso.
O rapaz sentou-se ao balcão e pediu um suco de jaca com leite. Como de costume. Terminou seu suco, pagou e, quando pelo caminho da saída, avistou a figura triste duma moça sozinha. Achou intrigante. O rapaz tinha um ar de palhaço, e tinha mesmo o dom de fazer as pessoas rirem com facilidade. Perspicaz que era, logo formulou algo e se aproximou dela. E lançou uma pergunta acompanhada dum sorriso:
— Tu já sonhou comigo?
Pouco depois, disse:
— Rodrigo. E já foi logo puxando a cadeira e sentando ao lado da moça.
Ela apenas tinha um sorriso leve e as bochechas visivelmente coradas.
— Tu é doido? Disse ela ainda com um leve sorriso.
Ele riu e olhou ao redor. Estava mesmo vazia a lanchonete naquele dia.
Ele a olhou nos olhos. Ela tinha uma expressão de quem não acreditava naquilo.
Parece que esquecia, a medida que aquele relógio velho pregado na parede da lanchonete corria os ponteiros, que andava sem vontade havia três meses. Aos poucos, ia perdendo a postura de "menina buchuda". Claramente tinha os olhos mais alegres.
— E tu, tem nome? Disse Rodrigo.
— Marina.
Clichê, ele disse:
— Tem cara mesmo. E sorriu.
Continuou ele:
— Pensava que tu ia me mandar pegar o beco, com a cara de menina birrenta que tava...
— Folgado você, né?
— Minha mãe quem diz. Deu uma gargalhada leve.
Rodrigo sempre levava um lápis no bolso e um bloquinho já meio velho.
Puxou os dois do bolso e rabiscou algo com uma letra troncha, difícil de entender.
— Espia se tu gosta. E mostrou dois versos a ela.
— Foi tu que fez?
— Parece ser meu tipo?
— A letra ? Tua cara. Agora, ela quem gargalhou da cara que fez o rapaz, e com gosto.
— Tá se soltando, né, Maria? Ironizou.
— Marina, poeta.
— Engraçado, tem um desenho aí que parece contigo.
Tomou o bloquinho da mão da moça e pôs numa folhinha miúda que continha uma bola com dois pontos e um traço fazendo alusão a um sorriso.
— Ah, bestão. Quem é birrento agora?
Ele deu língua e depois sorriu.
De repente, Rodrigo se levantou e fez sinal de despedida com a mão. Deu dois passos e olhou a moça nos olhos. Deu um último sorriso e saiu da lanchonete do seu Juju.
Marina nada entendia. Estava claramente confusa com aquele contraste. Ora ele chegara do nada e oferecia um sorriso e uma pergunta sem sentido. E, do nada, saia sem dar explicação. "Típico dos homens", pensou. Mas ela sentiu atração pela simpatia de Rodrigo. Tomou atitude, afinal, era mulher, era decidida, destemida. Levantou-se para perseguir o rapaz e inquirir, afinal, o que o desgraçado queria com aquilo, se era só brincadeira ou se, de repente, ele era esquizofrênico. Quando reparou uma folhinha miúda e amarela sobre a mesa. Lá estavam os dois versos e, atrás, o número do rapaz.
Entrou um rapaz na lanchonete. O rapaz era cliente antigo de seu Juju e sempre o cumprimentava com tamanha felicidade. Embora fizesse sempre aquele carnaval ao cumprimentar o oriental, todos ainda olhavam estranhamente por um breve momento. Nem seu Juju, muito menos o rapaz, se incomodavam com isso.
O rapaz sentou-se ao balcão e pediu um suco de jaca com leite. Como de costume. Terminou seu suco, pagou e, quando pelo caminho da saída, avistou a figura triste duma moça sozinha. Achou intrigante. O rapaz tinha um ar de palhaço, e tinha mesmo o dom de fazer as pessoas rirem com facilidade. Perspicaz que era, logo formulou algo e se aproximou dela. E lançou uma pergunta acompanhada dum sorriso:
— Tu já sonhou comigo?
Pouco depois, disse:
— Rodrigo. E já foi logo puxando a cadeira e sentando ao lado da moça.
Ela apenas tinha um sorriso leve e as bochechas visivelmente coradas.
— Tu é doido? Disse ela ainda com um leve sorriso.
Ele riu e olhou ao redor. Estava mesmo vazia a lanchonete naquele dia.
Ele a olhou nos olhos. Ela tinha uma expressão de quem não acreditava naquilo.
Parece que esquecia, a medida que aquele relógio velho pregado na parede da lanchonete corria os ponteiros, que andava sem vontade havia três meses. Aos poucos, ia perdendo a postura de "menina buchuda". Claramente tinha os olhos mais alegres.
— E tu, tem nome? Disse Rodrigo.
— Marina.
Clichê, ele disse:
— Tem cara mesmo. E sorriu.
Continuou ele:
— Pensava que tu ia me mandar pegar o beco, com a cara de menina birrenta que tava...
— Folgado você, né?
— Minha mãe quem diz. Deu uma gargalhada leve.
Rodrigo sempre levava um lápis no bolso e um bloquinho já meio velho.
Puxou os dois do bolso e rabiscou algo com uma letra troncha, difícil de entender.
— Espia se tu gosta. E mostrou dois versos a ela.
— Foi tu que fez?
— Parece ser meu tipo?
— A letra ? Tua cara. Agora, ela quem gargalhou da cara que fez o rapaz, e com gosto.
— Tá se soltando, né, Maria? Ironizou.
— Marina, poeta.
— Engraçado, tem um desenho aí que parece contigo.
Tomou o bloquinho da mão da moça e pôs numa folhinha miúda que continha uma bola com dois pontos e um traço fazendo alusão a um sorriso.
— Ah, bestão. Quem é birrento agora?
Ele deu língua e depois sorriu.
De repente, Rodrigo se levantou e fez sinal de despedida com a mão. Deu dois passos e olhou a moça nos olhos. Deu um último sorriso e saiu da lanchonete do seu Juju.
Marina nada entendia. Estava claramente confusa com aquele contraste. Ora ele chegara do nada e oferecia um sorriso e uma pergunta sem sentido. E, do nada, saia sem dar explicação. "Típico dos homens", pensou. Mas ela sentiu atração pela simpatia de Rodrigo. Tomou atitude, afinal, era mulher, era decidida, destemida. Levantou-se para perseguir o rapaz e inquirir, afinal, o que o desgraçado queria com aquilo, se era só brincadeira ou se, de repente, ele era esquizofrênico. Quando reparou uma folhinha miúda e amarela sobre a mesa. Lá estavam os dois versos e, atrás, o número do rapaz.
MACÊDO, Gustavo de.
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