ROMANTISMO
(PRIMEIRA GERAÇÃO)
HISTÓRICO
(RESUMO)
O fervor patriótico do grupo, integrado
por Martins Pena (1815-1848), Francisco Adolfo Varnhagen (1816-1878) e João
Manuel Pereira da Silva (1817-1895), entre outros, manifestou-se inicialmente
por meio da imprensa. O primeiro veículo de divulgação consciente do ideário
romântico foi a revista Niterói, que teve entre seus colaboradores Gonçalves de
Magalhães, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), Francisco Sales
Torres-Homem (1812-1876) e C. M. de Azeredo Coutinho. No período, destaca-se
também a revista Guanabara, dirigida por Porto-Alegre, Gonçalves Dias (1823-1864)
e Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).
Foi à poesia, porém, que coube o papel
de consolidação do Romantismo no país. Mais especificamente a Gonçalves Dias,
poeta mais representativo da primeira geração do movimento. Em poemas de
temática indianista, como I- Juca Pirama, ou patriótica, como Canção do Exílio,
ele empregou temas caros aos autores românticos, como saudade, melancolia e
natureza.
ESTILO
- CARACTERÍSTICAS GERAIS
A primeira fase do Romantismo
brasileiro, compreendida entre os anos de 1836 e 1852, caracterizou-se pela
busca de definição de uma identidade nacional. Reunidos em torno de Gonçalves
de Magalhães, cuja obra Suspiros Poéticos e Saudades, de 1836, é tida como
marco fundador do movimento no Brasil, um grupo de homens públicos e letrados
articulou a formação de um clima de opinião favorável à autonomia cultural do
país. O processo de emancipação desencadeado daí em diante deve ser entendido,
no plano cultural, como o equivalente da independência política, conquistada em
1822.
O fervor patriótico desse grupo,
integrado por Martins Pena, Francisco Adolfo de Varnhagen e João Manuel Pereira
da Silva, entre diversos outros, manifestou-se inicialmente por meio da
imprensa, que desde a chegada de D. João VI, em 1808, tomava impulso no país.
Nas três primeiras décadas do século XIX, foram fundadas dezenas de jornais e
revistas, a maioria de duração efêmera. Mas a proliferação desses periódicos,
geralmente dedicados à política, literatura e ciências, exprime a urgência e o
anseio de expressar e fazer circular publicamente o conhecimento e a opinião.
A revista Niterói, fundada em 1836 por
Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Francisco Sales
Torres-Homem e Azeredo Coutinho, participa desse contexto de florescimento da
imprensa. A publicação, também de cunho científico, literário e artístico, foi
fundada em Paris e tinha como epígrafe a frase "Tudo pelo Brasil e para o
Brasil", e foi a primeira a promover a difusão consciente do Romantismo no
país. O programa de reforma e nacionalização da literatura brasileira,
veiculado por artigos e estudos publicados na revista, tinha origem nas idéias
do escritor português Almeida Garrett e do historiador francês Ferdinand Denis
(1798 - 1890), pioneiro no estudo da literatura brasileira.
Dois anos mais tarde, em 1838, a
fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) representaria
outro passo importante para a consolidação do movimento no Brasil. O Instituto
tinha como objetivo a produção de estudos sistemáticos de aspectos variados da
realidade nacional e congregou as principais figuras da intelectualidade
brasileira da época, entre as quais J. M. Pereira da Silva e Joaquim Manuel de
Macedo, que foi sócio-correspondente do IHGB. Parte das pesquisas realizadas
pelos integrantes do grupo era publicada na revista da instituição, que foi de
extrema importância para a divulgação do ideário Romântico no país.
Outras duas publicações contribuem de
modo significativo para a sedimentação do movimento nessa primeira fase. São
elas o jornal Minerva Brasiliense e a revista Guanabara. O primeiro durou dois
anos - de 1843 a 1845 - e merece destaque pelos nomes que nele atuaram: tinha
entre seus colaboradores Gonçalves de Magalhães, Odorico Mendes, Santiago Nunes
Ribeiro e Teixeira e Sousa (1812-1861). Foi esse jornal que deu origem à
revista Guanabara, editada entre os anos de 1850 e 1855. Dirigida por
Porto-Alegre, Gonçalves Dias e Joaquim Manuel de Macedo, a revista exemplifica
a organicidade do Romantismo brasileiro nesse primeiro momento, explicitando em
seu artigo de apresentação o vínculo direto com as publicações que a
antecederam.
No campo da prosa de ficção, as
primeiras experiências românticas no Brasil estão bastante calcadas no romance
europeu. A partir da década de 1830, traduções da obra de autores como Walter
Scott, Chateaubriand e Balzac começam a ser publicadas nos jornais num formato
que teria extrema popularidade no século XIX: o folhetim. A tentativa de se
criar um "romance nacional" tem início nessa época. O Filho do
Pescador (1843), de Teixeira e Sousa, é o primeiro passo nessa direção. Já no
ano seguinte aparece A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Para o crítico e
historiador Antonio Soares Amora, esses livros inauguram duas tendências
importantes da ficção romântica: a histórica e a urbana.
AUTORES
Entre os autores da Primeira Geração do
Romantismo, o mais empenhado em articular a reforma romântica e nacionalista na
literatura foi Gonçalves de Magalhães, que se dedicou à poesia, ao teatro, à
ficção, à história e à elucubração filosófica. No campo literário, sua obra
mais importante é Suspiros Poéticos e Saudades, lembrada como marco inaugural
do Romantismo. Mas a importância histórica de Magalhães deve-se principalmente
à figura centralizadora, que estimulou e coordenou a reforma romântica.
Indicativos de seu papel de reformulador
são os ensaios Discurso Sobre a História da Literatura do Brasil e Filosofia da
Religião, ambos publicados na revista Niterói em 1836. No primeiro texto,
Magalhães argumenta que o Brasil possui uma literatura ligada à evolução
histórica do país e que, portanto, apresenta objetos dignos de inspirar
escritores. No segundo, afirma que a religião é um dos elementos básicos da
sociabilidade e deve, em conseqüência, ser tema de produções artísticas. O
intuito era mostrar a literatura como espírito da evolução histórica do país, e
o mérito do texto está em postular a necessidade de se estudar os escritores
brasileiros do passado para definir a continuidade com o presente. A religião
seria o liame capaz de estabelecer a conexão com os antecessores.
Pereira da Silva e Santiago Nunes
Ribeiro também produziram textos de importância para a consolidação do
movimento. No segundo número da mesma Niterói, Silva publicou Estudos Sobre a
Literatura. Nesse texto, ele retoma os temas de Magalhães e argumenta que o
Brasil tinha necessidade de manifestar uma literatura própria, o que requer
rejeição da imitação clássica e atenção às inspirações locais. Foi ele o
primeiro a apontar o Romantismo como guia para se levar esse projeto adiante.
Já Nunes Ribeiro é autor do ensaio Da Nacionalidade da Literatura Brasileira.
Publicado no jornal Minerva Brasiliense, o texto defende a tese de que a
literatura nacional existe desde os primeiros autores do período colonial, de muita
consequência para futuras elaborações teóricas sobre a independência da
literatura brasileira em relação à Europa.
Autor de A Moreninha (1844), O Moço
Louro (1845) e Os Dois Amores (1848), entre muitos outros, Joaquim Manuel de
Macedo é o prosador de maior destaque nesta fase inicial do Romantismo. Até
porque José de Alencar, em todos aspectos o nome mais importante da prosa
romântica brasileira, ainda não tinha começado a carreira literária. Também
autor de poemas e de doze peças de teatro, Macedo atuou como cronista no Jornal
do Commercio, onde mantinha a coluna A Semana. Como ficcionista, foi o primeiro
autor a transpor os tipos, as cenas, a vida da sociedade do Rio de Janeiro para
o gênero romance - o que era novidade no país.
Macedo obteve grande popularidade ao
abordar cenário e personagens familiares para os leitores cariocas, ao
descrevê-los de maneira ligeira, sentimental e novelesca, tal como prescrevia o
modelo folhetinesco francês. "Realidade, mas só nos dados iniciais; sonho,
mas de rédea curta; incoerência, à vontade; verossimilhança, ocasional;
linguagem, familiar e espraiada: eis a estética dos seus romances", define
Antonio Candido (1918) no livro Formação da Literatura Brasileira.
Foi à poesia, porém, que coube o papel
de consolidação do Romantismo no país. Mais especificamente a Gonçalves Dias, o
poeta mais representativo da primeira fase do movimento. Em poemas de temática
indianista, como I- Juca Pirama, ou patriótica, como Canção do Exílio, ele
transformou em experiência o que antes era apenas tema. A transformação fica
evidente ao se comparar O Dia 7 de Setembro, de Gonçalves de Magalhães, com a
Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. O assunto comum - o amor e a saudade da
pátria - é abordado em tom protocolar e oficial no poema de Magalhães, ao passo
que Gonçalves Dias harmoniza rigor formal e sentimento num poema ainda hoje
capaz de fazer vibrar as cordas do amor pelo país natal.
Graças à complexidade dos recursos
formais empregados por Gonçalves Dias, saudade, melancolia, natureza, índio,
enfim, toda a galeria temática do Romantismo ganha significado para além da
tentativa de se fazer um mero registro da realidade do país.
Atualizado em 23/06/2010
ROMANTISMO (SEGUNDA GERAÇÃO)
HISTÓRICO (RESUMO)
A segunda geração do Romantismo tem seus
traços mais facilmente identificáveis no campo da poesia e seu marco inicial é
dado pela publicação da poesia de Álvares de Azevedo (1831 - 1852), em 1853. Em
vez do índio, da natureza e da pátria, ganham ênfase a angústia, o sofrimento,
a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização,
entre outros temas de grande carga subjetiva. Exemplares desse período são as
obras de Fagundes Varela (1841 - 1875), Casimiro de Abreu (1839 - 1860) e
Álvares de Azevedo (1831 - 1852).
Em 1856, com a polêmica em torno no
poema A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães (1811 - 1882),
ganha expressão a figura de José de Alencar (1829 - 1877), o mais importante
prosador do Romantismo brasileiro. Nas objeções que faz a Magalhães, Alencar
manifesta sua posição a respeito das correntes nacionalistas e delineia o
programa de literatura indianista que seguiria nos anos seguintes. As premissas
de O Guarani (1857), Os Filhos de Tupã (1863), Iracema (1865) e Ubirajara
(1874) estão formuladas nos artigos escritos a propósito da polêmica.
A ficção com ambientação urbana toma
corpo neste período. Iniciada com A Moreninha, de Macedo, a linhagem tem
continuidade com Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de
Almeida. Publicado em folhetim entre 1852 e 1853, o livro pode ser lido como
uma reação aos hábitos inspirados no "refinamento" da corte. Assim
como os livros de Macedo, foi sucesso de público e contribuiu para a criação do
romance brasileiro.
Bernardo Guimarães (1825 - 1884),
Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz Gama (1830 - 1882), José Bonifácio e Machado
de Assis (1839 - 1908) também tiveram participação importante na produção
intelectual do período. Além das atividades como poetas ou romancistas, eles
protagonizaram o debate de idéias, geralmente veiculado pela imprensa, de
fundamental importância para a consolidação da literatura no Brasil.
ESTILO - CARACTERÍSTICAS GERAIS
A publicação do livro Poesias, de
Álvares de Azevedo, em 1853, é considerada por parte da crítica como marco
inicial da segunda geração do Romantismo no Brasil. Essa geração, cujos maiores
expoentes são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, tem a
marca do ultra-romantismo. A angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor
que oscila entre a sensualidade e a idealização são alguns dos temas de grande
carga subjetiva que tomam o lugar do índio, da natureza e da pátria, dominantes
na geração anterior.
Essa exacerbação da sentimentalidade e
das fantasias da imaginação mórbida exige uma versificação mais livre, menos
apegada a esquemas formais preestabelecidos, e define as obras poéticas de
maior impacto do período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo.
Inspirados pelo inglês Byron, pelo
italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de
Musset, os poetas da segunda geração escrevem poemas que sugerem uma entrega
total aos caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do
vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce
ajudou a compor a mística em torno desses poetas de inspiração byroniana, que
não raro fazem apologia da misantropia e do narcisismo, cultivam paixões
incestuosas, macabras, demoníacas e mórbidas.
No campo da crônica e da prosa
jornalística de maneira geral, talvez seja mais adequado considerar 1856 como o
momento de transição para a segunda geração romântica. Nesse ano foi publicado
A Confederação dos Tamoios, poema épico de Gonçalves de Magalhães que deu
início à polêmica mais importante do movimento, travada justamente entre os
defensores de Magalhães e o mais expressivo prosador do Romantismo: José de
Alencar.
O assunto abordado pelo poeta é a
rebelião dos tupis contra os portugueses ocorrida no Rio de Janeiro no século
XVI, com destaque para a figura do chefe Aimbire, transformado em símbolo de
resistência do homem americano. Impresso às custas do Imperador Pedro II, o
poema era expressão acabada da literatura oficial. Em parte por essa razão, José
de Alencar, recém-iniciado na carreira literária, manifestou-se publicamente
sobre o texto. Escreveu diversos artigos, assinados sob o pseudônimo Ig, em que
denunciava a inferioridade da realização do poeta ante a magnitude do objeto.
Porto-Alegre, Monte Alverne e, num caso único no país, o próprio Imperador,
saíram em defesa do poeta. Alencar, por sua vez, foi secundado por Ômega,
pseudônimo do jornalista Pinheiro Guimarães.
É nesse momento que se articula uma
faceta importante do projeto literário de Alencar. Nas objeções que faz a
Magalhães em seus artigos, Alencar manifesta sua posição a respeito das
correntes nacionalistas e delineia o programa de literatura indianista que
seguiria nos anos seguintes. As premissas de O Guarani (1857), Os Filhos de Tupã
(1863), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) podem todas ser extraídas dos textos
escritos a propósito da polêmica. "A crítica dos criadores é muitas vezes
programa; examinando outros escritores, procuram ver claro neles mesmos",
escreve Antonio Candido (1918) respeito desse episódio. Cabe notar que a
discussão em torno do livro A Confederação dos Tamoios revela ainda a
existência de uma dimensão pública para o debate literário, praticamente
inexistente nos períodos anteriores e que ganha impulso com a expansão da
atividade da imprensa.
Além de Alencar, outros autores, entre
eles Dutra e Melo, Junqueira Freire, Álvares de Azevedo e Franklin Távora (1842
- 1888), contribuem para o adensamento da atividade crítica nesse momento. Em
publicações como Nova Minerva, Correio Paulistano e Atualidade, eles produzem
ensaios, prefácios e artigos que atestam a importância do momento para o
estabelecimento definitivo de uma crítica literária no país.
Paralelamente a isso, Pereira da Silva,
Antônio Henriques Leal, Varnhagen, entre críticos, eruditos e professores de
origem diversa, reúnem textos, editam antologias, pesquisam biografias,
redescobrem autores brasileiros do passado, vão, enfim, tornando possível a
principal aspiração do Romantismo no plano da crítica: elaborar uma história
literária que exprimisse a imagem da inteligência nacional na seqüência do
tempo. No entanto, só a partir de 1880, com a publicação da História da
Literatura Brasileira, de Sílvio Romero (1851 - 1914), esse processo ganharia
uma síntese de grande expressão.
Além do indianismo, outras vertentes
temáticas características da prosa romântica tomam corpo. A urbana, por
exemplo. Iniciada com A Moreninha, de Macedo, essa linhagem tem continuidade
por meio de uma das melhores obras do período: Memórias de um Sargento de
Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Publicado em forma de folhetim entre
1852 e 1853, o livro pode ser lido como uma reação ao esnobismo afrancesado,
aos hábitos inspirados no "refinamento" da corte. Ambientada no tempo
de D. João VI, a história criada por Almeida centra foco nos estratos mais
baixos da sociedade. Assim como os livros de Macedo, foi sucesso de público e
teve contribuição importante para a criação de uma ficção brasileira original.
Dois anos depois da publicação da obra
de Manuel Antônio de Almeida, Alencar começa a carreira literária. Seus
primeiros livros, Cinco minutos e Viuvinha, publicados em folhetim em 1856 e
1857 no Diário de Rio de Janeiro, definem as fórmulas dos "perfis
femininos" e dos "quadros de sociedade", segundo a definição do
crítico Antônio Soares Amora. Ambos pertencem à temática urbana, da qual ainda
fariam parte Lucíola (1862), Diva (1864), A Pata da Gazela (1870), Sonhos
D?Ouro (1872) e Senhora (1875).
AUTORES
José de Alencar, Álvares de Azevedo,
Bernardo Guimarães, Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz Gama (1830 - 1882), José
Bonifácio, Machado de Assis. São esses alguns dos autores que produziram textos
importantes para a formação da consciência literária do período. Geralmente
voltados para atividades literárias de outro teor, como a poesia e o romance,
eles protagonizaram um debate de idéias, no mais das vezes veiculadas pela
imprensa, de importância fundamental para a consolidação da literatura no
Brasil.
Poeta mais destacado da segunda geração
romântica, Álvares de Azevedo é autor de alguns dos poemas mais ilustrativos
desse Romantismo calcado nos dramas da subjetividade, no pessimismo e na
obsessão pela morte, presente em títulos como Um Cadáver de Poeta, Se Eu
Morresse Amanhã e Lembrança de Morrer. Ele também é autor de dois ensaios
importantes, Jacques Rolla e Literatura e Civilização em Portugal, escritos
entre 1849 e 1850. Em ambos, discorre principalmente sobre sua concepção do
belo e tece considerações sobre psicologia literária. Apesar de morto antes de
completar vinte e um anos, deixou nesses textos, assim como na excelente obra
poética que realizou, uma consciência aguda dos problemas estéticos de seu
tempo.
Varnhagen e Pereira da Silva são autores
de alguns dos compêndios mais importantes do período. O Florilégio da Poesia
Brasileira (1850-1853), de Varnhagen, é a antologia de literatura mais rica de
seu tempo. Foi a que proporcionou pela primeira vez um conjunto de poemas de
Gregório de Matos (1636 - 1696), cuja descoberta se deve ao Romantismo. Pereira
da Silva, por sua vez, tem importância pela pesquisa biográfica que realizou.
Em 1856, publicou Varões Ilustres do Brasil Durante os Tempos Coloniais,
compêndio de vinte biografias de importantes intelectuais brasileiros cujo
modelo era inspirado na obra do historiador romano Plutarco.
Bernardo Guimarães (1825-1884) é outro
nome importante do período. Em São Paulo, conviveu com Álvares de Azevedo,
Aureliano Lessa e José Bonifácio, o Moço. Entre 1858 e 1861 viveu no Rio de
Janeiro, onde trabalhou como jornalista e crítico literário do jornal
Atualidade. Nesse momento, a defesa de idéias republicanas e mais tarde
anti-escravistas começa a tomar forma consistente. Alguns de seus principais
defensores, como José Bonifácio, o Moço (1827-1886), e Luiz Gama (1830-1882),
foram também importantes cronistas do período.
Bonifácio, por exemplo, foi diretor do
jornal Ipiranga e colaborador em A Tribuna Liberal, de Inglês de Souza (1853 -
1918), no Rio de Janeiro. Além de deputado e senador, foi professor na
Faculdade de Direito de São Paulo, onde teve como alunos Rui Barbosa (1849 -
1923), Castro Alves (1847 - 1871), Joaquim Nabuco e Afonso Pena. Gama, por sua
vez, foi fundador do jornal Diabo Coxo. O periódico era ilustrado pelo italiano
Angelo Agostini e é considerado marco da imprensa humorística em São Paulo.
Entre 1864 e 1875, Luiz Gama colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e
O Polichileno. E fundou, em 1869, o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa.
Até Machado de Assis (1839-1908), maior
prosador do Realismo brasileiro e geralmente identificado com o período
posterior ao Romantismo, exerceu atividade influente na imprensa nas décadas de
1850 e 1860, antes de estrear como romancista em 1872. Machado começou a
trabalhar aos 16 anos como tipógrafo aprendiz da Imprensa Nacional. Aos 18,
entrou na tipografia de Paula Brito, que publicava o jornal A Marmota
Fluminense, que em 1855 estampou um de seus primeiros poemas, Ela. Nos anos
seguintes trabalhou como cronista, crítico literário e teatral de vários
jornais, entre eles Correio Mercantil, Ilustração Brasileira e Gazeta de
Notícias.
Atualizado em 23/06/2010
TERCEIRA
GERAÇÃO ROMÂNTICA: CASTRO ALVES (1847 – 1871)
Nascido no Estado da Bahia, na cidade
que hoje leva seu nome, Castro Alves fez seus primeiros estudos em Salvador,
junto com o colega Rui Barbosa. Estudou na Faculdade de Direito do Recife, onde
se juntou a Tobias Barreto e participou ativamente da vida literária acadêmica.
Já na adolescência, Castro Alves produzia precocemente seus primeiros versos,
começando, na Faculdade, a alcançar notoriedade. Tinha uma vida amorosa
intensa, da qual se pode destacar o romance com a atriz Eugênia Câmara, que lhe
rendeu boa parte dos seus versos líricos. Em viagem para o sul do país com a
atriz, Castro Alves conhece José de Alencar e Machado de Assis. Matricula-se no
3º ano da Faculdade de Direito de São Paulo, na mesma turma que Rui Barbosa. O
rompimento com Eugênia deixa o poeta desolado e, mais uma vez, juntam-se à sua
obra lírico-amorosa intensos e dolorosos versos. Para esquecer a perda, o poeta
distrai-se em caçadas e em uma delas fere o pé com um tiro de espingarda, o que
o leva a amputá-lo. Bastante debilitado, a tuberculose que se manifestara já no
ano de 1863, quando o poeta tinha apenas dezesseis anos, agravou-se, o que leva
Castro Alves a voltar para a Bahia, hospedando-se em fazendas de parentes, em
busca de melhora. Neste período, cuida da edição de seu primeiro livro, único a
ver publicado: Espumas Flutuantes. Morre um ano depois desta publicação, em
1871, com 24 anos.
“Vulgarmente melodramático na desgraça,
simples e gracioso na ventura, o que constituía o genuíno clima poético de
Castro Alves era o entusiasmo da mocidade apaixonada pelas grandes causas da
liberdade e da justiça — as lutas da Independência na Bahia, a insurreição dos
negros de Palmares, o papel civilizador da imprensa, e acima de todas a
campanha contra a escravidão”, assim falou de Castro Alves o também poeta
Manuel Bandeira. Fortemente influenciado por Victor Hugo, bem como pela nova
condição do Brasil, que aos poucos deixava de ser puramente rural para se
urbanizar, o que levou ao desenvolvimento de ideais democráticos e o de repulsa
pela “moral do senhor-e-servo”, Castro Alves foi inovador justamente pelo seu
epos libertário. Além disso, original na obra do poeta será também os seus
versos de substância amorosa pela franqueza e realismo no exprimir das paixões
e desejos e na descrição erótica da mulher.
Na poesia social, humanitária e
nacionalista, Castro Alves exibe toda a sua eloquência épica. Seus versos de
temática social, de tom oratório e de excepcional comunicabilidade,
aproximam-se da retórica, esquecendo-se, verdade seja dita, por vezes, nela
mesma, acabando em verborragia vazia, ancorada em combinações sonoras sem nexo.
Esse exagero advém das influências de sua época, da qual a oratória era a
menina dos olhos. Mas, se por um lado o jovem poeta abusou forçosamente da
superposição de imagens e de aposições, pecando, ocasionalmente, pelo excesso e
mau-gosto, por outro, ele soube, com esses e outros recursos, alcançar, nas
palavras de Manuel Bandeira, “a maior força verbal e a inspiração mais generosa
de toda a poesia brasileira”.
Vale lembrar que o tom oratório dos
versos de Castro Alves deve-se a um propósito pragmático dos seus cantos, o de
alcançar multidões. Seus poemas são escritos com a intensão de serem declamados
em praça pública, teatros e grandes salas, como verdadeiros discursos. É essa a
missão do poeta, a de anunciar a todos o “Novo Mundo”, a de persuadir a todos
da necessidade de mudança. Daí a épica retumbante de seus versos, as apóstrofes
violentas, as antíteses constantes, as hipérboles e metáforas ousadas, enfim, o
tom grandiloquente de seus cantos.
Inspirado por Victor Hugo, Castro Alves
foi o arauto da liberdade e da justiça. Envolvendo-se em todos os
acontecimentos históricos de sua época, foi vate e profeta ao anunciar a
abolição da escravatura e a instauração do regime republicano.
De sua poesia social, destacam-se dois
longos poemas com os quais, segundo Manuel Bandeira, Castro Alves atingiu “a
maior altura de seu estro”: “Vozes d’África” e “O Navio Negreiro”, ambos
pertencentes ao livro Os Escravos. No primeiro, temos o continente escravizado
a implorar justiça de Deus e no segundo temos o evocar dos sofrimentos dos
negros em um navio que transportava escravos da África para o Brasil.
Enquanto poetas de gerações românticas
anteriores tomaram o índio como herói, Castro Alves o fez com o negro. Escolha
não muito tranquila, já que o negro, ao contrário do índio, era tido como ser
sem-alma, não tendo para a sociedade nenhum valor mítico. Devido a isso, o
negro, na poesia de Castro Alves, é quase sempre concebido como um mulato com
sensibilidades de um branco.
Mas o poeta baiano não foi o primeiro da
literatura brasileira a tomar como herói o negro escravizado, porém, tornou-se
o poeta por excelência dos escravos, sendo inclusive chamado de “O Poeta dos
Escravos”, ao dar ao negro uma atmosfera de dignidade lírica. Ao mostrar a sua
bravura e coragem, bem como suas dores e amores, Castro Alves eleva o negro ao
mesmo patamar do branco e do índio literário.
Abaixo, transcrevemos trechos do poema
“Vozes d’África” e indicamos um vídeo com uma declamação de trechos do poema “O
Navio Negreiro” com o ator Paulo Autran e imagens do filme “Amistad”, de Steven
Spielberg:
VOZES
D’ÁFRICA
Deus! ó Deus! onde estás que não
respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
[...]
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária do universo,
Eu - pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
A poesia lírica de Castro Alves está
representada no livro Espumas Flutuantes. Contudo, este livro não é composto
exclusivamente por versos líricos, pois nele ainda figuram algumas composições
de caráter épico-social, tais como “O Livro e a América”, “Ode ao Dous de
Julho” e “Pedro Ivo”.
Ao contrário de sua poesia épico-social, a poesia
lírica do Poeta dos Escravos exprime-se quase sempre sem ênfase e às vezes com
exemplar simplicidade. Na lírica, seu verso se faz sugestivo e as metáforas
naturais. A experiência amorosa é relatada de maneira integral, em toda a sua
plenitude sentimental e carnal. Em Castro Alves, o amor é desejo, vibração da
alma e do corpo, superando, dessa forma, o amor como esquivança e desespero
ansioso da geração anterior. Sobre isso, apontou Machado de Assis que a musa de
Castro Alves tinha feição própria e que, finalmente, aparecera um poeta
original. Abaixo, um trecho do poema “O Adeus de Tereza”:
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta
a correnteza,
A valsa nos levou nos giros
seus...
E amamos juntos... E depois
na sala
"Adeus" eu disse-lhe
a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me:
"adeus."
Uma noite... entreabriu-se um
reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse
conservando-a presa...
E ela entre beijos murmurou-me:
"adeus!"
Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!...
descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me:
"adeus!"
Quando voltei... era o palácio em
festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na
orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca...
surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Além do tema do amor, também figuraram
na poesia lírica de Castro Alves os temas da natureza e da morte. As imagens e
metáforas grandiosas do poeta são inspiradas nos aspectos grandiosos da
natureza, tais como o oceano, o deserto, o infinito. Também são escolhidas com
o mesmo propósito engrandecedor as aves de grande porte e de alto voo, como o
condor, a águia, o albatroz. Quando questionado, em entrevista concedida ao
escritor e professor Augusto Sérgio Bastos, sobre a poesia na metade do séulo XIX,
Castro Alves respondeu:
“A poesia na terra dos Andradas, dos
Pedros Ivos, e dos Tiradentes deve ser majestosa como as matas virgens da
América; arrojada como seus rios gigantes; livre como os ventos que passam
gementes por suas várzeas, e que zurzem os costados pedregosos dos seus
gigantes de granito.”
Castro Alves toma a natureza como metáfora
para a expressão de ideais elevados e da volúpia do amor e do desejo,
retratando as suas aspirações ao lado das paisagens brasileiras em versos de
beleza incomparável.
Também a morte, que perseguiu o poeta
desde cedo (aos 16 anos se manifestara no poeta a tuberculose), foi tema
recorrente na poesia de Castro Alves. Porém, ao contrário dos poetas que o
precederam, o jovem baiano não desejava a morte, não a louvava em seus versos.
A morte, em Castro Alves, aparece como amargura limitadora do desejo de viver
do poeta. Castro Alves ama a vida e seus prazeres, tem desejo por mudar as
estruturas sociais de seu país, quer justiça e igualdade, quer mais vida para
cantar esses ideais, para bradar aos céus, ao oceano, o seu canto. Exímio
representante dessa temática é o poema “Mocidade e Morte”, um dos mais belos
representes da lírica de Castro Alves, que, apesar de ter a morte como tema,
não deixa de ser um hino de celebração e amor à vida:
Mocidade
e Morte
Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os
ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.
Morrer... quando este mundo é um
paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago
virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher — camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
[...]
E eu sei que vou morrer... dentro em meu
peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu'inda mesmo flórido,
Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo - que vaga sobre o chão da morte,
Morto - entre os vivos a vagar na terra.
[...]
E eu morro, ó Deus! na aurora da
existência,
Quando a sede e o desejo em nós
palpita...
[...]
Sinto que do viver me extingue a
lampa...
Resta-me agora por futuro — a terra,
Por glória — nada, por amor — a campa.
Adeus! arrasta-me uma voz sombria
Já me foge a razão na noite fria!..
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