Dentre os meus tenho o sotaque
mais estranho.
Meus versos partem em busca
de esconderijos pela casa.
Zanzam noturnos como ratos na cozinha.
Mas falo do palco, do trapézio,
do contorcionismo lexical da poesia.
Eles fazem sim com a cabeça,
simulam sobre os olhos atenção
e engatam com a prosa corriqueira:
o vizinho que pôs o lote à venda,
a ração do gado que deve ser complementar,
a ingenuidade capital que tinha nosso pai.
Fico por aqui, prendo nos olhos
feições secretas do mandacaru.
E da cozinha surge a voz da mesa posta.
Mas nos amamos sob a mesma lona
e construímos ali juntos
nossos trejeitos inocentes.
Marta Eugênia
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