Os gêneros discursivos/textuais estão nas salas de aula e são recomendados pelos documentos oficias que regem a educação brasileira. Além disso, o uso deles em sala de aula é aconselhado por uma imensa gama de trabalhos e pesquisas na área do ensino de língua portuguesa, por já ter sido comprovada a eficácia de um trabalho pautado na perspectiva dos gêneros. Pensando nisso, trouxemos algumas das principais concepções de gêneros discursivos/textuais que norteiam o entendimento sobre a temática.
Primeiramente, traremos a concepção de base Bakhtiniana, ou seja, o que o filósofo russo Mikhail Bakhtin e seu círculo de companheiros pensaram sobre a questão do gênero discursivo. Bakhtin nomeia os gêneros enquanto discursivos e diz que é por meio deles que se dá a comunicação verbal, surgindo, assim, das necessidades comunicativas de uma dada esfera de atividade humana. As esferas são ambientes com características particulares como a esfera jornalística, publicitária e acadêmica. Dessa forma, os gêneros são enunciados que se estabilizam por meio dos usos pelos falantes, sendo conceituados enquanto “tipos de enunciados relativamente estáveis”. Tipo pelo fato de os enunciados de um mesmo gênero apresentarem partes constituintes em comum, que são o tema, a composição e o estilo. Entretanto o mesmo autor diz-nos que todo enunciado é único e irrepetível, porém à medida que os enunciados são produzidos eles trazem características comuns mesmo cada um sendo único. Além disso, Bakhtin classifica os gêneros enquanto primários e secundários, sendo os primeiros os que transitam na esfera do cotidiano e mais simples e os segundos os que estão esferas de criação ideológica (religião, política, acadêmica, etc.) e são mais complexos e formais.
Em uma perspectiva sócio-retórica, temos os estudos feitos por Charles Bezerman (2006, p.31) que ao abordar a questão gêneros textuais afirma que eles
são fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas podem realizar e sobre os modos como elas os realizam. Gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos. [...] são parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais. (2006, p.31)
Nesse texto, Bezerman constroi o conceito de gênero a partir da observação da necessidade que as pessoas têm de compreender umas às outras para participarem, compartilharem, realizarem atividades sociais.
Mostra que os gêneros são passíveis de mudanças, de acordo com o decorrer do tempo e dos campos por onde eles transitam: as mudanças podem ser tão profundas que os nomes dos gêneros mudam, ou o que não era considerado gênero passa a ser. Nesse processo, o homem exerce um papel singular, ativo, pois é a partir dele, do seu contexto sócio-cultural-histórico e das suas necessidades comunicativas que surgem novos gêneros textuais ou são modificados os já existentes.
Afirma que a maioria dos gêneros apresenta características de fácil reconhecimento. Porém, mostra alguns problemas em tentar identificar os gêneros somente por meio das características, pois, dessa forma, considera somente o mundo cultural imediato, esquece que os gêneros ultrapassam a barreira do tempo; esquece que os gêneros variam de acordo com a área do conhecimento por onde circulam e de acordo com o passar do tempo, “à medida que as pessoas passam a orientar-se por padrões em evolução” (BAZERMAN, 2006, P. 40). Por fim, apresenta algumas sugestões para identificar e analisar os gêneros, que vão além da descrição de seus elementos característicos que são “de fácil reconhecimento”. Essas sugestões podem ser visualizadas no texto integral.
Por fim, Norman Fairclough também apresenta uma concepção acerca do gênero, desenvolvendo uma teoria que não veja o texto para o texto, mas o relacione com a estrutura social. Assim, ele chama o gênero de textual e conceituando-o enquanto
Um conjunto de convenções relativamente estável que é associado com, e parcialmente realiza, um tipo de atividade socialmente aprovado, como a conversa informal, a compra de produtos em uma loja, uma entrevista de emprego, um documentário de televisão, um poema ou um artigo científico” (apud MEURER, 2005, p. 81)
O autor diz que cada gênero ocorre em um determinado contexto que envolve agentes que o produzem e consomem, porém Fairclough não se propõe a montar uma teoria de análise de gêneros, mas traz princípios e métodos ao longo de sua obra acadêmica que podem servir de apoio. O linguista ressalta ainda que “um gênero implica não somente um tipo particular de texto, mas também processos particulares de produção, distribuição e consumo de textos” (apud MEURER, 2005, p. 81-82).
Estas são as três teorias acerca do gênero discursivo/textual mais utilizadas em trabalhos que o tem por temática. Existem muitos outros linguistas e teóricos que estudam o gênero sob diversos pontos de vista tanto em uma perspectiva teórica quanto aplicada. Para os interessados em se aprofundar no assunto, sugerimos o livro “Gêneros: teorias, métodos, debates”, que está incluso na bibliografia deste verbete.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAZERMAN, Charles. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; HOFFNAGEL, Judith Chambliss (orgs.). Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2006.
MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Gêneros: teorias, métodos, debates. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2005.
Disponível em: http://sites.google.com/site/estudosdeletramento/genero-discursivo-textual - Acessado em: 25/10/11
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