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sábado, 25 de junho de 2011

PAULO LEMINSKI


DESENCONTRÁRIOS

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

Paulo Leminski



não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

Paulo Leminski











ATRASO PONTUAL

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bênçãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

Paulo Leminski



nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez

Paulo Leminski

BIOGRAFIA
Paulo Leminski nasceu em Curitiba em 1945. Poeta de vanguarda, letrista de música popular, escritor, tradutor, professor e, pode parecer inusitado, mas ele também era faixa-preta de judô.
Mestiço de pai polaco com mãe negra, sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito: é dono de uma extensa e relevante obra.
Sua estreia como escritor foi na Revista Invenção, do grupo concretista de São Paulo em 1964 aos 18 anos de idade. Mas durante as décadas de 60, 70 e 80, ele reuniu em sua volta várias gerações de poetas, escritores e artistas. Sua casa, no bairro do Pilarzinho, virou um local de reuniões informais e até de "peregrinações". Muita gente queria ver Leminski, desde desconhecidos a famosos como Caetano Veloso.
Leminski tinha uma grande preocupação com o conteúdo de sua obra. Por uma questão de temperamento e de busca, Leminski se aventurou na poesia de vanguarda, e alguns tipos de poesia que não têm uma raiz brasileira, como os hai-kais. Mas quando não estava na experimentando, ele fez uma poesia não formalmente metrificada. Era seu objetivo atingir o quadro sócio-político com ironia e, até um pouco de sarcasmo, sem ser panfletário.


Leminski era um boêmio inveterado. Em 1989, por causa de problemas com o álcool, ele acabou falecendo. Mas sua obra continua viva e pulsante. Na Internet, existem várias páginas que abordam o seu trabalho e até grupos de discussão sobre sua obra. Um bom exemplo para saber mais sobre Leminski e ler seus poemas é no endereço www.gratisweb.com/kamiquase.

MÚSICA
Como compositor Leminski teve a música "Verdura" como a primeira a ser gravada. Ela integrou o disco de 1981, Outras Palavras, de Caetano Veloso. Depois vieram outras gravações: "Mudança de Estação", com A Cor do Som; "Valeu", com Paulinho Boca de Cantor, e várias com Moraes Moreira: "Decote Pronunciado", "Pernambuco Meu", "Baile no Meu Coração", "Promessas Demais", que era a música tema da novela Paraíso, da Rede Globo, em 1982. Em 1998, Arnaldo Antunes gravou em seu disco Um Som a música Além Alma. Em 2000, Zeca Baleiro musicou a letra Reza. Vários outros artistas ainda utilizam a obra de Leminski para fazer músicas.

FAMÍLIA
Paulo Leminski se casou, aos 17 anos, com a desenhista e artista plástica Neiva Maria de Souza. Sua segunda mulher foi a Alice Ruiz, com quem ele viveu por 20 anos.
Algum tempo depois de começarem a namorar, Leminski e Alice foram morar com a primeira mulher do poeta e seu namorado, em uma espécie de comunidade hippie. Ficaram lá por mais de um ano e só saíram com a chegada da primeira de três filhos: Estrela. Eles depois tiveram mais uma menina, Áurea, e um menino, Miguel, que morreu com 11 anos.
No ano de 1987, o alcoolismo de Leminski começa a destruí-lo. Alice deu um ultimato e acabaram por se separar.
Leminski passou os últimos meses de sua vida com a cinesta Berenice Mendes. Ela estava grávida de quatro meses, quando Leminski veio, inesperadamente a falecer. Com a morte do poeta, ela acabou perdendo o filho.

BIBLIOGRAFIA
& Catatau (1975).
& Quarenta clics em Curitiba (poesia, com fotos de Jack Pires). Etecetera, Curitiba, 1976.
& Não fosse isso e era menos / Não fosse tanto e era quase. ZAP, Curitiba, 1980.
& Polonaises (poesia). Edição do autor, Curitiba, 1980.
& Cruz e Souza, o negro branco (biografia). Brasiliense, São Paulo, 1983.
& Caprichos & Relaxos. Brasiliense, São Paulo, 1983.
& Matsuó Bashô, a lágrima do peixe (biografia). Brasiliense, São Paulo, 1983.
&  Jesus a.C. (biografia). Brasiliense, São Paulo, 1984.
&  Agora é que são elas. Brasiliense, São Paulo, 1984.
& Um escritor na biblioteca. Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba, 1985.
& Hai-tropikai (poesia, com Alice Ruiz). Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1985.
& Anseios crípticos. Ed. Criar, Curitiba, 1986.
& Leon Trótski, a paixão segundo a revolução (biografia). Brasiliense, São Paulo, 1986.
& Distraídos venceremos (poesia). Brasiliense, São Paulo, 1987.
& Guerra dentro da gente (infanto-juvenil). Scipione, São Paulo, 1988.
& Paulo Leminski (reunião de entrevistas e resenhas). Scientia et labor, Curitiba, 1988.
& A lua no cinema (poema ilustrado por Alonso Alvarez). Arte Pau-Brasil, São Paulo, 1989.
& Nossa linguagem (revista Leite Quente, nº1). Fundação Cultural de Curitiba, 1989.
& Memória de vida (homenagem póstuma). Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1989.
&  Vida (biografias: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trótski). Ed. Sulina, Porto Alegre, 1990.
&  La vie en close (poesia). Brasiliense, São Paulo, 1991.
&  Uma carta uma brasa através - Cartas a Régis Bonvicino (correspondência). Iluminuras, São Paulo, 1992.
&  Descartes com lentes (conto, coleção Buquinista). Fundação Cultural de Curitiba, 1993.
&  Metaformose, uma viagem pelo imaginário grego (ensaio). Iluminuras, São Paulo, 1994.
&  Winterverno (poesia, com desenhos de João Virmond). Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1994.
&  O ex-estranho (poesia). Iluminuras, São Paulo, 1996.
&  Melhores poemas de Paulo Leminski (poesia). Global, São Paulo, 1996.
&  Ensaios e anseios crípticos (ensaios). Pólo Editorial, Curitiba, 1997.

TRADUÇÕES
&  Pergunte ao pó, John Fante. Brasiliense, São Paulo, 1984.
&  Vida sem fim, Lawrence Ferlinghetti (com outros tradutores). Brasiliense, São Paulo, 1984.
&  Um atrapalho no trabalho, John Lennon. Brasiliense, São Paulo, 1985.
&  Sol e aço, Yukio Mishima. Brasiliense, São Paulo, 1985.
& O supermacho, Alfred Jarry. Brasiliense, São Paulo, 1985.
&  Giacomo Joyce, James Joyce. Brasiliense, São Paulo, 1985.
&  Satyricon, Petrônio. Brasiliense, São Paulo, 1985.
&  Malone morre, Samuel Beckett. Brasiliense, São Paulo, 1986.
&  Fogo e água na terra dos deuses, poesia egípcia antiga. Expressão, São Paulo, 1987. 

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