SILVA, Fernanda Barcaro¹
Resumo: O presente texto buscou refletir brevemente sobre a paisagem no contexto da degradação dos recursos naturais em função da grande demanda de seu uso nos dois últimos séculos. Buscou-se apresentar a paisagem através de uma perspectiva moderna em que, a mesma, é produto da transformação da natureza que por sua vez é dinâmica e também, conciliar os interesses sociais e ecológicos numa visão do desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: paisagem, degradação, desenvolvimento sustentável.
A visão de domínio da natureza vem a milênios tomando força, e se exibe pela maneira com que se determina a apropriação e exploração dos recursos naturais que é imposta pela visão economicista da sociedade, acentuando a cada dia, os problemas ambientais em todas as escalas de análise: local, regional e global. Salientado que a demanda de recursos naturais disponíveis tem aumentado, necessitando de um planejamento para a utilização racional dos mesmos, e dessa maneira procurando evitar que a sociedade se torne ainda mais, vítima de suas próprias ações.
Globalmente, os principais problemas a serem discutidos pela ciência, comunidade, governantes e empresas privadas com relação a destruição do meio ambiente, são atribuídas ao crescimento demográfico, industrial e tecnológico, desigualdade social, pobreza, produção e uso de energia, produção de alimentos, uso inadequado do solo, água e ar, dentre outros, devendo ser reestruturadas em prol da melhoria da qualidade de vida da humanidade.
Em primeira instância, impactos ambientais que se refletem na paisagem visual, que é resultado de atividades humanas em função do uso e exploração dos recursos naturais disponíveis em dada área, uma exploração feita sem critérios nem organização apenas visando a exploração e comercialização dos produtos. Num segundo momento os impactos ambientais afetam a paisagem em outros aspectos na construção e reconstrução de novas características que emergem nos aspectos sociais e econômicos constituindo uma nova paisagem que dinamicamente é transformada.
Schear (2003, p. 85) defende que em muitos casos, a paisagem deve ser encarada não apenas como um objeto de estudo, refletido e interpretado intelectualmente, mas como uma forma de vivência em sua plena positividade do cotidiano das pessoas. Este autor ainda destaca o pensamento de Dardel (1990, p.54) que apresenta sua reflexão dizendo que "a paisagem não se refere a essência, ao que é visto, mas, representa a inserção do homem no mundo, a manifestação de seu ser para com os outros, base de seu ser social".
Para a esfera ambiental de hoje, problemática, é nítida a necessidade de se focar a paisagem como elemento transformado e transformador que compõe aspectos culturais relevantes da sociedade, que exprime valores, posturas e a própria existência humana como ser explorador e ao mesmo tempo contemplador desta paisagem, daí se ressalta a necessidade em se "ler" a paisagem tal qual ela é enquanto paisagem cultural, filosófica, política, econômica dentre outras, numa característica plural de análise da realidade cotidiana.
Cunha e outros (1999) descrevem autores tais como: Guerra (1976), Gerrard (1990), Goudie (1992 e 1993), Alison e Thomas (1993), Keller (1996), Ross (1996) dentre outros, estes tem exposto de várias formas sua preocupação com a crise ecológica contemporânea a afirmam que este é um momento de ameaça de exclusão do futuro.
Em 1980, Vanzolini já discutia algumas questões ecológicas ligada a conservação da natureza no Brasil e concluiu que: a) planejamento de uma política conservacionista depende de uma definição firme de objetivos nacionais e da aquisição de informação científica básica, ambas faltam hoje no Brasil; b) estado de subdesenvolvimento é um estado de ansiedade. No afã de escapar da opressão e pobreza e alcançar os países desenvolvidos, países como o Brasil imitam servilmente conceitos, atitudes a práticas, com um lamentável atraso no tempo e fora de um contexto tecnológico congruente. Mesmo quando conceitos modernos (tais como necessidade social da conservação) são adotados, isso ocorre num nível puramente epidérmico.
Estas alterações sem conhecimento têm levado a humanidade a anular muitos elementos do ambiente em que vive, esquecendo-se que as mudanças devem ocorrer de maneira mais profunda dentro da sociedade. Segundo Dashefsky (1997) é difícil dizer que os ciclos biogeoquímicos que levam milhões de anos para se organizar são afetados pela intervenção humana. Contudos, as mudanças nos ciclos de curta duração são mais obvias.
Bastos e Freitas (1999) salientam que a interferência humana se em vários níveis e age de diferentes maneiras sobre os componentes do meio natural; ar, solo, águas e seres vivos. Segundo os autores, os grandes reflexos destes processos podem ser verificados nas atividades agrícolas e florestais que, praticadas extensivamente, tornam-se responsáveis por alterações espaciais por vezes difíceis de ser cartografadas em escala mundial e que em grandes áreas desmatadas, a falta de obstáculos faz com que a velocidade do vento aumente ao nível do solo, reduzindo sua umidade superficial, e, consequentemente trazendo alterações no ciclo dos elementos naturais do planeta, prejudicando diretamente a vida humana. Francisco (1996) defende que um ponto básico é o desenvolvimento sustentável que pode ser definido como um conjunto de práticas que favorecem ao desenvolvimento humano e manutenção da vida isso por que atua diretamente no aumento da dinâmica ambiental em função da manutenção da biodiversidade atingindo o âmbito social, dessa maneira tem-se em destaque a melhoria da qualidade do ar, da água, do solo, enfim, a melhoria da qualidade de vida geral e também, da recomposição das áreas de preservação ambiental, questão fundamental para o cumprimento do Código Florestal Brasileiro.
Segundo Ehlers (1998) o conceito de desenvolvimento sustentável procura transmitir a idéia de que desenvolvimento é conciliar, por longos períodos, o crescimento e desenvolvimento econômico e a conservação dos recursos naturais. Em poucos anos essa noção se espelha por vários países, tornando-se uma espécie de ideal ou um novo paradigma da sociedade urbana moderna. Neste ponto fica o seguinte questionamento colocado por Becker (2000) que fundamenta a sustentabilidade num triplo processo de diferenciação ambiental e social, de pluralização ideológica e economia corporativa, salientando que a crise ambiental é resultado do padrão de consumo e para solucioná-la, deverá existir uma mudança de padrão de desenvolvimento, "racionalizando as irracionalidades do atual padrão de consumo". Afirma ainda que, o desenvolvimento sustentável têm sido usado como forma de benefício ás classes de maior consumo já que seu objetivo é racionalizar o consumo através do discurso neoliberal.
O desenvolvimento sustentável prevê ações eficazes que acampem as questões sociais, econômicas e culturais e ambientais numa política dinâmica e integrada de desenvolvimento. Assim, o desenvolvimento sustentável ou a sustentabilidade ambiental tem como propósito reduzir impactos ambientais, os processos de ocupação e a melhoria da qualidade de vida de toda a população e não ser usado como instrumento de transformação da paisagem a partir da dominação exercida por parte da sociedade.
Os processos de degradação ambiental presentes na paisagem de maneira geral, não devem ser, menosprezados, Estes processos são resultados do aumento da população, uso inadequado dos recursos naturais disponíveis e o não cumprimento da legislação ambiental.
A paisagem tanto rural quanto urbana resulta de processos naturais decorrentes da constante transformação da natureza interagindo com processos sociais produzidos pelo homem. O homem procura adequar a natureza a suas necessidades e com isso promove transformações drásticas no meio em que vive e algumas irrecuperáveis.
A paisagem tem um papel fundamental na análise do espaço, pois a partir dela é possível visualizar elementos essenciais da organização e da evolução sócio-espacial. Essa evolução é que, transformou e transforma a paisagem de maneira dinâmica, constante e em função disso, há troca de energia reflita nos vários elementos da paisagem e podem ser apresentados distintamente. Para Rodriguez (1991) paisagem é considerada como um conjunto de componentes naturais e antropo-naturais interatuantes, com diversas escalas de temporo-espaciais.
Rodriguez (1991) destaca que de acordo com suas propriedades, a paisagem contém elementos que permitem concebê-la como um sistema de recursos, como um meio de vida, como uma portadora e fonte de valores cênicos e emocionais, como base de fundo genético.
Para tanto o mesmo autor refere-se a uma análise da paisagem como uma base de organização de uma estratégia geoambiental e planejamento; inventariando e caracterizando as unidades da paisagem; identificando as propriedade e atributos geológicos da paisagem; diagnóstico geoecológico, abrangendo: determinação do potencial; avaliação do uso atual em relação ao seu potencial e diagnóstico integrado da problemática geoecológico-ambiental. As referidas atividades serviram de base para a proposição de um modelo de organização geoambiental. E este permite uma avaliação e análise para a melhoria da qualidade ambiental.
Hoje, fica claro que em muitas nações pobres do mundo busca-se desenvolver um esforço técnico-científico que está sendo destinado ao reconhecimento e descrição de seus patrimônios físico, biológico, social econômico e cultural objetivando definir o caminho para a gestão do ambiente. Pode-se salientar que os alvos da política ambiental de uma nação e devem basear-se na conservação e preservação ambiental, manutenção e ampliação das condições básicas de desenvolvimento sócio - econômico e melhoria sistemática da qualidade de vida.
Bibliografia
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VANZOLINI, P. E. Questões Ecológicas ligadas a Conservação a Natureza no Brasil. Biogeografia . São Paulo: USP - IG, 1980.
¹Professora de Metodologia da Pesquisa Científica no Curso de Pedagogia e também membro da equipe de Estágio Supervisionado e Elaboração e Análise de Projetos e no Curso de Administração da Faculdade de Presidente Prudente ( UNIESP).
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