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sexta-feira, 13 de maio de 2011

AMANHÃ FORA DA ÉPOCA

A manhã, fora de época
Nunca, em toda a glória erguida,
amadeirada na cancela que avisava
o começo da vida das terras de meu pai,
a vegetação fora acrescida de tanto esmero.

O homem dividiu as terras em cercas,
Deus dividiu os homens em línguas...
E o mundo juntou tudo pra ficar dando voltas,
até e pra sempre chegar no mesmo lugar.

Escrevo por tanas vezes o mundo perfeito
Juntando no tempo as imperfeições que aprecio
em seus lugares:
As estrelas só doando seus brilhos nas noites,
a comida oferecida na mesa só na hora da fome,
os estragos que puseram minha mãe
dentro das tardes só em pontos ocupados no crochê.
Minha mãe é uma saudade em gerúndio,
a casa que me habita e guarda
nuca mais vai colar a boca:
chinelos soltos, panos-de-prato pra pintar,
gavetas, cacarecos pra remoer, um brinco sem par,
agulhas e linhas de crochê pra fazer a mão caminhar.

Um raio de luz enfeitando o céu
seria um bom modo pra decifrar esta lembrança.

Que fato eu pra dividir-me em perdão
que circunda as falhas humanas?
Pois só quero aquilo que quero.
E em ponto.
“vai amar e entender estrelas”, diria Bilac,
Pálido de espanto!
“vá com esse chinelo ‘mermo’, diria minha avó”.
E a vida engrenaria a minha própria imagem
Nas pernas suaves desta manhã.

Marta Eugênia

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