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segunda-feira, 7 de março de 2011

A TIGELA DE MADEIRA

Um senhor de idade foi morar com seu  filho, nora e o netinho de quatro anos de idade.
As mãos do velho eram trêmulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes.
A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão falha do avô o atrapalhavam na hora de comer.
Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão.
Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha da mesa.
O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.
- Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai – disse o filho.
- Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão.
Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições à mesa, com satisfação.
Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira.
Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair ao chão.
O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio.
Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu  que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira.
Ele perguntou delicadamente à criança:
- O que você está fazendo?
O menino respondeu docemente:
- Oh, estou fazendo uma tigela para você  e mamãe comerem, quando eu crescer.
O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho.
Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos.
Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito.
Naquela noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família.
Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as refeições com a família.
E por alguma razão, o marido e a esposa  não se importavam mais quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.

Cláudio Seto



Nenhum país que se considere evoluido ou avançado pode esquecer o bem-estar de seus idosos. Eles merecem de resto todo o respeito, carinho e atenção. Infelizmente tantos são esquecidos ou desprezados no país onde não são contemplados em nenhum programa de governo que pouco pensa nos velhinhos que vivem na solidão, seja nos lares ou em casas próprias onde se sentem sozinhos, alguns recebendo no entanto apoio domiciliar prestado por organizações de solidariedade social que tentam amenizar um pouco o problema dos Idosos em Portugal.

Lamentável é também o facto de seus próprios familiares se esquecerem dos idosos nos Lares onde os ‘depositam’ e acabam suas vidas ali, cheios de monotonia, numa rotina diária de sofá/cama, sentindo total abandono ou desapego dos que teriam alguma obrigação moral de os visitar assiduamente e lhes prestar mais atenção. Muitos morrem de desgosto ou de grande tristeza em seu coração.

Conheço casos que me fazem escrever este artigo, pois ele visa sobretudo sensibilizar a Sociedade para esta questão. De resto, os idosos não deviam ser considerados um ‘peso’ mas sim um valor social que engrandeceria qualquer país que lhes desse maior protecção. Por isso, deveria ser criada uma nova profissão (os Cuidadores de Idosos) com programas de formação especializada para lidar com seres humanos fragilizados, angustiados, sentindo-se mal amados, muitos sendo maltratados, devendo pois ser ajudados e protegidos, como desejariamos para nós um dia que cheguemos à mesmíssima situação.

Parece que os politicos do meu país não consideram a velhice um valor acrescentado na Sociedade, onde infelizmente só são válidos os que produzem riqueza e pagam seus impostos, enquanto os que terminaram sua actividade, por força da idade, ficam esquecidos ou desprezados, muitos dependendo da bondade ou solidariedade dos outros, quando deveria ser o próprio Estado a garantir seu bem-estar até ao fim da vida. Não basta encerrar Lares sem condições, há que investir em verdadeiras “Casas de Repouso” onde todos os idosos, sem excepção, possam viver em paz e tranquilidade e terminem seus dias com um sorriso de gratidão.
Pausa para reflexão!

Por Rui Palmela - Portugal

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