A análise a seguir é resultado de questionário contendo treze (13) questões aplicado em algumas escolas públicas dos municípios de Arapiraca e de Penedo como instrumento básico para o recolhimento de informações acerca da concepção de língua adotada por professores de Língua Portuguesa.
As análises mencionadas neste trabalho foi fruto de uma síntese feita a partir das respostas dos professores que responderam ao questionário. Destarte, as palavras que constam aqui não condiz na íntegra com as palavras deles mas, de uma interpretação dos pesquisadores para efeito de condensação e estudos.
Desse modo, temos como objetivos: além de observar quais as representações de língua que os entrevistados têm, partindo da relação deles com a língua portuguesa e do modo como eles vêem a aprendizagem da mesma, promover uma reflexão sobre o ensino de português, partindo da experiência de imersão que os sujeitos entrevistados estão vivendo.
A aprendizagem resulta de uma relação entre um sujeito que sabe-fazer e o outro que
aprende a fazer, mediados por essa linguagem. Aprender a fazer não implica que o interlocutor tenha condições de resolver situações-problemas de forma crítico-reflexiva.
São constantes as reclamações de alunos e professores acerca das dificuldades de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa, logo despertaram as dúvidas: Será que estudar Português é tão ruim assim? Será que, mesmo já falando a língua portuguesa, esta se torna tão complicada assim? Será que são os professores que não tem conhecimento da língua e, por isso não conseguem fazer os alunos gostarem de estudá-la? Será que os alunos são tão ruins de entenderam o funcionamento da língua?
Ao longo da pesquisa e das análises dos questionamentos, foram evidenciados vários fatores que dificultam a aprendizagem, dentre eles a pouca ou quase nenhuma exploração dos questionamentos de compreensão e interpretação dos textos dos livros didáticos (Linguagem Nova – de Faraco & Moura – 8ª série) uma vez que a maioria dos professores que responderam ao questionário considera-nos muito bons e segundo análise dos mesmos percebeu-se que a maioria das questões são muito fechadas, ou seja, não permitem que o aluno exponha seu ponto de vista, existe uma resposta pronta que se pode encontrar no próprio texto. Por exemplo, no livro anteriormente citado, na página 84 da 2ª edição de 2002, há o seguinte questionamento referente a compreensão e análise do texto “Saudade do televizinho”: “No final do quarto parágrafo, compara-se a televisão da época do televizinho ao caleidoscópio. O que havia de comum, segundo o autor, entre aquele aparelho e este instrumento?”
Percebe-se que não há possibilidade de um aluno opinar a respeito de um texto a partir de questões como essa, logo, não tem como ele desenvolver seu senso crítico nem compreender as verdadeiras intenções do texto, no entanto o professor diz que o livro é bom, logo se vê que a concepção de língua desse professor é a de que a língua é tida como expressão do pensamento, uma vez que o significado está no texto e o leitor não precisa pensar, tudo que ele precisa já se encontra no texto.
Nove dos dezesseis docentes que responderam a pergunta “É satisfatória a exploração da gramática no livro didático usado por você em sala de aula?” alegaram que a gramática presente no livro é muito resumida, não dá para explorar satisfatoriamente, o que dificulta a aprendizagem. Mais uma vez constata-se que para eles a língua é apenas a expressão do pensamento.
Com relação as atividades de compreensão dos textos dos livros didáticos, onze dos que responderam a questão “Como são trabalhadas as atividades de compreensão e interpretação de textos em suas aulas?” alegaram que por motivos das turmas serem numerosas, copiavam no quadro a resposta adequada à pergunta do livro do primeiro aluno que respondia e os outros copiavam para estudarem para a prova, logo os demais não opinavam, ficavam assujeitados às concepções dos que tinham suas respostas como base de compreensão; quatro docentes responderam que só trabalhavam um texto por semana já que com o grande número de alunos por turma era grande e ele teria que ouvir a resposta da grande maioria e aceitava todas as respostas relevantes à temática que o texto apresentava; um não respondeu a esta questão.
Para a questão “Descrição detalhada de algumas atividades que realiza em sala de aula que envolve leitura.” A grande maioria disse que ao iniciar a aula de leitura, pedia aos alunos que abrissem o livro na página tal e fizessem uma leitura silenciosa, em seguida pedia a um aluno que começasse e os outros prestassem atenção porque quando o professor mandasse o outro aluno continuaria com a leitura. Quando terminavam de fazer a leitura o professor comentava e em seguida pedia que respondessem as atividades que seriam corrigidas em seguida no decorrer do restante da aula. Terminada a correção, partiriam para o assunto de gramática que vem depois do texto, levando com isso o tempo suficiente para abordar todo o conteúdo e os exercícios, durante duas, três aulas.
Diante desta resposta do professor, verifica-se que o ensino da gramática sobrepõe o incentivo e o estudo das utilidades do texto, sem falar na falta de situações reais cotidianas para aplicabilidade dos gêneros textuais em sala para que a partir daí, o aluno aplique de forma competente no exercício comunicativo do dia a dia.
Neste caso verifica-se ainda que o aluno não tem espaço para comentar, opinar, discutir sobre o texto, limita-se a ouvir os comentários do professor e deve se conformar com as ideias dele, atuando apenas como um ser passivo dependente do ponto de vista daquele que se considera detentor do conhecimento.
Diante do questionamento “Qual o conceito que você tem de gramática e qual sua importância para o estudo e aprendizado de Língua Portuguesa?” a maioria respondeu que a gramática é de suma importância para o bom desempenho do aluno tanto em Língua Portuguesa quanto nas outras disciplinas. Como não se pode modificar os ditames de um manual, a gramática sendo o manual da língua portuguesa não se pode fugir das regras de uso o que mostra mais uma vez que a maioria dos professores vêem a Língua como expressão do pensamento, não precisando o aluno pensar uma vez que tudo de que ele precisa está lá, no texto.
Também ficou claro que as dificuldades de leitura, produção e compreensão de textos por parte dos alunos é devido a pouca prática de produção uma vez que quando perguntado aos professores “Quantas produções de textos você solicita em suas turmas por bimestre?”, a resposta máxima adquirida foi de três textos e alegaram que falta tempo para corrigirem e que raramente se faz exercícios de reescrita, neste caso há a comprobabilidade de que não há incentivo à prática de autocorreção nem de produção.
A resposta de quatro professores à pergunta: “O que, em sua opinião, um (a) professor (a) de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental deve saber?” Foi: “planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar a adequação da linguagem dos alunos às necessidade exigidas pelo processo de comunicação”; seis responderam: “explicitar bem o uso das regras da gramática para que os alunos aprendam a falar e escrever bem”; e seis abordaram, além de: “planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar a adequação da linguagem dos alunos às necessidade exigidas pelo processo de comunicação”; salientaram também a importância do uso de textos diversos em sala e fora dela para que os alunos, de fato, aprendam a usar os mais variados “tipos” de textos na escola para poderem usa-los de forma adequada no processo comunicativo diário. A maioria absoluta respondeu às questões: “Quais os gêneros textuais você trabalha em suas aulas?” e “Qual a importância da leitura na vida das pessoas em nossa sociedade?” que são muito importantes para o desenvolvimento do alunado, por isso, para as produções de textos é importante que o docente lance o tema na classe e sugira uma produção dissertativa, onde o aluno vai expor seu ponto de vista acerca da temática abordada. Neste caso é pertinente comentar que nem sempre o aluno está preparado para dissertar sobre um assunto sem que tenha um conhecimento prévio do tema. Essa visão é possível porque se os trabalhos com textos em sala de aula são tão poucos, o incentivo à leitura é tão defasado, como o aluno vai ter subsídios para dissertar sobre um assunto se ele não ler sobre tal, portanto não vai ter conhecimentos suficientes para argumentar de forma coerente sobre o que lhes é solicitado.
Por unanimidade, os dezesseis professores que responderam à questão “Que fatores são levados em consideração no momento em que você corrige as produções escritas dos alunos?” disseram que levam em conta, acima de tudo, a clareza das idéias expostas pelos alunos nas produções e que em seguida a aplicação das regras da gramática, pois, só é possível tornar um texto coerente mediante a organização supracitada.
Analisando essa questão, percebe-se que as intenções dos professores são muito boas, no entanto, percebe-se também a falta da consciência de que as ideias devem sobrepor os dogmas da gramática e esta deve ser apenas um norte e/ou uma variação da linguagem, não um pilar de fundamentação para a organização das ideias.
Para a pergunta: “Para você, a profissão de professor (a) de língua materna é mais próxima de:” onze docentes alegaram que a abrangência da profissão o profissional a se tornar uma espécie de sociólogo, uma vez que ele tem que ter uma visão de mundo ampla e capaz de compreender as mudanças de concepções da sociedade; outros quatro alegaram que o profissional da educação se compara ao psicólogo uma vez que tem que compreender as razões que permeiam o comportamento dos alunos no ambiente escolar; e um alegou a se assemelhar ao pai ou a mãe, uma vez que tem responsabilidades com a educação e futuro dos discentes.
Foi perguntado “Um (a) bom (boa) professor (a) de língua materna é aquele (a) que:” treze dos que responderam salientaram, de forma satisfatória, inclusive, que é aquele que compreende as razões do comportamento do aluno, que busca se informar para melhor atender às necessidades do alunado; e três salientaram que é aquele que desempenha seu papel de forma a preparar os discentes para o mercado de trabalho.
A resposta para a questão “Quais os gêneros mais freqüentes que você usa em suas aulas?” por unanimidade responderam que quem define o gênero a ser trabalhado é a sequência do livro didático, uma vez que se se afastarem dessa seqüência vai atrasar os conteúdos e, neste caso o professor pode ser tido como negligente se no final do ano não tiver concluído os conteúdos programáticos da série em questão.
Nestes casos, verifica-se que os problemas de aprendizagem em Língua Materna se devem a uma série de fatores que, nem só o professor, nem só o aluno é culpado. No entanto, na condição de profissional devidamente treinado, dono de uma saber já sistematizado e maduro, o docente deve ter em mente que é dele que depende a boa formação dos discentes e não pode achar que o sistema vai tachá-lo de negligente se seu trabalho tem respaldos positivos nos exercícios de comunicação do aluno.
A partir dos resultados obtidos, ficou uma boa idéia de que uma grande parte dos professores de língua materna vê a linguagem como expressão do pensamento e/ou instrumento de comunicação, quando já deveriam encará-la como espaço de interação, principalmente aqueles que já possuem graduação completa ou estão na universidade e atuam em sala de aula. Destarte, os órgãos superiores de educação deveriam investir mais na formação continuada dos docentes ativos para então melhorar o ensino e a aprendizagem em LÍNGUA PORTUGUESA.
Partindo dessas perspectivas, entende-se agora que as dificuldades de aprendizagem da língua não dependem apenas da preguiça do aluno, da incompetência do professor, mas de um conjunto de fatores, sobretudo ideológico adquiridos ao longo da formação do docente, e do compromisso de cada uma com a educação.
“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas propõe.” (Jean Piaget)
Aldemir Francelino
Nenhum comentário:
Postar um comentário