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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ESTUDO REVELA NOVOS INDÍCIOS SOBRE RESSURREIÇÃO DE JESUS


"Até agora me parecia impossível que tivessem aparecido túmulos desse tempo com provas confiáveis da ressurreição de Jesus ou com imagens do profeta Jonas, mas essas evidências são claras", afirmou nesta terça-feira à Agência Efe o professor James Tabor, diretor do departamento de estudos religiosos da Universidade da Carolina do Norte, um dos responsáveis pela pesquisa.
O túmulo em questão foi descoberto em 1981 durante as obras de construção de um prédio no bairro de Talpiot, situado a menos de quatro quilômetros da Cidade Antiga de Jerusalém. Um ano antes, neste mesmo lugar, foi encontrado um túmulo que muitos acreditam ser de Jesus e sua família.
Ao lado do professor de Arqueologia Rami Arav, da Universidade de Nebraska, e do cineasta canadense de origem judaica Simcha Jacobovici, Tabor conseguiu uma permissão da Autoridade de Antiguidades de Israel para escavar o local entre 2009 e 2010.
Em uma das ossadas encontradas, que os especialistas situam em torno do ano 60 d.C., é possível ver a imagem de um grande peixe com uma figura humana na boca, que, segundo os pesquisadores, seria uma representação que evoca a passagem bíblica do profeta Jonas.
A pesquisa, realizada com uma equipe de câmeras de alta tecnologia, também descobriu uma inscrição grega que faz referência à ressurreição de Jesus, detalhou à Agência Efe o professor Tabor, que acrescentou que essa prova pode ter sido realizada "por alguns dos primeiros seguidores de Jesus".
"Nossa equipe se aproximou do túmulo com certa incredulidade, mas os indícios que encontramos são tão evidentes que nos obrigaram a revisar todas as nossas presunções anteriores", acrescentou o especialista, que acaba de publicar um livro com todas as conclusões de sua pesquisa, "The Jesus Discovery".
O professor reconhece que suas conclusões são "controversas" e que vão causar certo repúdio entre os "fundamentalistas religiosos", enquanto outros acadêmicos seguirão duvidando das evidências arqueológicas da cristandade.
Anteriormente, essa mesma equipe de pesquisadores participou do documentário "O Túmulo Secreto de Jesus", produzido pelo cineasta James Cameron. Na obra, os arqueólogos encontraram dez caixões que asseguram pertencer a Jesus e sua família, incluindo Virgem Maria, Maria Madalena e um suposto filho de Jesus.
Segundo o documentário, as ossadas encontradas supostamente apresentavam inscrições correspondentes às identidades de Jesus e sua família, o que acaba reforçando a versão apresentada no livro "O Código da Vinci", de Dan Brown, o mesmo que indica que Jesus foi casado com Maria Madalena e que ambos teriam tido um filho juntos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

AS OBSERVAÇÕES DE BRUNINHA

Observações da Bruninha (08 anos de idade), depois de ter recebido de sua mãe a espinhosa missão de vigiar escondida sua irmã Suzana (17 anos), que teve permissão de sua severa mãe de poder namorar no sofá da sala. Ela faz seu ingênuo e detalhado relatório de tudo que viu, ouviu e sentiu:


PARA MAMÃE:



“Mãe, a Suzana e o namorado apagaram a maior parte das luzes e se sentaram no sofá. Ele chegou perto dela e começou a abraçá-la. A Suzana deve ter começado a ficar doente porque seu rosto começou a ficar vermelho.
O namorado dela deve ter percebido que ela começava a passar mal, porque ele colocou a mão dentro da blusa dela, acho que pra sentir seu coração.  Só que ele demorou muito pra encontrá-lo!!!
Aí, foi ele quem começou a ficar doente, porque os dois começaram a ficar ofegantes, com pouca respiração. Acha que a mão dele estava fria, porque ele a colocou por dentro da saia da Suzana, que deitou no sofá dizendo que estava muito quente.
Depois de algum tempo consegui ver o que estava deixando os dois doentes: uma enguia enorme tinha saltado do bolso da calça dele, era muito grande, devia ter uns 20 centímetros de comprimento.
Foi então que a Suzana agarrou a enguia com as duas mãos, acho que pra evitar que ela fugisse, e disse que era a maior que já tinha visto.
De repente a Suzana deve ter ficado maluca, porque ela tentou comer a enguia. Colocou ela inteirinha na boca e ficou tentando engolir.
Acho que enguia é uma coisa muito dura e ruim de comer, principalmente viva, porque depois de um tempão a enguia vomitou e saiu da boca da Suzana ainda inteirinha!!!
O namorado da Suzana então enfiou a enguia num saco plástico, tentando sufocá-lo, daí a Suzana tentou ajudá-lo e deitou prendendo a enguia entre as pernas, enquanto o namorado deitava em cima dela, eles ficaram tentando esmagar a enguia entre eles.
Mãe, eu confesso que fique assustada porque a Suzana gritava tanto e se contorcia toda.  Depois de muito tempo os dois soltaram um suspiro de alívio. Acho que conseguiram matar a enguia, porque eu a vi pendurada abaixo da barriga do namorado da Suzana.
A Suzana e o namorado sentaram-se no sofá e começaram a se beijar e, quero que um raio caia na minha cabeça, se a enguia morta não ressuscitou e eles começaram a batalha novamente.
Acho que o namorado estava cansado, pois foi a Suzana que tentou esmagar a enguia sentando em cima dela.
Imagino que a Suzana é muito fraquinha porque depois de algum tempo o namorado pediu pra ela deitar de bruços e voltou a Esmagar a enguia, mas dessa vez com muita força.
Fiquei preocupada porque a Suzana gritava muito, porém, a vontade de matar era tanta que ela gritava: Vai! Vai! Não pára! Não pára!
Depois de uns quarenta minutos enfim o alívio: a enguia morreu!!
O namorado da Suzana disse que tava todo esfolado e jogou a pele da enguia pela janela.
Mãe, eu estava pensando: acho que as enguias são como gatos, tem sete vidas ou mais...”


Ass.: Bruninha.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CIENTISTAS DESCOBREM NOVO PLANETA COMPOSTO POR ÁGUA EM SUA MAIOR PARTE

Um grupo de astrônomos descobriu a existência de um novo tipo de planeta, composto em sua maior parte de água e com uma leve atmosfera de vapor, indicaram nesta terça-feira o Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian (Cambridge, nordeste dos Estados Unidos) e a Nasa.
Trata-se de um planeta fora de nosso sistema solar denominado "GJ1214b", descoberto em 2009 graças ao telescópio espacial Hubble da Nasa, e que, segundo recentes estudos de um grupo de astrônomos, tem "uma enorme fração de sua massa" composta de água, indica um comunicado conjunto.
Em nosso sistema solar existem três tipos de planetas: rochosos e terrestres (Mercúrio, Vênus, a Terra e Marte), gigantes gasosos (Júpiter e Saturno) e gigantes de gelo (Urano e Netuno).
Por outro lado, existem planetas variados que orbitam em torno de estrelas distantes, entre os quais há mundos de lava e "Júpiteres" quentes.
"Observações do telescópio espacial Hubble da Nasa acrescentaram este novo tipo de planeta", ressaltaram o Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian e a Nasa em seu comunicado, onde explicam os estudos realizados pelo astrônomo Zachory Berta e por um grupo de colegas.
O "GJ1214b", situado a 40 anos luz da Terra, é considerado uma "super-Terra", com 2,7 vezes o comprimento de nosso planeta e sete vezes seu peso.
Ele orbita a cada 38 horas ao redor de uma estrela vermelha anã e possui temperatura estimada de 450 graus Fahrenheit (232 graus celsius).
Em 2010, um grupo de cientistas liderado por Jacob Bean havia indicado que a atmosfera de "GJ1214b" deveria ser composta em sua maior parte por água, depois de medir sua temperatura.
No entanto, suas observações também podem ter sido feitas em razão da presença de uma nuvem que envolve totalmente o planeta.
As medições e observações efetuadas por Berta e por seus colegas quando o "GJ1214b" passava diante de seu sol permitiram comprovar que a luz da estrela era filtrada através da atmosfera do planeta, exibindo um conjunto de gases.
O equipamento do Hubble permitiu distinguir uma atmosfera de vapor e os astrônomos conseguiram calcular depois a densidade do planeta a partir de sua massa e tamanho, comprovando que tem "muito mais água do que a Terra e muito menos rocha".

PARA PRODUÇÃO DE TEXTO

O PAPEL DA MÍDIA NA FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO

“A mídia tem um papel fundamental na sociedade: informar, formar opinião e vender.” O papel da mídia pode ser o de uma grande arma de combate contra a injustiça, mas muitas vezes o seu papel é controverso e ela acaba por se transformar em um objeto de manipulação.
A mídia acaba por mudar os costumes, o pensamento e até o modo de vida da população. Isso muitas vezes gera motivo de preocupação, uma vez que muitas vezes nós só temos acesso a uma verdade modificada, que foi alterada e maximizada para ficar mais chamativa e atraente para o leitor. Não é incomum também a notícia não aparecer inteira e sim somente parcial, de modo que nós não temos acesso à informação na íntegra, o que pode vir a prejudicar e até deformar a nossa concepção dos acontecimentos.
O jovem é o mais suscetível a essa manipulação, expondo coisas inúteis sobre coisas inúteis, formando assim cabeças vazias e sem autonomia, as quais não tem capacidade de pensar por si próprias, uma vez que tiveram uma má formação intelectual, que é causada por diversos fatores e influenciada, cada vez mais, pelo fator midiático.
Portanto, podemos concluir que tudo que é bom tem o seu lado ruim, e com a mídia não é diferente. Ela possui um grande grau de influência na vida do espectador, e esta influência pode ser tanto positiva quanto negativa, e isso cabe a cada um escolher.



LEIA TAMBÉM:


MÍDIA E EDUCAÇÃO
Maria Inês Ghilardi-Lucena
Centro de Linguagem e Comunicação, PUC-Campinas

         Nossa proposta é iniciar um debate que se estenda para além do uso do jornal na sala de aula – tema deste Seminário – e refletir sobre as relações de outras mídias com a educação. O mundo atual depende cada vez mais dos veículos midiáticos e a escola, como parte da sociedade, não deve deixar de incorporar as inovações tecnológicas deste início de século.
Uma das características mais marcantes do mundo atual é a influência dos meios de comunicação de massa (mídia) na vida cotidiana. Por isso mesmo estamos frequentemente presenciando uma polêmica sobre os benefícios e os malefícios do poder da mídia.
No que diz respeito à importância do jornal na Educação tem-se debatido, estudado, enfim, parece que o jornal está (sendo) incorporado aos modernos estudos nas diversas áreas do conhecimento. Já é consensual o fato de que o jornal pode e deve estar presente na escola. É claro, também, que esse debate não se esgotou.
Entretanto, discutiu-se muito menos sobre as outras mídias, por exemplo a rádio e a TV educativas, o uso da programação da televisão aberta e de ferramentas eletrônicas, da Internet, do cinema, de revistas não acadêmicas de circulação nacional, que poderiam auxiliar professores e alunos ao serem incorporados à sala de aula servindo de instrumentos pedagógicos. Atualmente, há grande necessidade de reflexões sobre como aproveitar os recursos da Internet sem que os alunos percam a criatividade, não permitindo que seu uso fique reduzido a “copiar” trechos e textos sem critério.
Considerando que esses meios evoluem e modificam-se rapidamente e, ao que parece, a escola nem tanto, nossa reflexão caminha no sentido de ajustar as relações entre as instituições de ensino e os modernos recursos midiáticos. Parece que, na realidade da sala de aula, muitos se inibem, têm dúvidas, medo de arriscar, ousar, ou, então, as dificuldades, os empecilhos do sistema escolar provocam desânimo.
Neste momento, faremos algumas considerações sobre o uso da programação comum da TV na escola e um breve comentário sobre a Internet e a mídia em geral.
Há educadores que são totalmente contra o uso da televisão na escola. Dizem que quanto menos TV, principalmente para as crianças, melhor, mesmo que se pense nos bons programas, excluindo os reality shows e programas de baixa qualidade. Argumentos não faltam: quanto maior o número de horas diante da televisão, mais aumenta o risco de violência, devido a uma tendência de imitação de comportamentos violentos; a TV é para entretenimento, a escola é para estudar etc.
O jornalista e professor Eugênio Bucci, em sua coluna De olho na televisão, publicada na revista Nova Escola (março de 2002), critica a programação televisiva por não possibilitar o desenvolvimento do raciocínio do telespectador. Segundo ele, “ver TV, quase sempre, é sinônimo de pôr o raciocínio em repouso”, ou seja, “não se aprende a raciocinar vendo TV.” No entanto, “existe hoje um certo endeusamento da televisão como ferramenta da educação. É um endeusamento indevido. (...) A TV pode ajudar o professor, mas jamais substituí-lo. Pode até ilustrar as lições, mas jamais guiar o pensamento abstrato, feito de palavras e números. (...) O raciocínio não é entretenimento, mas trabalho mental.” O autor termina o texto dizendo que a televisão “não é capaz de pegar o aluno pela mão e levá-lo aos passeios do raciocínio. Para isso existe o professor, o diálogo, a palavra escrita, o número e a escuridão do que ainda está por ser conhecido.”
A falta de criatividade do jovem – tão apontada por docentes como sendo um dos grandes entraves para os exercícios de produção de texto – parece ter estreita relação com a exposição da criança e do jovem à televisão. A produção dos alunos tem sido “uma espécie de cópia dos padrões consagrados pela televisão”. Bucci (jan./fev. de 2002), em outro texto, diz que:
Já não é mais na escola que a criança aprende a separar o feio do bonito, o certo do errado, a virtude do vício. É na mídia que ela aprende isso. A função de hierarquizar os valores, que já coube à religião e, até meados do século XX, também à instituição escolar, encontra-se hoje usurpada pela tela da TV. Não é fácil. O professor se sente “competindo” com a mídia. Ele precisa ensinar valores éticos e estéticos que a TV “desensina”.
Outro problema causado pela exposição de crianças (adolescentes e adultos também) por muitas horas em frente à TV é a falta da interatividade característica desse meio de comunicação. O telespectador não tem a oportunidade de construir seu próprio discurso – mesmo em relação àqueles programas que se dizem interativos – por não poder dialogar com a televisão. Se partirmos da ideia de que o eu só se constrói na relação com o outro, falta aí a interatividade necessária à constituição do sujeito.
Entretanto, não é fingindo que a TV não existe que resolveremos os problemas da educação. Esse veículo midiático está em quase todos os lares e a grande maioria dos alunos está exposta à sua programação pelo menos em um período do dia. Os estudantes, assim como a maior parte da população em geral, assistem à televisão. E será que ela só traz aspectos negativos ao ser utilizada na escola? Assim, estudá-la e olhar criticamente para sua programação pode ser um caminho para não se deixar “contaminar” pelos males que ela possa causar.
Se o jornal tem auxiliado muito no processo educativo, proporcionando a possibilidade de leitura crítica de seus textos, com a televisão poderá ocorrer o mesmo, e ainda ampliar-se o rol de gêneros de textos a serem estudados, pois esse veículo contém a imagem em movimento, além da palavra, formando um conjunto intersemiótico para ser lido e estudado.
Quanto à Internet, fenômeno mais recente, seu uso vem trazendo uma nova discursividade, uma nova linguagem que, é lógico, também necessita de estudos e debates para que se possa conhecê-la e tirar proveito para o trabalho pedagógico. Ela está se tornando cada vez mais necessária para todos, como o telefone e o automóvel e poderá mudar substancialmente muitos dos nossos hábitos; ela chegou para transformar a nossa história. Seu uso cresce tanto que os textos virtuais terão (até já estão tendo) outros suportes que não o computador pessoal daqui a pouco tempo: telefone celular, televisão ou algum outro utensílio.
O interessante é que ela cria um novo espaço de comunicação, diferente, direto, nem sempre mediado pela imagem (como na TV) e cria a possibilidade de diálogo. Não há o emissor unilateral, não há centralização de produção, de poder. Seu uso torna-se imprescindível à escola, aos professores e alunos.
No entanto, a maneira como utilizá-la deve ser bem direcionada para que não prejudique a educação das crianças e adolescentes. Há várias questões a serem discutidas, sobretudo quando pensamos na leitura com esse novo suporte (virtual) de textos: a enorme quantidade e velocidade de informações da rede; a qualidade de seu conteúdo; o acesso a essas informações; a constituição da identidade, da subjetividade do leitor e o papel do professor.
Nesse contexto, a orientação dos professores é fundamental. Mas as relações dos docentes com a Internet é outra questão merecedora de reflexão. Faz-se necessária, portanto, a discussão sobre como aproveitar os recursos da Internet sem que os alunos percam a criatividade. O professor deve estar bem preparado para auxiliar os estudantes e também ser leitor de textos virtuais.
Nos últimos anos houve uma mudança na situação educacional da sociedade: nos anos 60, as crianças eram “educadas” pelos pais, pela escola, pelo cinema e pelos amigos; hoje, esse papel está distribuído entre a televisão (principalmente), os jornais, as revistas e a Internet. É, portanto, crescente importância da mídia como instrumento de informação no cenário do país e como formadora de opinião. Se eliminarmos a ideia de que a educação deve se restringir à escola, quando, na verdade, está articulada com toda a sociedade como instrumento essencial na formação do indivíduo, os meios de comunicação poderão ser vistos como auxiliares na construção da cidadania. Para isso é necessária, por um lado, a conscientização dos profissionais da mídia de seu papel como agentes dos processos educativos em favor da população; por outro, a formação de educadores para dialogarem com a mídia e serem críticos dos veículos.
Em favor do uso da mídia na formação do cidadão, José Marques de Mello (1999: 41, 42) diz que “uma notícia de jornal conduz a um filme, um seriado de televisão estimula a leitura de um livro, um programa de rádio incita à audição de um disco, um filme motiva a compra de um fascículo ou uma revista.” Assim, teremos cidadãos instruídos que exigirão melhor qualidade da programação de tais veículos. O autor mostra que a “própria indústria midiática, estruturada segundo as regras da economia de mercado, procura captar os anseios dos consumidores, atuando em consonância com as suas expectativas. E quanto maior for a competição entre as produtoras, mais benefícios terão os consumidores, pela variedade de opções existente” (p. 41).
Ler o discurso da mídia é condição para a inserção do sujeito na sociedade e na História de seu tempo.
O acesso à leitura – um bem cultural – deve ser oportunizado a todos os cidadãos. Ler a palavra escrita, a palavra oral, a palavra não-dita, implícita no contexto ou em uma imagem, e depreender o sentido que emana de fatores linguísticos e extralinguísticos torna-se prioridade na escola e fora dela. O analfabeto, hoje, não é simplesmente aquele que não sabe ler ou escrever, mas o que não compreende os textos que o circundam (Ghilardi, 1999: 107).
O novo deve ser estudado na escola, que continuará seu papel de investir na construção do saber, não se omitindo de participar dos acontecimentos ao seu redor. Ainda nesse sentido, citamos Citelli (35) que defende a ideia de que a inserção da escola no ecossistema comunicativo é um desafio para todos os educadores:
A escola, enquanto instituição privilegiada no contexto da formação da sociabilidade, deve otimizar o seu papel, ampliando o conceito de leitura e aprendizagem, equipando-se para entender melhor os significados e os mecanismos de ação das novas linguagens, interferindo para tratar as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa à luz do conceito de produção dos sentidos, algo que se elabora por uma série de mediações e segundo lugares específicos de constituição, que incluem interesses de grupos, valores de classes, simulacros, máscaras etc.
Concluindo, nossa tentativa, aqui, é a de mostrar que:
*     a mídia sozinha não muda o comportamento da pessoas;
*     ao lado da mídia existem outros mecanismos e agências socializadoras como a família, a Igreja, o grupo profissional, a comunidade e a escola;
*      é necessário conhecer com profundidade os vários veículos midiáticos para que se possa criticá-los e usufruir de seus benefícios;
*     há experiências positivas do uso da mídia na escola;
*     os projetos de estudo dos textos midiáticos são programas de incentivo à leitura;
*     o papel do professor é fundamental no uso que se faz da mídia.
Objetivamos levantar questões para um debate que apenas se inicia e criar espaço para a discussão sobre as relações da mídia com a educação. Assim, indagamos:
*     Será que a educação é que deve preocupar-se com a mídia, incorporá-la em seus projetos, ou a mídia é que deveria dar (mais) espaço à educação?
*     Qual é o papel da rádio e da TV educativas?
*     Como os meios de comunicação podem contribuir significativamente para a preparação do educando para a conquista da cidadania?
*     Que a mídia influi na educação e é formadora de opinião, é fato. Então, se houvesse maior preocupação dos meios de comunicação com a formação das crianças e dos jovens, muitos problemas educacionais estariam resolvidos. Ou será que investir em educação não traz retorno publicitário e econômico aos veículos midiáticos?
*     Qual é o real papel da escola? Dar educação formal e possibilitar a apropriação e a assimilação de conhecimentos e habilidades úteis e/ou necessárias à vida do indivíduo dentro da vida social? Há os que acreditam que ela é a “redentora universal da sociedade, na esperança de que sua ação possibilite a equidade social“; há os que “entendem que a escola só pode servir para a reprodução do modelo social, pois ela sempre esteve a serviço das classes dominantes, através da reprodução dos seus valores ou por meio da violência simbólica, inculcando valores dominantes e criando hábitos permanentes de pensamento e conduta” (...) e há os que “consideram que a escola pode ter um papel no processo de transformação da sociedade, não propriamente como um mecanismo social ao lado de outros, que possibilita o encaminhamento da transformação” (Luckesi, 1986: 37).
A busca de soluções para os problemas das escolas que não conseguem/conseguiram acompanhar a evolução dos tempos e tirar proveito das relações com a mídia deve ser coletiva, mas o esforço individual conta muito nesse momento.
Esperamos incentivar trabalhos e propostas de pesquisa, que contribuíam para a reflexão dos envolvidos com a educação e gerar, então, mudanças de atitude que possam aprimorar nossas escolas.

Referências bibliográficas
BUCCI, E. As tristes cópias do medíocre. In Editora Abril, Nova Escola. Janeiro/fevereiro de 2002, p. 12.

BUCCI, E. O raciocínio e o entretenimento. In Editora Abril, Nova Escola. Março de 2002, p. 14.

CITELLI, A.O. Educação e mudanças: novos modos de conhecer. In CITELLI, A.O. (coord.) Outras linguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, informática. Coleção Aprender e ensinar com textos, v. 6, São Paulo: Cortez, 2000, p. 17-38.
GHILARDI, M.I. Mídia, poder, educação e leitura. In BARZOTTO, V.H. e GHILARDI, M.I. (orgs.) Mídia, educação e leitura. São Paulo: Anhembi-Morumbi/ALB, 1999, p. 103-112.

LUCKESI, C.C. Presença dos meios de comunicação na escola: utilização pedagógica e preparação para a cidadania. In KUNSCH, M.M. (org.) Comunicação e educação – caminhos cruzados. São Paulo: Loyola/ AEC do Brasil, 1986.

MELLO, J.M. de. Estímulos midiáticos aos hábitos de leitura. In BARZOTTO, V.H. e GHILARDI, M.I. (orgs.) Mídia, educação e leitura. São Paulo: Anhembi-Morumbi/ALB, 1999, p. 39-47.

Acessado em: 22/02/2012.
TEMA PARA PRODUÇÃO DE TEXTO: Qual o papel da mídia na formação do indivíduo para a cidadania?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O QUE SIGNIFICA “CARALHO”?

Segundo a Academia Portuguesa de Letras, “CARALHO” é a palavra com que se denominava a pequena cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas, de onde os vigias perscrutavam o horizonte em busca de sinais de terra.
O CARALHO, dada a sua situação numa área de muita instabilidade (no alto do mastro) era onde se manifestava com maior intensidade o rolamento ou movimento lateral de um barco.
Também era considerado um lugar de “castigo”
para aqueles marinheiros que cometiam alguma infração a bordo.
O castigado era enviado para cumprir horas e até dias inteiros no CARALHO e quando descia ficava tão enjoado que se mantinha tranquilo por um bom par de dias. Daí surgiu a expressão:

“MANDAR PRO CARALHO”
Hoje em dia, CARALHO é a palavra que define toda a gama de sentimentos humanos e todos os estados de ânimo.
Ao apreciarmos algo de nosso agrado, costumamos dizer:

“ISTO É BOM PRA CARALHO”
Se alguém fala conosco e não entendemos, perguntamos:
Mas que CARALHO você está dizendo?
Se nos aborrecemos com alguém ou algo, o mandamos pro CARALHO.
Se algo não nos interessa dizemos: NÃO QUERO SABER NEM PELO CARALHO.
Se, pelo contrário, algo chama nossa atenção, então dizemos:

“ISSO ME INTERESSA PRA CARALHO”
Também são comuns as expressões: Essa mulher é boa pra CARALHO (definindo a beleza);
Essa dona é feia pra CARALHO(definindo a feiura);
Esse filme é velho pra CARALHO (definindo a idade);
Essa mulher mora longe pra CARALHO (definindo a distancia);
Enfim, não há nada que não se possa definir, explicar ou enfatizar sem juntar um “CARALHO”.
Se a forma de proceder de uma pessoa nos causa admiração dizemos:
 “ESSE CARA É DO CARALHO”
Se um comerciante está deprimido pela situação do seu negócio, exclama: “ESTAMOS INDO PRO CARALHO”.
Se encontramos um amigo que há muito não víamos, dizemos:
PORRA, POR ONDE CARALHO VOCÊ TEM ANDADO?
É por isso que lhe envio este cumprimento do CARALHO e espero que seu conteúdo o agrade pra CARALHO, desejando que as suas metas e objetivos se cumpram, e que a sua vida, agora e sempre, seja boa pra CARALHO.
A partir deste momento poderemos dizer “CARALHO”, ou mandar alguém pro “CARALHO” com um pouco mais de cultura e autoridade acadêmica…
 
“TENHAS UM DIA DO CARALHO”

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A LITERATURA NEGRA

Saída da revolta, da rebelião contra a situação de marginalidade à qual foi geralmente condenada, a literatura negra aparece como uma forma privilegiada de autoconhecimento e da reconstrução de uma imagem positiva do negro. O conceito de literatura negra emerge da própria característica dos signos que estão em um perpétuo movimento de rotação: os signos que nos exilam podem ser aqueles que nos constituem em nossa humana condição (cf. Octavio Paz, 1982). A aparição do que denominamos literatura negra está, pois ligada à compreensão desta rotatividade: um mesmo signo - negro - pode remeter à ideia de ofensa e de humilhação ou ser assumido com orgulho. A prática de um recentramento estético e cultural é a principal componente das literaturas negras, independentemente da língua através da qual se exprimem e do país de onde são originárias.
O fato de justapor um adjetivo à palavra literatura é sempre problemático na medida em que as etiquetas correspondem à necessidade de delimitar o conceito e circunscrever sua amplitude. Se as classificações fundadas na ideia de nação correm o risco de ser problemáticas, elas se tornam ainda mais nos casos onde a pertença a uma comunidade linguística ou étnica é mais significativa que a pertença a um país. Quando a classificação tem a ambição de dar conta do sexo (literatura feminina ou feminista) ou da raça (literatura judaica ou negra) dos escritores, as etiquetas correm o risco de tornarem-se heterofóbicas. Em estudos anteriores (Bernd, 1988), criticamos a definição de literatura negra associada à raça, ou simplesmente à cor da pele do autor. Tal classificação de tipo racial ou epidérmico é ideologicamente perigosa e cientificamente falsa.
Se as diversidades culturais não têm relação direta com as raças, é impossível, do ponto de vista científico, estabelecer relações entre uma determinada etnia e a produção de bens culturais. Não há, portanto, nenhuma correlação entre as características psicofísicas dos negros e as culturas por eles produzida. A hipótese de definir poesia negra pelo critério da cor da pele dos indivíduos foi portanto excluída de saída, dada a inexistência de fundamentos científicos que sustentem as correlações etnia/sensibilidade.
A segunda possibilidade seria escolher a temática como categoria para estabelecer o conceito de literatura negra. Este critério seria também uma armadilha na medida em que a figura do negro, como escravo ou como homem livre, emerge na literatura brasileira desde as primeiras manifestações literárias até as produções mais recentes. O critério temático não teria, pois funcionalidade: as contribuições de diferentes culturas africanas sincretizaram-se a tal ponto que qualquer tentativa de decantá-las seria totalmente supérflua.
Qual seria então a justificativa da apelação literatura negra? Contrariamente ao que se passa no Caribe onde os escritores protestam contra os asfixiantes prefixos tais como: “negro-africano”, “afro-americano”, no Brasil, a expressão literatura negra corresponde a uma reivindicação da parte de bom número de escritores afro-brasileiros que concebem a prática da escritura literária como um espaço propício à enunciação da reconstrução identitária, em crise após a destruição brutal representada por um longo período escravista.
Neste sentido, o único critério possível para conceituar uma escritura negra seria o critério discursivo: a emergência de um eu enunciador que se quer negro é o elemento-chave que singulariza as obras. O surgimento de um eu-enunciador que assume sua condição de negro e de brasileiro constitui um espécie de divisor de águas entre um discurso sobre o negro, que sempre existiu na literatura brasileira, e um discurso do negro que corresponderia ao desejo de renovar a representação convencional construída ao longo dos séculos, quase sempre carregada de preconceitos e de estereótipos.
A sabotagem da tradição, a inversão da ordem, de modo a alterar a situação que relegava a literatura ao espaço da sombra, orientaram sua trajetória cujo princípio fundamental não poderia ser outro que a reapropriação sistemática de um esquema referencial fundador que teria como consequência a delimitação de um novo território (Deleuze e Guattari, 1977). Será, portanto, sob o signo do marronnage cultural de que fala René Depestre que Calibã vinga-se de Próspero, inscrevendo no tecido poético os dispositivos de transformação ideológica da consciência individual. Esta consciência torna-se autônoma quando chega a libertar-se do discurso mistificador da dominação. Tal autonomia só estará, contudo, completa quando a poesia permitir pensar o mundo como aceitação da diferença e conseguir modificar o atual sistema de representação onde um é sempre o bárbaro do outro.
A importância da emergência do eu-enunciador que se quer negro não está apenas no fato de assinalar uma ruptura com o discurso social que negava os negros, mas também por marcar, de maneira definitiva, a tentativa de compreender o que significa ser negro nas Américas. Não sendo mais africanos, nem brancos, sentindo-se tratados como brasileiros de segunda classe, identificando-se apenas parcialmente com o cânone ocidental, praticando uma religião amplamente sincretizada, não restava outra saída aos descendentes de ex-escravos do que empreender - através da palavra poética - um lento processo de rememoração dos vestígios (la trace) de sua história e de resgate dos fragmentos de narrativas ancestrais para, a partir daí, iniciar o processo (inacabado) de redefinição identitária.
A preocupação de mostrar a cara, de convocar a comunidade para exorcizar seu complexo de inferioridade por ser negro, logo o exercício de afirmação individual e coletivo é, em nosso contexto, muito mais premente do que afirmar sua pertença à nação brasileira, como ocorre, por exemplo, com os poetas africanos lusófonos para os quais a urgência está em afirmar sua vinculação às nações que acabam de emergir autonomamente, após um longo período de passado colonial. Deste modo, raras vezes a preocupação com o nacional aflora na poesia negra brasileira, havendo preferentemente um sentimento de solidariedade para com os outros negros da América, um desejo de ultrapassar - em termos de identidade - as fronteiras do nacional.

Bibliografia:

BERND, Zilá. Literatura negra. In JOBIM, J.L., org. As palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. P. 267-276.

BERND, Zilá. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, 1988.

BERND, Zilá. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense, 1988.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. Kafka: pour une littérature mineure. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

PAZ, Octavio. O arco e a lira: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.

Zilá Bernd


O NEGRO NA LITERATURA

O negro na literatura brasileira: a necessidade de um novo paradigma de crítica social e literária

A história da África e seus habitantes, especialmente os que foram trazidos para o Brasil como escravos e seus descendentes, ou seja, todos nós, transformou-se, ainda que tardiamente, em componente curricular obrigatório. Talvez não a obrigatoriedade mas o privilégio de saber sobre o continente africano devesse nos impulsionar a descobrir mais sobre uma terra tão íntima e ao mesmo tempo estranha, próxima e distanciada.
Há mesmo quem chegue a pensar que a África é um país e não um continente. E normalmente esse país é pensado como um lugar onde habitam povos “primitivos” que vivem em tribos em meio à floresta cheia de animais selvagens. (ADINOLFI, 2005: p.1)
Estes e outros estereótipos encontram-se amplamente divulgados pelos meios de comunicação e pelo próprio sistema educacional, ainda representando extensões do pensamento europeu do final do século XIX, até então considerado científico, mas que veiculou informações menos científicas do que ideológicas sobre o continente africano, a fim de justificar o sistema de dominação colonial.
Forjou-se um conceito de raças humanas pressupondo uma hierarquia em cujo topo estava, evidentemente, o branco (caucasiano). Na base estariam os povos africanos e outros de pele escura, como os aborígenes australianos, vistos como “incapazes”, “preguiçosos”, “atrasados”, “selvagens” que só poderiam ser salvos pela ação da colonização europeia. (Idem, Ibdem)
O outro lado da moeda que estampa o africano incapaz e atrasado revela o branco superior e desenvolvido. A teia de conceitos confunde ciência com ideologia, individualidades com estereótipos, verdades com vontades, onde se tece uma outra forma de cativeiro: a escravidão simbólica que irá castigar incansavelmente a autoestima dos afrodescendentes.

O texto literário do século XIX, ansioso por configurar nossa identidade nacional, deixa escapar as contradições de uma sociedade que deseja acompanhar os modelos da modernização europeia, beneficiando-se ainda da herança nefasta da escravidão.(SCHWARZ, 1990) A literatura oficial brasileira, acompanhando o modelo social hierarquizado, teria desprestigiado as atuações das etnias diferenciadas até o início do século XX, à exceção de Lima Barreto e Solano Lopes que, mesmo assim, só bem mais tarde receberam algum reconhecimento. A representação dos negros na literatura ficaria restrita a alguns estereótipos, entre os quais, aqueles do negro dócil, castigado, submisso, ou, por outro lado, bestial, instintivo, carnal. Assim, ocorreu um processo que substituiu a invisibilidade por uma visibilidade estereotipada, que felizmente existiu para que pudesse ser desmentida, tal como aparece em Solano Trindade ao revelar o homem negro como um ser humano em sua complexidade, sujeito de uma escritura:

Eu tenho orgulho de ser filho de escravo...
Tronco, senzala, chicote,
Gritos, choros, gemidos,
Oh! que ritmos suaves,
Oh! Como essas coisas soam bem
nos meus ouvidos...
Eu tenho orgulho em ser filho de escravo.

No entanto, a literatura encontra-se povoada por estereótipos de todas as cores: desde o Gaúcho de Alencar, que cavalgava pelos pampas sem subjetividade, à donzela pálida e assexuada, passando pelo índio homenageado por bom comportamento, o português rústico, o sertanejo jeca ou o nordestino retirante. Quanto à representação do negro, identificam-se dois grupos de autores: um deles representando os personagens negros a partir de estereótipos que apenas reproduziriam o modelo social hierarquizante; e um outro que busca subverter essa representação. Porém, talvez seja impróprio compará-los e, principalmente, cobrar dos primeiros o amadurecimento de uma consciência étnica e crítica que se construiu a partir de um processo histórico e estético que apenas o segundo grupo vivenciou.
Então, podemos indagar: Quando os negros participam da produção literária em forma de estereótipo, não seria possível encontrar do outro lado dessa moeda desvalorizada o branco também preso ao seu próprio estereótipo? Ah! Mas aí seria um estereótipo positivo, já que o europeu seria representado como o Senhor, como aquele que segura o cabo do chicote. No entanto, se compreendemos essa representação como “positiva”, não estaríamos compartilhando o mesmo ideário, a mesma concepção eurocêntrica que preparou tais dicotomias? Será que a concepção da negritude é uma capacidade epitelial?
Talvez esse sentimento dependa menos da origem do que da capacidade de duvidar de verdades construídas para proteger interesses, ou da vontade de verdade ocidental, que engendrou conceitos como raça, pureza, desenvolvimento etc. (NIETZSCHE, 1992) No entanto, reproduzir a ideologia dominante não caracterizaria necessariamente uma literatura não-negra, mas uma literatura não-crítica. Mas isso é igualmente uma classificação imprópria, principalmente se levarmos em consideração que os silêncios do texto também significam algo; que nós podemos detectar o que foi silenciado, como detectamos o silenciamento dos personagens negros, de seu aprisionamento em estereótipos, do mesmo modo que podemos observar o sacrifício e o sofrimento de Peri e Iracema, por mais que Alencar desejasse afirmar a harmonia do encontro entre o colonizador e o índio, ou tapar o sol com a peneira, como diz o ditado popular.
Uma outra personagem feminina, desta vez não uma índia mas uma mulata, teria recebido um tratamento inadequado pelo poeta Gregório de Matos. É em relação ao tratamento dispensado à mulher que o poeta estabelece uma nítida distinção entre as raças. Assim, ele retrata a mulher branca como um ser angelical – anjo no nome, angélica na cara – para deixar patente a sua inacessibilidade como ser superior, enquanto a visão que projeta da mulher negra corre em direção contrária, de modo que o rebaixamento no seu tratamento contrasta com a divinização emprestada à mulher branca. Daí, enquanto Maria é definida como santa, anjo ou deusa, à personagem Jelu não seria dispensado tratamento semelhante, restando-lhe os atributos que pertenceriam ao “sórdido”, “impuro” ou “bestial”:

Jelu, vós sois rainha das mulatas.
E, sobretudo, vós sois rainha das putas.
Tendes o mando sobre as dissolutas
Que moram nas quitandas dessas gatas.

Assim, em contraste com a visão de amor platônico retratada no soneto que Gregório dedica a Maria, Jelu é transfigurada, sem a menor cerimônia, em gata dissoluta.(NASCIMENTO, 2006:p.59) Portanto, o poeta seiscentista ainda não transgride uma concepção de mundo baseada em dicotomias e hierarquias. No entanto, observando isso, poderíamos nos perguntar se tal paradigma classificativo é facilmente superável.
Afinal, quando um determinado paradigma de escolha nos incomoda – carnal em vez de espiritual, pureza em vez de luxúria, bestial em vez de humano, puta em vez de santa –, isso significa que ainda estamos operando nos termos de seu modelo dicotômico e hierarquizante, ou seja, que não superamos ainda a velha cartilha do pensamento ocidental que classificou os africanos como inferiores, incapazes e feios, enquanto ressaltava a inteligência, a beleza e a superioridade do europeu.
No fundo, o que efetivamente nos incomoda é a possibilidade de sermos identificados como pertencentes aos “impuros” ou “inferiores”, mas não propriamente a existência do modelo cultural que opera com dicotomias. Ora, pensando ou sentindo nesses termos, embora não conscientemente, o trabalho de crítica não está livre de reproduzir a mesma concepção de mundo daqueles que, antes de escravizarem os africanos, escravizaram os paradigmas de verdade e autoproclamaram-se modelos de excelência cultural, social ou racial.

por ROSÂNGELA BOYD DE CARVALHO